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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Luiz Felipe Pondé fala sobre Antigo Testamento, Religião e Política, na FLIP

"POLÍTICA TOMOU LUGAR DA RELIGIÃO COMO FONTE DE ESPERANÇA", DIZ FILÓSOFO

“Política tomou lugar da religião como fonte de esperança”, diz filósofo
A Festa Literária Internacional de Paraty já se consolidou como um dos mais importantes eventos culturais do Brasil e sempre repercute na mídia. Durante uma palestra intitulada “Dez Mandamentos como Ética Contemporânea”, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé abordou nesta sexta (5) um assunto sempre polêmico: religião. A conversa ocorreu no terceiro dia do evento, na Casa Folha, espaço reservado em Paraty pela Folha de São Paulo. Mediado por Alcino Leite Neto, editor do selo Três Estrelas, o filósofo pernambucano que também é colunista do jornal paulistano analisou o impacto que as leis do Antigo Testamento tiveram na articulação da sociedade da época. Também discursou sobre a função política que as religiões exerceram desde suas origens.
“A esperança sempre foi uma virtude teologal, ou seja, algo que vinha de Deus. Hoje, a esperança é uma virtude política”, disse Pondé. Ao aludir à situação atual nas ruas de países como Brasil, Turquia e Egito, asseverou: “A relação com a política hoje é religiosa na raiz: a gente espera que a política conserte o mundo. A política está no lugar da religião”Pondé não é antirreligioso, na verdade já participou de eventos ao lado de lideres religiosos do Brasil e é considerado “um dos principais pesquisadores brasileiros da religião”, contudo sua abordagem não é teológica, mas aborda aspectos etico-filosóficos.
Ele acredita que a criação dos chamados mandamentos veterotestamentários, foi “um momento civilizacional” e que eles são “a tábua a partir da qual o povo vai construir seu comportamento, são vistos como a pedra filosofal a partir da qual o povo vai constituindo uma identidade. E isso através de regras, porque, sem regras, você não vive”. O palestrante elencou ainda sua admiração pelos livros poéticos e sapienciais do Velho Testamento (“Provérbios”, “Eclesiastes”, “Jó”, “Cânticos dos Cânticos”).  Questionou o público que lotou a Casa Folha: “A relação com o passado é importante, porque os ancestrais nos legaram uma herança. A grande questão é: o que nós vamos deixar de legado para as próximas gerações?”.
Ao analisar os ensinamentos do Novo Testamento, Pondé acredita que houve a introdução do conceito cristão, que poderia ser chamado de o 11º mandamento, “ama o teu próximo como a ti mesmo”. Para ele, “A introdução dessa variável do amor se torna um diferencial importante entre o cristianismo e o judaísmo. O cristianismo dá uma virada na imagem do Deus um tanto duro do judaísmo”. Aproveitou para anunciar que essa discussão sobre “o caráter contemporâneo dos dez mandamentos”, será tratada em seu próximo livro. Por fim, acrescentou: “Uma das vantagens que a gente aprende quando estuda religiões é que elas são entidades muito antigas, a literatura produzida é de uma sabedoria imensa sobre o ser humano. Como é muito antiga, essa literatura religiosa tem uma reflexão abissal sobre o ser humano.”
Como era de ser esperar, esse tipo de declaração gerou muitos comentários contrários e favoráveis nos círculos especializados. Não é comum que as Escrituras Sagradas sejam elogiadas nesse tipo de evento. Ademais, colocar a religião como uma resposta mais ao alcance das massas nesse momentos de turbulência em várias partes do mundo também é polêmico, pois se na Turquia a grande maioria da população quer afastar a politica dos aspectos religiosos, no Brasil vê-se uma enorme tensão, comprovada pelas manifestações contra Marco Feliciano e, mais recentemente, a chamada “cura gay”. 

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