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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Perigos de uma má interpretação bíblica

JESUS ERROU AO FALAR SOBRE A SUA SEGUNDA VINDA?


Por Artur Eduardo

Ilustração Gustav Doré


Desde cedo na caminhada cristã tenho percebido como é importante, no que se refere à interpretação bíblica, pararmos... mas, "pararmos" mesmo, e olharmos com um olhar investigativo e meticuloso sobre os textos em questão, inclusive os que contém muitos detalhes, pois de outra forma seremos contraproducentes na análise. Este é o problema, por exemplo, do mau entendimento da chamada "livre interpretação", apregoada por Lutero, e outros. Alguns entendem que a livre interpretação é sinônimo de interpretação irresponsável. E, por quê estou usando esta terminologia? Porque quando não nos valemos dos ferramentais necessários à interpretação bíblica, corremos o risco concreto de cometermos falácias, e algumas das quais com consequências irremediáveis, para alguns. Mas, isto é óbvio: Se a base de fé cristã está na Bíblia, e eu interpreto a Bíblia de uma forma particular, julgando-a (a forma) como cerreta, sem sequer o mínimo de acuidade interpretatitva, nem chegando a comparar minha forma de interpretação particular com outras que me circundam, corro o risco de destruir a minha própria fé, pois haverá questões "sem saída", ou outras que poderão me distanciar mais de Deus do que me afastar. Deus é essencialmente simples, e sua Palavra também. Mas, observe que falei essencialmente de propósito, pois os detalhes e particularidades de Deus e de sua Revelação podem ser extraordinariamente complexos, e aqueles que se aventuram a perscrutar seus pormenores precisam aprender a lidar com este fato.

Trabalhando com Apologética há algum tempo, confesso que me deparei com as mais estranhas e fascinantes questões que envolvem a interpretação bíblica. Desde as vociferações liberais às dúvidas, creio eu, sinceras de neo-pagâos que tentam olhar a Bíblia com um olhar místico e oculto. Dúvidas e asseverações de alguns cristãos católicos, que interpretam Lc 1:28 (palavras do anjo Gabriel a Maria) "Xaire kecharitômenê", como "Salve, (Maria) cheia de graça" (alguém que tem graça em si mesma), quando as duas palavras cuja raiz é "xaris", a primeira na voz ativa e a segunda na voz passiva, sinficando realmente "Alegra-te (voz ativa), favorecida (voz passiva)", indicando que Maria foi agraciada por Deus... e muito, e não tendo graça em si mesma; até outras asseverações de alguns grupos que se intitulam ´evangélicos´ e pregam, por exemplo, que Davi quando diz que nascera em pecado (Sl. 51:5) revela que era filho bastardo, fruto de uma união extraconjugal de sua mãe (?!?!?!?), dentre outas coisas mais... Tudo isto reforça a idéia de que precisamos de parâmetros para interpretar a Bíblia a fundo, e principalmente se a intenção é construirmos doutrinas e fundamentarmos nossa vida na Bíblia.

Recentemente, em um grupo de discussão na internet, uma determinada pessoa apresentou a seguinte questão: "Jesus e os apóstolos estavam errados quanto ao cumprimento das coisas mencionadas no sermão do Monte das Oliveiras durante aquela geração? Tudo que Cristo falou no sermão, pelo menos até o verso 34 se referia a eventos durante aquela geração, e não como se é pregado hoje, falando que serão futuros.". A questão gira em torno das declarações de Cristo sobre perguntas feitas pelos discípulos, em Mt. 24. Os três primeiros versículos deste capítulo são os seguintes:
"Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século.".
Após estas perguntas, Jesus inicia sua série de respostas, mas a questão apaprece, realmente, no final das respostas (vss 32-35):
"Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.".
O problema, pois, torna-se óbvio. E, mais ainda, se você ler todo os versículos 4 ao 31, que falam de sinais, poderes dos céus abalados, falsos cristos, etc. O que vem a seguir é parte da explicação que dei à pessoa, na lista de discussão. Exponho a argumentação aqui pois penso que o assunto, mais do que nunca, é de grande valia aos entusiastas... tanto dos que apaixonadamente querem e tentam defender a fé cristã, na difícil tarefa que é a apoogética, quanto aos que veementemente fazem o oposto: militam por uma desconsideração total das verdades bíblicas. Permita-me dizer que, não somente pela fé mas pela experiência também, o trabalho destes últimos em nada, nunca, tem logrado êxito.

Resposta à questão relativa ao que Jesus dissera acerca de sua volta
Jesus se refere no versículo 2 que não sobraria "pedra sobre pedra do templo". Em seguida, os discípulos perguntam, no plural, quando aconteceriam "tais coisas" (e aí há muita confusão, vou explicar) e qual "o" sinal da vinda de Jesus. Jesus, pois, começa respondendo a segunda pergunta, falando-lhes do"s" "sinais" que antecederiam a sua vinda. No versículo 36, FALANDO AINDA DOS SINAIS QUE ANTECEDERÃO A SUA VINDA, E DA VINDA EM SI, Jesus afirma que ninguém sabe sobre aquele dia, senão o Pai (afirmando claramente que o fator tempo seria um mistério). A expressão "tudo isto", do versículo 34, pode ser traduzido (paspas tautas) por "algo deste tipo" ou "coisas assim". Logo, quando Jesus fala, neste versículo, "Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que "paspas tautas ginomai" (algo deste tipo aconteça) ou algo destas coisas aconteçam, ele referia-se à destruição do templo, algo sobre o quê o os discípulos haviam perguntado no início, fato ocorrido no ano 70 d.C., ainda na geração dos dias de Jesus. Uma coisa, portanto, é a destruição do templo de Jerusalém. Outra é a data da sua vinda, e os eventos que antecederão a mesma. Em Lucas 21, o paralelo de Mateus 24, a história está melhor escrita, digamos assim. Lucas coloca a pergunta dos apóstolos, corretamente, no singular - "isto", para referir-se à destruição do templo de Jerusalém. (vs. 7). Os mesmos sinais são retratados, como em Mateus, com a particularidade de que Lucas registra algo peculiar, observe:

"20Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação.
21 Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela.
22 Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito.
23 Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo.
24 Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles.
25 Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas;
26 haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados.
27 Então, se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória.".

Aqui, portanto, temos a idéia mais clara de uma profecia de duplo cumprimento, como acontece em várias partes do AT e NT. O terror acontecido no sítio de Jerusalém, nos anos 69 e 70 d.C., com certeza absoluta, pré-figuravam eventos escatológicos que antecederão a vinda de Jesus Cristo. O sinal, portanto, no passado foi a destruição do Templo de Jerusalém, algo inconcebível à época, mas que concretizou-se, ficando como aviso às gerações cristãs futuras, para que permanecessem em vigilância. A expressão usada em Lc 21:32 também pode ser traduzida por "algo deste tipo" ou "algo assim" aconteça. Como bem diz Strong, (não interpretanto o versículo, mas no Léxico que leva o seu nome, traduzindo a palavra "paspas", nem sempre ´tudo´ ou ´todos´ são realmente ´tudo´ ou ´todos´, na Bíblia. (Ex. "todos o seguiam", "toda a Judéia".. não eram, obviamente, "todos" os homens que seguiam a Cristo, nem "toda" a Judéia que foi vê-lo). Além deisto tudo, há a ainda a interpretação que afirma que "esta geração" refere-se à geração do tempo do fim, e alguns a crêem que a geração bíblica gira em torno de 100 anos. Não deixa de ser uma interpretação plausível, mas menos provável do que as que expus. Por algum tempo, pensei ser esta segunda interpretação melhor do que a primeira.. mas, não há como ganhar da exegese.

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo

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