
Comecei a ficar preocupado quando as pessoas iniciaram, insistentemente, a me perguntar o que é que eu queria ser quando crescer. Como quando crescer se eu podia ser e já havia sido de tudo? Passei a entender que a brincadeira agora era mais séria e que as escolhas não eram mais tão simples. Isto ficou claro ao ter de decidir entre ser advogado, médico ou engenheiro. Não me lembro de outras opções na época, mas sei que demorou uma eternidade a decisão. Terminei usando o critério ilógico de exclusão que os colegas ofereceram: 1) se tem medo de sangue, não faça medicina; 2) se gosta de matemática, faça engenharia; 3) se nem 1) nem 2), faça advocacia. E resolvi ser engenheiro quando crescesse. A ironia é que nunca fui engenheiro na vida. Ainda hoje procuro o que ser quando crescer. Há alguns anos atrás me ocorreu até a suprema ousadia: eu quis ser filósofo! Dois ou três estudantes, eu não me lembro exatamente quais, me tiraram desse caminho.
Diante de tudo o que eu já quis ser estranho o fato de que eu nunca quis ser sueco. Razões não me faltaram para desejar ser sueco. Eu seria louro, alto, teria visto Vicente Feola dormindo assistindo o Brasil ser Campeão do Mundo de Futebol (“Didi, Pelé, Vavá, jogaram lá na Europa e a Copa veio pra cá”), poderia pagar meus altos impostos (embora sueco que fosse cobrasse o troco do governo), com todo o amor livre do mundo me casaria com a mais xuxa das xuxas, meus filhos seriam todos Björn Borg ou Liv Ullmann, premiaria anualmente com um bom dinheiro todos os avanços nas ciências e nas artes que fossem benéficos para a Humanidade e, de tanto não ter problemas, eu inventaria o tédio, mas não o suicídio e por razões religiosas. Portanto não me faltaram motivos ao longo da vida para desejar a cidadania sueca. Tive até Ingmar Bergman depois. Ele e qualquer um de seus filmes, desde aqueles que só os intelectuais assistem e gostam até Fanny & Alexander, poderiam facilmente ter me seqüestrado e eu seria o primeiro a possuir a Síndrome de Estocolmo. E eu nunca quis ser sueco! (...)
Estava na casa de um amigo quando colocaram um vídeo de um show. Apareceu então Gilberto Passos Gil Moreira, o Ministro da Cultura do Brasil, mas não para falar da cultura brasileira; ele estava ali para cantar, pois o Ministro da Cultura do Brasil é o famoso cantor Gilberto Gil. Ele ia cantar com uma dessas cantoras vocálicas que empestam tanto os carnavais tradicionais quanto os que se chamam de carnavais fora de época. Os dois iniciaram com alguns gritos tribais e partiram para a parte inteligível da letra: "Eu quero beijar a sua boca louca. Eu vou enfiar uva no céu da sua boca E aí chupa toda. Disse Toda. Chupa Toda". Na sexta vez que os dois repetiram o refrão percebi que a letra toda era apenas o que eu achava que era o refrão. Ao saber, alguém me observou na hora, que a letra seria uma metáfora erótica passei a prestar mais atenção e a acompanhar mais detidamente a coreografia do Ministro da Cultura do Brasil. Sei que nos shows brasileiros nada existe além dos batuques, das ancas, dos quadris, das bundas e dos ritmos frenéticos; eles são o próprio show. Mas no caso me impressionava a desenvoltura com a qual o Ministro da Cultura do Brasil corria para lá e para cá no palco a gritar: Eu vou enfiar uva no céu da sua boca ao responder ao apelo mais contido da cantora vocálica: Eu quero beijar a sua boca louca. Os dois aproximavam cada vez mais os rostos e o Ministro da Cultura do Brasil brandia seu microfone fálico quase que materializando o refrão da música. No zênite da apresentação, o Ministro da Cultura do Brasil e a sua parceira gritavam juntos de frente um para o outro, trocando as vozes e brandindo os microfones fálicos: "E aí chupa toda, Disse Toda, Chupa Toda". E repetiam não sei mais quantas vezes: "E aí chupa toda, Disse Toda, Chupa Toda". Nessa hora, observando o Ministro da Cultura do Brasil, confesso que pela primeira vez eu quis ser sueco.
Fonte: Diário da Áustria (Raul Neto, Ph. D.)
NOTA: Bem, se você pensa que algo melhorou depois da saída de Gilberto Gil, pense que ainda temos o ministro Carlos "Maconha" Minc, que não se faz de rogrado para sair em um trio elétrico, numa "marcha da maconha", cantando "Vou apertar, mas não vou acender agora...". Não sei o professor Raul... Mas eu não quero ser sueco, ou norteamericano, ou canadense ou alemão. Quero ser brasileiro e ter algum orgulho da minha terra. Está difícil... Bem, graças a Deus que, através de Cristo Jesus, torno-me (acima de qualquer cidadania terrena) um "cidadão dos céus de Deus", alguém que crê piamente numa outra existência, livre de qualquer dor, lamento ou maldição.
Hebreus 11:16: "Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade".
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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