Por B. B. Warfield
"Nós, de fato, ouvimos com frequência que o grande perigo dos estudantes de Teologia reside precisamente em seu constante contato com o as coisas divinas. Isto pode vir a parecer-lhes comum, porque as coisas divinas se tornarão costumeiras. Como o homem ordinário (comum) respira o ar e se aquece na luz do Sol sem nunca pensar que é Deus em sua bondade que faz Seu Sol nascer sobre ele, embora seja mau, e que é Deus que envia a chuva sobre ele, embora ele seja injusto; assim vocês podem vir a cuidar talvez da mobília do santuário sem nunca pensar além do absoluto material terreno do qual ela é feita.
As palavras que falam da terrível majestade de Deus ou de sua bondade gloriosa podem vir a ser meras palavras para você - palavras hebraicas e gregas, com etmologias e flexões. Os raciocínios que estabelecem os mistérios das atividades salvadoras dEle podem vir a ser meros paradigmas lógicos para você, com premissas e conclusões, sem dúvida apropriadamente formuladas, e triunfantemente convincentes, porém sem maior significado que vá além de suas próprias conclusões lógicas e formais. Os passos imponentes de Deus no processo redentivo podem tornar-se para você uma mera série de fatos históricos, de curiosa interação de condições sociais e religiosas peculiares. Eles apontam talvez para questões que se tornam alvo de nossa sagaz conjectura, mas iguais a tantos outros fatos que ocorrem no tempo e em nossa percepção.
Esse contato constante é o grande perigo. Porém, esse é o grande perigo, apenas porque é também o grande privilégio. Considere esse grande privilégio: o seu maior perigo é que as grandes coisas da religião podem se tornar comuns para você! Outros homens, oprimidos pelas condições duras da vida, mergulhados na luta diária por pão, talvez desnorteados em todo caso pelo tremendo peso do mundo sobre si e a terrível roda viva do trabalho secular, acham difícil conseguir tempo e oportunidade para parar e considerar se existem coisas tais como Deus, religião e salvação do pecado que os regem e os mantêm cativos. E essas coisas são a própria atmosfera da vida de vocês; vocês as respiram por todos os poros; elas os rodeiam, os circundam, os pressionam pro todos os lados. Tudo isso enquanto representam perigo no tornar-se comum para vocês! Deus os perdoe, vocês estão em perigo de tornarem-se fartos de Deus!Vocês sabem que perigo é este? Ou melhor, deixem-me colocar a questão de outra forma: Vocês estão cientes de quais são os seus privilégios? Vocês estão fazendo pleno uso deles? Vocês estão, através do constante contato com as coisas divinas, crescendo em santidade, tornando-se cada dia mais e mais homens de Deus? Se não, vocês estão endurecendo! E eu estou aqui hoje para adverti-los a tomar seriamente seus estudos teológicos, não meramente como um dever, mas feitos para Deus. Não meramente como um dever possuidor de um caráter divino, mas como um exercício espiritual, carregado em si mesmo de bênçãos espirituais para vocês; apropriado por sua própria natureza para encher suas mentes e coração e alma e vida com pensamentos divinos e sentimentos e aspirações e realizações.
Vocês nunca irão prosperar em sua vida espiritual no Seminário Teológico até o dia em que o trabalho de vocês, no Seminário, se torne um exercício espiritual, do qual vocês, a cada dia, obtêm engrandecimento do coração, elevação de espírito, e deleite na adoração de seu Criador e seu Salvador!"
WARFIELD, B. B., "A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia", Os Puritanos, 1999, São Paulo (SP). Pgs. 17-19.
Nota: Benjamim Breckinridge Warfield (1851-1921) foi um dos maiores teólogos acadêmicos de todos os tempos. Graduou-se em Princeton (Teologia), lugar aonde ensinou Teologia Sistemática. Sucedeu Archibald Alexander Hodge, como professo, filho do também professor e célebre teólogo Charles Hodge. Escreveu várias obras sobre a fé reformada (calvinista), sobre a teologia agostiniana e sobre a Confissão de Fé de Westminster. Suas obras ainda hoje permanecem vivas, referências entre os cristãos conservadores.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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