Meu objetivo neste micro estudo é apresentar a você os fundamentos da interpretação bíblica. Pelo que vi e vejo como docente, o maior problema da Igreja da atualidade é a paradoxal situação em que se encontra: Ao mesmo tempo em que vive na era da informação, nunca, ao que parece, desconheceu tanto. Contudo, reconheço que isto é culpa da forma como o "sistema" geral impõe às pessoas a informação: Cabe a cada um, quase que por si só, discernir o que lhe é conveniente, o que não é; o que é verdadeiro, o que não é. O que de fato facilitará a sua vida e o que não; o que serve para seu desenvolvimento, o que não serve. A seleção da informação, oportanto, é uma de minhas prioridades haja vista que tempo é o bem mais precioso, reconhecidamente... e ninguém pode "perder" tempo em uma época em que a informação caminha na velocidade da luz!! Portanto, vamos às informações importantes para o processo de interpretação das Escrituras Sagradas:
Hermenêutica é a "ciência da interpretação". Vem de Hermes, um deus mitológico grego que interpretava o que os "deuses" diziam e transmitia aos homens. A tarefa de interpretação dos textos, portanto, ficou conhecida como "Hermenêutica".
Regra Fundamental da Hermenêutica – A Bíblia se explica. Não se esqueça de que o objetivo maior da Hermenêutica é descobrir o que o autor quis dizer com o que ele disse.Regras Gerais de Hermenêutica
Regra 1 – “Tomar as palavras nos SEU SENTIDO USUAL E COMUM”. Observe o que a palavra quer dizer, quando normalmente não deveria ter sido usada. Ex.: “Casa” de Davi pode representar “descendência” de Davi.
Regra 2 – “Observar o sentido da palavra de acordo com o CONJUNTO DA FRASE”. Algumas palavras têm mais de um significado. É necessário, às vezes, observar o que diz a frase (isto é, o restante do versículo, ou versículos) para entendermos o que aquela palavra quer dizer. Cabe, aqui, dizer que contexto imediato é o que vem imediatamente antes e depois do versículo lido nas Escrituras.
Regra 3 – “Observe sempre o CONTEXTO”. Contexto de um versículo são “os textos anteriores e posteriores ao mesmo”. A leitura do contexto é sempre necessária, portanto, procure vê-lo. Ex.: Deus, na Bíblia, muitas vezes se refere a Israel como “Efraim” ou “Jacó”. Se a pessoa ler apressadamente, pensará que Deus está falando com Efraim, ou com Jacó, literalmente. Lendo o contexto, descobrir-se-á que Deus se refere a toda a nação de Israel.
Observe: "Mas o SENHOR fará vir sobre ti, sobre o teu povo e sobre a casa de teu pai, por intermédio do rei da Assíria, dias tais, quais nunca vieram, desde o dia em que Efraim se separou de Judá." - Neste caso, "Efraim" se refere à nação de Israel quando esta se separa de Judá (e Benjamim), no cisma acontecido em 932 a.C, quando 10 tribos formam o Reino de Israel e 2 tribos formam o Reino de Judá. A profecia de Isaías fazia parte de uma predição da ruína do Reino do Norte, conhecido como "Efraim", o segundo filho de José que recebe as bênçãos de primogenitura. Tal destruição acontece em 722 a.C.
Regra 4 – “Faça sempre que possível, PARALELOS DE PALAVRAS E DE IDÉIAS”. Busque textos correspondentes, que tragam PALAVRAS PRINCIPAIS, as quais você enumera, e vai, através da COMPARAÇÃO, descobrindo o sentido das palavras, e assim, do versículo inteiro. Exemplo: Jo. 3:5: “Água” (um termo para o qual é extremamente difícil uma interpretação precisa), por comparação com outros textos, muito provavelmente aplica-se à Palavra de Deus. (Vd. Ef. 5:24-26)
Figuras de Retórica (de Linguagem)
1 – Metáfora: Semelhança entre dois objetos (entenda-se também pessoas e objetos). Trazem características semelhantes, e, para isso, um é tido como o outro: "Eu sou a porta das ovelhas" (Jo. 10:7).
2 – Sinédoque: Quando tomamos a parte pelo todo, ou o todo pela parte. Ex.: “Minha carne repousará segura” (Sl. 16:9), o salmista quer dizer TODO o seu ser, logo ele tomou a parte (somente a carne) para tipificar o seu todo (todo o ser).
3 – Metonímia: A causa pelo efeito, o sinal ou símbolo pela realidade que indica o símbolo. Ex: “Eles têm Moisés e os profetas, ouçam-nos” (Lc. 16:29). Indicando que os homens têm OS ESCRITOS de Moisés e dos Profetas do Antigo Testamento.
4 – Prosopopéia: Quando se personificam coisas inanimadas, dando-lhes atributos humanos. Ex.: “Onde está, ó Morte, o teu aguilhão?” (1 Co. 15:55).
5 – Hipérbole: Exagero. Algo que foi exagerado em demasia. Ex.: “Edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus...” (Gn. 11:4).
6 – Alegoria: Várias metáforas reunidas. Ex.: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém dele comer, viverá eternamente. E o pão que darei ao mundo é a minha carne....” (Jo. 6:51-52). "Pão vivo", não era a carne de Jesus, mas suas palavras e vida. "Comer" não é no sentido literal, mas obedecer-lhe os mandamentos. Por isso que, no CONTEXTO, vemos os que o ouviam dizer: "Duro é este discurso. Quem o pode suportar?" (Jo. 6:60). Quando muitos deixam a Jesus, por não quererem obedecer-lhe os mandamentos, Jesus pergunta aos doze se eles queriam se retirar também. E Pedro responde: "Para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna." (Jo. 6:68). Observem que eu frisei os versículos para que se observe claramente o CONTEXTO, pois no mesmo, muitas vezes, estãos todos os indícios relevantes à interpretação da alegoria.
7 – Paradoxo: Declaração que, à princípio, opõem-se ao senso comum. Porém, quando analisada com cuidado, descobre-se que encerra verdades. Ex.: “Quem quiser salvar a sua vida, perde-la-á. Quem quiser perder a sua vida, por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á.” (Mc. 8:35). "Perder", no sentido do "mundo" atual. "Ganhar", no sentido da realidade futura. Paradoxos reais, contudo, são insolúveis. Quando uma situação é só aparentemente paradoxal, isto é, possui uma resposta, o paradoxo na verdade inexiste. Ex.: No paralelismo do Salmo 8:4, vemos as perguntas: "Que é o homem para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o visites?". Até aí, nenhum paradoxo. Porém, quando comparamos com 2 Coríntios 5:19, que diz: "...A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.", vê-se claramente um paradoxo. Se o homem não é coisa alguma para Deus, porque Deus tornar-se homem (em Cristo Jesus), morrer e com a sua morte (expiatória e substitutiva) reconciliar o homem para consigo mesmo? Este paradoxo é aparentemente insolúvel, mas, quando se compreende apologeticamente a forma como Deus criou o homem, a necessidade do conhecimento (do bem) e do mal e a imputação da justiça de Deus (infinita), observa-se um plano engenhoso, difícil de ser dirimido, mas não impossível através de uma teologia bíblica meticulosa.
8 – Gradação: Uma progressão ascendente ou descendente. Escala. Ex.: “Depois, havendo a concupiscência concebido dá à luz o pecado, e o pecado, sendo consumado, gera a morte” – gradação ascendente. (Tg. 1:15). “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo, e o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente irrepreensíveis para a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo” – gradação descendente.
9 – Tipo: São FATOS, OBJETOS OU PESSOAS do Antigo Testamento que simbolizam FATOS, OBJETOS OU PESSOAS do Novo Testamento. Ex.: A “serpente de metal” (objeto) que Moisés fez no deserto, e que foi levantada para que aqueles que haviam sido picados por víboras, ao olharem para ele, fossem curados, era um tipo de sua cruxificação (fato). Confira João 3:14. Paulo apresenta Adão (pessoa) como um tipo de Cristo (pessoa), pois Jesus é chamado de "segundo Adão" (Rm. 5:14). OBS.: ALGO DO ANTIGO TESTAMENTO só deve ser considerado tipo SE ESTIVER RATIFICADO NO NOVO TESTAMENTO.
10 – Símile: Similaridade. É parecida com a Metáfora, porém, na Símile utilizam-se as palavras “como”, “quanto” para indicar uma comparação. Ex: “Como os céus são mais altos do que a terra assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamtos”. (Is. 55:9-11). “O que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento”. (Tg. 1:6). Observe a diferença para uma Metáfora: “Pois ele conhece a nossa estrutura, e sabe que somos pó”. Se o texto contivesse: “Pois ele conhece a nossa estrutura, e sabe que somos como pó”, aí teríamos uma Símile.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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