Aos trinta e sete anos, posso dizer que minha vida deu muitas reviravoltas. Muitas coisas, de fato, marcam nossas vidas. Amor, competitividade, companheirismo, negligência, diligência, fervor, apatia, dinheiro ou a falta dele, e por ai vai. No meu caso, uma das coisas que mais me marcou foi a inveja. Sim. O nosso contexto é muito peculiar neste sentido. O Brasil é um dos poucos países pobres do mundo em que seus pobres ficam mais felizes com as derrotas alheias do que com as suas próprias vitórias. Desse modo, escancaramo-nos ante um mundo em mudança, como um povo unido, sendo na verdade uma massa disforme, em cujos ingredientes de formação não faltou a velha e desastrosa inveja. Não penso ser o felizardo de ser invejado sozinho. Sei que há muitos, como eu, que são mais invejados do que invejam. E a prova de que isto é verdade é o fato de que, neste exato momento, as mentes de vários dos que leem estas linhas pendem a desprezar-me, à pura e simples ignomínia, pois qualquer "despertar" de quem quer que seja mediante as minhas palavras, servir-lhes-ia como uma "afronta". Muitos que invejam, paradoxalmente, desprezam, pois esta é uma das principais características da esquizofrênica natureza do mal moral: a incoerência.
Aos trinta e sete anos posso dizer que percorri um caminho sinuoso, pontilhado de vitórias e derrotas. Mas, em momento algum, em todos esses anos, pude experimentar um aniversário do forma tão reflexiva. Pensando no que poderia ter sido e não foi, penso que, aquilo que não foi, não o foi por uma razão e, talvez, esteja me acostumando realmente agora em vivenciar aquelas "encruzilhadas" existenciais que a gente parece só conhecer de pregações, livros ou filmes: sempre com "os outros". A "encruzilhada" é uma boa metáfora para tais situações pois, para além das dificuldades, estão também as possibilidades... aos os que sabem ver. Posso não ter pego o melhor caminho, mas com certeza peguei um caminho de possibilidades. Estas possibilidades, incrivelmente, transformam-se em testemunhos, ao se concretizarem. E ninguém testemunha apenas para si. O testemunho silencioso das possibilidades que se concretizam, no meu caso, é e tem sido um processo de constante "afunilamento", de "estreitamento" do modo e da forma como caminho. Isto quer dizer que as possibilidades, apesar de potencializarem-se, têm como ponto em comum a experiência da total dependência de Deus, do seu direcionamento, do seu guiar, o que nem sempre é tão fácil assim. Numa "encruzilhada", normalmente aguçam-se os sentidos e a existência parece-nos mais viva do que nunca, pois sabemos que os passos em falso podem nos levar a prejuízos irreparáveis. À princípio, a coisa torna-se ainda mais angustiante quando se nos é dito, no profundo de nossas consciências, que na realidade não devemos dar passo algum: Deus mesmo brada silenciosamente no ouvido de nossa alma, dizendo: "O teu trabalho é descansar/confiar em mim".
"A inveja vem de dentro pra dizer
Que o que eu acho e o que eu faço é bem melhor do que o que
Você pode fazer....
Continua então na mesma"!
Um "brinde" a todos os que tinham certeza, talvez, de que este que vos fala hoje não teria nada para falar a ninguém. Àqueles que, involuntariamente, transformaram-se em coadjuvantes e/ou protagonistas no teatro que é a vida, exatamente no ato de minha vida. A cada dia, e não há dia melhor para falar sobre isto do que este dia, Deus transforma os corações daqueles com quem Ele tem planos, a se tornarem mais sensíveis, menos pesados, mais aguçados, mais adequados a ouvir a sua voz. Não é que antes Deus não tenha falado, o problema é que, algumas vezes, nossa própria voz não permite que ouçamos a de Deus. A todos os que tolamente tentam camuflar quaisquer vilezas, principalmente a inveja, com argúcia e astúcia paradoxais, ou, no caso, esquizofrênicas: pois com argúcia combatem a argúcia, impiedosamente clamam por piedade, escandalosamente bradam por discrição, levianamente combatem os que chamam de vis e astuciosamente repassam a imagem de não terem qualquer tipo de astúcia. Só a sequidão do que são ou serão suas vidas movidas pelo combustível degenerativo da inveja pode superar o ódio que sentem daqueles a quem Deus diz: "Tu/Vós és/sois meu(s) filho(s). Tenho cuidado de ti/vós".
E realmente Deus cuida. São trinta e sete anos experimentando de um indubitável cuidado de Deus; tão grande que possibilitou a escrita destas poucas e até certo ponto, indiscretas palavras. Mas, neste meu aniversário, como poderia não dizer:
"E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas,
Para que em mim habite o poder de Cristo.
Por isso sinto prazer nas fraquezas,
nas injúrias,
nas necessidades,
nas perseguições,
nas angústias por amor de Cristo.
Porque quando estou fraco então sou forte". 2 Coríntios 12:9-10.
Se você acha que Paulo realmente "sentia prazer" em injúrias, perseguições e angústias, ou seja, se você indiscriminadamente entende uma palavra como aquela literalmente, precisa voltar para o início deste texto, relendo-o mais uma vez e pedindo a Deus a luz do discernimento espiritual. Se tem alguém, na Bíblia, que não gosta de injustiças é Paulo, que exigiu que os magistrados de Éfeso, depois de terem mandado açoitá-los, a ele e a Silas, fossem pessoalmente pedir-lhes perdão pela injustiça... mediante a força que tinha a cidadania romana (At. 16:22-40). Paulo não tinha prazer em injustiça alguma, muito menos consigo. Paulo tinha prazer, de verdade, na boa consciência, na palavra do Espírito que guiava seu próprio espírito, dizendo-lhe: "Vai. Sê forte. Aniquila o teu "eu" e segue minha Palavra. Ergue-te, pois te curvas a mim, para que eu me glorifique em ti, e a ninguém mais. Fizeram-te de "calçada"... e na tua "fraqueza", far-lhe-ás degraus, pois ao desejarem ardentemente ascender e surgir perante os homens e na ânsia de se assenhorarem de um dom que não lhes foi dado, terminarão com sua própria loucura e morte, apontando à minha glória. Estás no caminho certo!".
Obrigado, Senhor Jesus, por este ano de vida.... e pelos que ainda virão. Livra-me do perigo de que os próximos, poucos ou muitos, não se tornem outra coisa senão numa sucessão de momentos que brilhem testemunhando a TUA glória.
Deus seja louvado!!
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