Flew sempre descreveu a si mesmo como um “ateu negativo”, declarando que “proposições teológicas não podem ser ou verificadas ou falsificadas pela experiência”, uma posição que ele expôs em seu clássico Theology and Falsification [Teologia e Falsificação] (1950). Honrosamente, a mais citada publicação filosófica da segunda metade do século XX.
Ele argumentava que qualquer debate filosófico sobre Deus deve se dar com a pressuposição do ateísmo, deixando o ônus da prova para aqueles que acreditam que Deus existe. “Nós rejeitamos todos os sistemas sobrenaturais transcendentes, não porque nós examinamos exaustivamente cada um deles, mas porque não parece a nós existir qualquer boa evidência racional para postular alguma coisa atrás ou entre este universo natural”, ele disse. Uma chave principal de sua filosofia era o conceito socrático de “siga a evidência, para onde quer que ela conduza”.
Quando Flew revelou que havia chegado à conclusão de que afinal de contas Deus poderia existir, isto veio como uma bomba sobre seus seguidores ateístas, que há muito o consideravam como um de seus grandes representantes. Pior, ele parecia ter abandonado Platão por causa de Aristóteles, uma vez que foram duas das famosas “Cinco Vias” de Aquino para a existência de Deus – os argumentos do Desing e para o “Primeiro Motor” – que aparentemente encerraram a questão para Flew.
Após meses de busca espiritual, Flew concluiu que a pesquisa sobre o DNA “mostrou, em vista da complexidade quase inacreditável dos arranjos necessários para a produção de vida, que inteligência foi envolvida no processo”. Além disto, embora aceitasse a evolução darwiniana, ele sentiu que ela não podia explicar a origem da vida. “Fui convencido de que está simplesmente fora de questão a possibilidade de que a primeira matéria viva evoluiu de uma matéria morta e então se desenvolveu em uma criatura extraordinariamente complexa”, ele disse.
Flew então fez um vídeo sobre sua conversão, chamado Has Science Discovered God? [A Ciência Descobriu Deus?] e pareceu querer reparar seus erros passados: “Como as pessoas foram certamente influenciadas por mim, eu quero tentar corrigir o enorme dano que eu posso ter causado”, ele disse.
Mas os cristãos que estavam à espera de dar as boas vindas para o mais pródigo de todos os filhos pródigos ficaram decepcionados. A conversão de Flew não abraçou conceitos como o de Céu, bem e mal ou vida após a morte – e menos ainda intervenção divina nos assuntos humanos. Seu Deus era estritamente minimalista – muito diferente dos “monstros opressores orientais das religiões cristã e islâmica”, como ele gostava de chamá-los. Deus pode ter chamado sua criação à existência. Mas por que então ele se incomodaria? A esta questão, ao que parece, Flew não tinha resposta.
Antony Garrard Newton Flew nasceu em 11 de Fevereiro de 1923 e estudou na escola Kingswood, Bath. Seu pai, um ministro metodista, encorajou-o a tomar interesse sobre questões religiosas, mas ele perdeu qualquer fé religiosa que tinha aos 15 anos de idade. Os estudos de Flew foram interrompidos pela explosão da guerra, na qual ele serviu na RAF Intelligence e posteriormente na Aeronáutica. Em 1942-43 ele estudou japonês na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.
Após a guerra ele se concentrou em Filosofia, ganhando um concurso e depois uma bolsa para o Colégio St John’s, Oxford. Ele se graduou com louvor e conquistou um prêmio da Universidade em Filosofia – o John Locke Scholarship in Mental Philosophy – em 1948. No ano seguinte ele foi indicado professor em Filosofia na Christ Church.
Como graduado, Flew se entusiasmou com a nova abordagem da análise lingüística para a Filosofia proposta por JL Austin e Gilbert Ryle e foi considerado um dos seus maiores defensores. Em 1955 ele editou Logic and Languages [Lógica e Linguagem], um influente clássico que popularizou esta nova abordagem.
Logo ele começou a abordar esta nova técnica às questões religiosas e, com Alasdair MacIntyre, editou New Essays in Philosophical Theology [Novos Ensaios em Teologia Filosófica] (1955). Em seu estudo da religião, Flew foi grandemente influenciado por David Hume, sobre quem ele se tornou uma autoridade. Seu livro Hume’s Philosophy of Belief [A Filosofia da Crença, de Hume] (1961) se tornou o estudo referencial sobre o livro Inquiry Concerning Human Understanding [Investigação Sobre o Entendimento Humano], de Hume.
O interesse de Flew era prolífico e abrangente, e ele aplicou sua abordagem da análise lingüística em estudos de psicanálise, física, ética, dentre outros tópicos. Em Filosofia Política, Flew defendeu o liberalismo clássico contra as falácias do igualitarismo, argumentando que tanto o Socialismo como a Social Democracia são baseados em pressupostos sobre o mundo que são demonstradamente falsos.
Ele se tornou um forte crítico do filósofo de Havard John Rawls, que tentou conciliar liberdade e igualitarismo em seu aclamado pela crítica Theory of Justice [Teoria da Justiça]. Em Politics of Procrustes: Contradictions of Enforced Equality [Política de Procusto: Contradições da Igualdade Forçada] (1981), Flew rejeita a reivindicação de Rawls de que, uma vez que as pessoas não adquirem seus talentos naturais por meio do mérito moral, estes talentos estão então à disposição da “sociedade”. Qualidades morais, argumentou Flew, não são necessárias para nos permitir lucrar com nossas habilidades.
Em Sociology, Equality and Education [Sociologia, Igualdade e Educação] (1976), Flew atacou a influência maligna do igualitarismo ideológico na educação. Nos anos 1990 ele foi o autor de uma série de panfletos para o Instituto Adam Smith chamando o então governo conservador a retornar a uma seleção educacional, para aumentar a escolha dos pais, e a adotar um currículo mais desafiador para as crianças mais brilhantes.
Em 2002, se referindo à meta do governo trabalhista de conseguir mais filhos da classe trabalhadora na educação superior, ele observou que em 1969, quando o sistema de educação em gramática ainda funcionava, o ministro da educação Shirley Williams orgulhosamente alardeou que “cerca de 26% da população universitária e 35% dos estudantes de todas as instituições de ensino superior são de origem da classe trabalhadora”. Isto, ele apontou, era quase o dobro do resultado do segundo melhor país europeu, Suécia.
De Oxford, Flew começou a ensinar Filosofia Moral na Universidade de Aberdeeny antes de ser apontado Professor de Filosofia na Universidade de Keele em 1954. Em 1973 ele foi transferido para a Reading Universit, onde ele permaneceu até a reforma de 1982. Posteriormente, ele trabalhou meio tempo por três anos como Professor de Filosofia na Universidade de York, Toronto.
Flew escreveu 23 livros de Filosofia, incluindo God and Philosophy [Deus e Filosofia] (1966), Evolutionary Ethics [Ética Evolucionista] (1967), An Introduction to Western Philosophy [Uma Introdução à Filosofia Ocidental] (1971), The Presumption of Atheism [A Pressuposição do Ateísmo] (1976), A Rational Animal [Um Animal Racional] (1978), Darwinian Evolution [Evolução Darwiniana] (1984), Atheistic Humanism [Humanismo Ateísta] (1993) e Philosophical Essays of Antony Flew [Ensaios Filosóficos de Antony Flew] (1997).
A mudança de visão de Flew sobre a existência de Deus foi ainda mais notável dado o grande volume de seus escritos na causa ateísta e também sua negação veemente em relação aos rumores circulados na internet em 2001 de que ele havia renunciado ao ateísmo. Sua resposta na época foi entitulada Sorry To Disappoint, but I’m Still an Atheist! [Desculpe Por Desapontá-los, Mas Eu Ainda Sou Ateu]. Em 2007, entretanto, ele publicou There is a God: How the World’s Most Notorious Atheist Changed his Mind [Um ateu garante: Deus Existe, lançado no Brasil pela Editora Ediouro].
Por várias vezes ele foi vice-presidente da Rationalist Press Association, presidente da Voluntary Euthanasia Society e membro da Academy of Humanism. Em acréscimo a estes postos acadêmicos permanentes, ele ocupou várias cadeiras como professor visitante em universidades ao redor do mundo. Antony Flew se casou em 1952 com Annis Harty. E eles tiveram duas filhas.
Fonte: Apologia
NOTA: Só sinto por Antony Flew não ter tido tempo, digamos assim, de se aprofundar na investigação filosófico-teológica do teísmo cristão (ele parece ter morrido um deísta, isto é, alguém que crê em Deus, mas radicalmente transcendente, sem nenhuma ação direta na Criação). Ao menos, Flew reconheceu a força da proposta do Design Inteligente, uma bem orquestrada demosnstração científica da irredutibilidade de processos biológicos complexos demais para serem explicados pelo convencionalismo darwinista. O "segundo" Flew vai deixar saudades!
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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