Argumentações equivocadas contra o Pentecostalismo (e algumas respostas)
1 - "Se não houvesse Pentecostalismo não haveria Neopentecostalismo".
Resposta: Este é o típico argumento baseado no que chamamos de non sequitur (não se segue). Veja, como, analogamente, poderíamos fazer outras inferências erradas, tal como: "Se não houvesse Cristianismo, então não haveria ´Anti-Cristianismo´". Bem, não se engane pelo nome das coisas. Se suas essências são distintas, então estamos falando de coisas que são diferentes. Seu surgimento não se dá "necessariamente" por algo ´semelhante´ com nome ´semelhante´. O anticristianismo poderia ter surgido espontaneamente, com os mesmos preceitos, com outro nome... assim como o ´Neopentecostalismo´. Culpar o mar pelo tsunami que foi provocado por um terremoto é um erro crasso.
2 - "O Pentecostalismo diminui o papel soteriológico de Cristo, elevando a ação do Espírito Santo no mesmo".
Resposta: Sinceramente, nunca vi um único pentecostal em sã consciência confundir e muito menos "diminuir" o papel soteriológico de Cristo Jesus, ou "aumentar" o papel da atuação do Espírito Santo no processo salvífico.
A obra expiatória, vicária e portanto salvífica é consumada por Jesus. Mas o próprio Cristo nos deixa claro que o convencimento de tal obra é-nos feito pelo Espírito Santo. É ele (a quem Paulo também chama de "Senhor") que está responsável pelo processo de conversão e santificação do homem. Se não houver um equilíbrio quanto às nossas ações relativas aos papéis das pessoas da Trindade, então haverá um desequilíbrio em nossos cultos. E, aqui, refiro-me também aos casos em que há um desequilíbrio sim, mas na mísera ênfase dada ao papel do Espírito Santo por parte de muitas igrejas, as quais limitam-se a falar do Espírito parcamente (como no Credo Apostólico), sem levar em consideração que é esta Pessoa da Trindade quem age, atualmente, no seio da Igreja, inclusive lembrando-nos as palavras de Cristo quanto a si, ao Pai e ao próprio Espírito.
3 - "O Pentecostalismo é uma nova expressão de ´Montanismo´".
Resposta: De todas as acusações equivocadas contra os Pentecostais, esta é uma das que também perfila como uma das mais errôneas. O Montanismo foi um movimento cristão sectário do século II, que dava alta ênfase ao profetismo (vétero-testamentário), ao ascetismo e um modus vivendi que poderíamos chamar de "essianismo cristão", por causa do sectarismo Essênio judaico. Diametralmente oposto ao que mais representou o movimento montanista (i.e., seu sectarismo exclusivista), o Pentecostalismo tem como uma de suas principais marcas o inclusivismo, notoriamente visto a partir do fervor evangelístico-missionário que tem feito do Pentecostalismo a maior expressão do evangelicalismo atual. É fato que os pentecostais dão ênfase à experiência mística cristã (algo previsto e prescrito no Novo Testamento, diga-se de passagem), aceitando a contemporaneidade dos dons espirituais, inclusive a profecia, o falar em línguas, etc. Mas, daí a dizer que tais práticas aludem a um ressurgimento do Montanismo cristão do século II, equivale dizer que o futebol inglês é um "ressurgimento" do "jogo de pelota" maia, no qual times ficavam jogando com uma bola de borracha vulcanizada (isso mesmo!), com os cotovelos, joelhos e quadris (não podiam usar os pés), tentando fazer com que tal bola passasse por um pequeno orifício em uma estela presa a uma parede dentro do campo. É isso mesmo..... nada a ver.
4 - "O Pentecostalismo, apesar de seu crescimento quantitativo, não tem feito nenhum contribuição social".
Resposta: É por isso que devemos ter cuidado com generalizações. As milhões e milhões de famílias alcançadas pelo fervor evangelístico e missionário dos pentecostais, e que sofreram profundas mudanças em termos de harmonia, por causa da conversão de seus membros, testemunham o contrário. A mudança social é algo difícil, prezados. No ano 325 d.C., o Cristianismo era "maioria" no império romano, o que forçou o imperador Constantino não só a dar a devida atenção àquele movimento, outrora perseguido, como a presidir aquele que fora o primeiro concílio universal com um imperador romano presidindo-o. Veja a importância do Cristianismo no império romano já no início do século IV d.C.! Mas, a maioria cristã não foi garantia de uma Roma utópica, uma jóia celestial do céu na terra. Agostinho captou bem essa mensagem no seu aclamado "A Cidade de Deus" e, mesmo escrevendo numa Roma majoritariamente cristã, com imperadores cristãos, ele entendeu que o problema não era "Roma", ou "Antioquia", ou "Éfeso"... mas "a cidade dos homens" - que, no caso, era Roma, corrupta e com algumas das práticas que não podemos atribuir à qualquer tipo de cultura humana, mas à pecaminosidade humana. Infelizmente, se houvesse uma nação SÓ com cristãos evangélicos, pentecostais ou não, haveria (infelizmente) subornos, compadrio, politicagem, mentiras, etc. Pois a cidade de Deus só se realiza plenamente na Nova Jerusalém, no céu. O problema, contudo, é que a quela frase que acusa o Pentecostalismo, poderia ter sido aplicada aos países nos quais houve, mesmo que por um período de breves séculos, a hegemonia do pensamento reformado, por exemplo. Deixaram de ser corruptos? É claro que houve, em alguns locais, ondas de piedade cristã, os quais são dignos de nota... mas, o que houve com estes locais, estes países, outrora embevecidos e orgulhosos de seu passado reformado? Pelo que nos consta, alguns deles perfilam entre os países mais liberais, com práticas (institucionalizadas) mais anticristãs do mundo, inclusive com suas respectivas igrejas, nacionais ou não, todas ou quase todas oriundas diretamente da tradição reformada, com práticas apóstatas (como a aceitação de clérigos homossexuais, inclusive bispos!), o que têm causado divisão, ainda mais apatia e um sério desserviço ao Evangelho, tanto nos EUA quanto (principalmente) na Europa. O problema, prezados, é que ainda não se compreendeu que lutamos não contra sistemas estáticos, ou contra governos e instituições pontualmente anticristãs, mas com a pecaminosidade humana, cujos aspectos sorrateiros são de difícil compreensão e que parecem ter a desagradável característica de sempre "vencer" quaisquer tradições da Igreja (e de suas ramificações humanas). Tal problema só será plenamente vencido com o REINO DE CRISTO NA TERRA, algo pelo que precisamos clamar, nós cristãos, com mais afinco.
5 - "O Pentencostalismo produz muitas práticas estranhas, psicopatologias e outra excentricidades que afastam as pessoas do Evangelho".
Resposta: Este é um típico erro conceitual cometido pelos críticos do Penteostalismo, o qual procurarei explicar com analogias. Façamos um experimento mental. Imaginemos que a algumas pessoas lhes fosse pedido que dissessem uma parte do corpo que representasse o "ser humano físico". Penso que a esmagadora maioria diria partes visíveis, aquelas que estão diante dos nossos olhos quando vemos um ser humano: cabeça, mãos, pés, dedos, braços, pele, etc. Um grupo mais restrito talvez dissesse partes do corpo humano que não estão aparentes, como os órgãos: coração, fígado, baço, rins, pâncreas, pulmão, etc. E um contingente muito menor diria algo que está dentro destes órgãos, como: bílis, endorfinas, suco gástrico, fezes (cocô). Será que o cocô ilustra o ser humano da mesma forma que uma mão humana? Mas ambos fazem parte do corpo da mesma forma: a mão, como membro, e as fezes, como um excremento produzido por nossos intestinos. Agora imagine que uma raça de alienígenas chegassem à Terra numa época em que não houvesse mais humanos, nem registros tecnológicos de nossa existência. Imagine agora que essa raça de aliens encontrasse uma mão humana fossilizada. Eles teriam uma ideia muito melhor do ser humano (físico) do que se eles encontrassem cocô humano fossilizado. Se eles só prestassem atenção ao cocô humano, saberiam de "algo", mas seu conhecimento sobre os humanos seria muito parco, limitado. Estaria restrito à dieta e eventualmente alguma doença que aquela estranha raça que produzira aquele excremento tinha, quando existira. Mas, uma mão humana lhes daria, além disso, uma ideia de sua anatomia. Eles saberiam que pegávamos em objetos com determinada característica e outras coisas mais. Assim são os que taxam todo o movimento pentecostal atual: alguns, por seus traços mais aparentes, mais característicos, os quais, embora não possam definir o todo, dão uma melhor ideia do mesmo do que algo "interno", que apesar de também lhe ser relativo, não o representa da mesma maneira. A maior prova disso é que o cocô deve ser excretado, de tempos em tempos.
6 - "O Pentecostalismo é recente e por isso não representa a Igreja ou sua história".
Resposta: Se aplicarmos esse pensamento de forma irrestrita, a única instituição que representaria o Cristianismo, dada sua idade, seria o catolicismo romano, o que obviamente é um erro. Este argumento se vale pela questão do tempo e da produção intelectual, o que demonstra uma clara dissociação de noções. Por quê? Porque valeria, para ambos os casos, o argumento de que ICAR seria a melhor representante do Cristianismo na Terra. A Igreja de Cristo, embora tenha sempre vivido, existido, nem sempre existiu institucionalmente, é verdade. Mas, isso não quer dizer que sua autenticidade esteja no material produzido, monumentos construídos ou quaisquer coisas do tipo. Não creio, realmente, que o Pentecostalismo seja recente. O que são relativamente recentes, na verdade, são as instituições que se identificam com o Pentecostalismo. A Igreja começou "pentecostal" e permaneceu conforme o que aconteceu na festa de Pentecostes, em Jerusalém. Neste dois mil anos, muita coisa aconteceu com a Igreja, e creio que foi necessário um período de profunda reflexão para o retorno dos conceitos (bíblicos) que fizeram da Igreja realmente a Igreja. E isto se deu na Reforma. Mas, como era um próprio lema da Reforma, "Igreja reformada e sempre se reformando", percebemos que os reformadores, acuradamente, não tinham a pretensão de terem alcançado o máximo daquilo que a Igreja precisava, até porque havia desencontros conceituais (teológicos) entre os próprios reformadores. O processo natural do retorno conceitual aos preceitos cristãos começou na Reforma, mas não pode ficar restrito à Reforma, pois tem de dar frutos, e não é à toa que o movimento Pentecostal surge de igrejas, cujos desdobramentos históricos podem ser ligados, sim, aos grandes cismas do século XVI. Creio que uma busca mais profunda, mais espiritualmente intensa e expansiva era absolutamente natural e vemos isso como consequência natural ainda no século XIX, tendo no século XX a consolidação através de movimentos piedosos, que tinham sim seus defeitos, seus erros e/ou exageros, como quaisquer movimentos eclesiais em quaisquer períodos da História nestes dois mil anos de Cristianismo.
Conclusão
Creio firmemente, que está mais do que na hora de promovermos um diálogo amistoso, humilde e virtuosamente cristão entre os proponentes dos movimentos Pentecostal, Reformado, Neoreformado, Neoarminiano, enfim, genuinamente cristãos, para que seus confrontos de ideias se deem no campo do crescimento mútuo, da dialética, excetuando-se o máximo possível as armadilhas do pensamento, frutos da pecaminosidade humana, que se introjetam em nosso meio, aumentando o orgulho intelectual, espiritual e enfraquecendo-nos ao ponto de não percebermos de que o inimigo verdadeiro (falo não só do aspecto espiritual, mas ideológico, i.e., físico também) está às portas, nas ruas, nas praças, na mídia, nas universidades, na intelectualidade (burra) atual de um Ocidente decadente e que parece querer acabar desesperadamente com qualquer vestígio de cristianismo..... seja ele pentecostal, reformado (calvinista), arminiano, puritano, batista ad aeternum.
Um comentário:
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