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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Entrevista com o Pr. Augustus Nicodemus sobre seu novo livro

AUTOR DO LIVRO "O QUE ESTÃO FAZENDO COM A IGREJA" FALA DAS MOTIVAÇÕES QUE O LEVARAM A PUBLICÁ-LO E AS IMPLICAÇÕES QUE POSSIVELMENTE A OBRA TERÁ



Entrevista com Augustus Nicodemus para a revista Seu Mundo, da Editora Mundo Cristão sobre o livro "O que estão fazendo com a igreja", de sua autoria, que será lançada em agosto pela Mundo Cristão. O livro é uma coletânea de posts publicados por Augustus no blog "O Tempora, O Mores".


MC - "O que estão fazendo com a igreja" é um compêndio de diversos textos escritos ao longo dos últimos anos. Assim sendo, como foi o processo de escolher aqueles que comporiam o livro?

AN - Escolhi usando alguns critérios. Primeiro, a relevância para a situação da igreja evangélica no Brasil. Segundo, pela abrangência. Eu queria um livro com textos que tocassem nos principais segmentos da igreja brasileira. E por fim, escolhi aqueles que provocaram um número maior de respostas e participação no site da Internet onde foram publicados.

MC - Qual foi o objetivo principal por detrás da publicação de uma obra potencialmente tão controversa?

AN - Exatamente provocar a reflexão por parte dos evangélicos brasileiros sobre o estado atual da igreja, que considero alarmante. Ao mesmo tempo, identificar as causas por detrás dessa situação e defender que a manutenção da fé histórica da igreja de Cristo teria evitado que chegássemos a esse ponto.

MC - O livro trata bastante da delimitação de crescentes falhas nas igrejas brasileiras. Quais seriam as principais destas falhas?

AN - A ressurreição do liberalismo teológico nas instituições teológicas de ensino, a adoção de práticas místicas e supersticiosas no culto a Deus, o aparecimento de uma liderança auto-intitulada que usurpa poderes apostólicos e o abandono crescente do conceito de verdade absoluta em troca da aceitação do conceito de que a verdade sempre é relativa. No outro lado do espectro, encontramos a incapacidade dos conservadores e das igrejas históricas de fazerem suas igrejas crescer no ritmo compatível com o tamanho do Brasil.

MC - Podemos sintetizar essas carências a uma causa maior?

AN - No fundo, quase tudo isso é causado pelo abandono das antigas doutrinas e crenças do Cristianismo histórico, a começar pelo conceito da autoridade das Escrituras e sua suficiência e exclusividade em matérias de fé e prática. Na hora que os evangélicos passaram a adotar também como fonte de autoridade as experiências pessoais, revelações, visões, e a chamada ciência bíblica (Aqui, o Pr. Augustus refere-se às ´Ciências Bíblicas´ que foram base para o construcionismo teológico liberal, como as famosas ´Críticas Bíblicas´. Grifo nosso), perderam o referencial das Escrituras e abriram as portas da igreja brasileira para a entrada, sem crítica e sem análise, de toda sorte de ensinamentos e práticas, bem como para oportunistas que vêem o pastorado e a igreja como negócio e meio de vida.

MC - O que estão fazendo com a igreja trata bastante da esmorecida credibilidade da igreja brasileira, algo que seria um sinal da sua iminente ruína. A ação de certas partes da igreja realmente pode afetá-la assim tão profundamente, como um todo?

AN - Não creio que a igreja de Cristo esteja próxima da ruína. As palavras de Jesus em Mateus 16 nos garantem a sua continuidade. O que acredito que está em profunda crise é a igreja evangélica brasileira. Aquilo que os meios de comunicação e a mídia em geral identificam como sendo os “evangélicos” e que representam, de longe, a maior parte dos protestantes no Brasil, está ficando cada vez mais distante do cristianismo bíblico.

MC - O livro procura não só delinear, como também agrupar as doutrinas de liberais, neo-ortodoxos, libertinos e neo-pentecostais, em uma “esquerda teológica”. Qual é a idéia por trás deste agrupamento?

AN - Esses grupos, embora distintos, defendem algumas coisas em comum na área da sexualidade humana e da ética, como a homossexualidade e o aborto – que são também pontos da agenda da esquerda política no Brasil. Também se caracterizam pela defesa da relativização dos conceitos, inclusive teológicos. Todavia, como eu mesmo disse na introdução ao livro, não estou certo se “esquerda teológica” é um bom nome para caracterizar esses grupos.

MC - Muitos diriam que as novas tendências do pensamento teológico estão reforçando a igreja, expandindo-a de uma maneira nunca antes vista. O que estão fazendo com a igreja discorda. Por quê?

AN - Porque não se pode pensar em reforço da igreja quando instituições de ensino teológico, teólogos e pastores adotam a mesma teologia e os mesmos métodos liberais de interpretação da Bíblia que fecharam as igrejas da Europa. Se fecharam as igrejas da Europa, o que os faz pensar que não farão o mesmo aqui? Além disso, passando para o campo neo-pentecostal (já que liberais nunca fizeram a igreja crescer mesmo), lembro que expansão não é necessariamente sinal de saúde e vitalidade espiritual. Existe crescimento e inchaço. O primeiro é fruto da pregação, ensino e divulgação das verdades bíblicas. É aquele crescimento encontrado no livro de Atos, onde é freqüentemente igualado ao crescimento da Palavra (Atos 6:7; 12:24; 19:20). É o aumento da igreja mediante a conversão genuína de pessoas que acolheram a Jesus Cristo como único Senhor e Salvador, tendo reconhecido seu próprio estado de perdição e culpa. Já o inchaço, é um acréscimo de pessoas que vieram às igrejas por outros motivos, como receber uma bênção material, serem curadas, ter um emprego, resolver um problema amoroso, acabar com o azar na vida delas, serem libertas, etc. Multidões assim lotam as igrejas evangélicas todos os dias. Todavia, quase nunca são confrontadas com seu estado de pecado e rebelião contra Deus, quase nunca ouvem falar da necessidade de arrependimento e mudança de vida para terem a vida eterna, e raramente ouvem que a salvação e o perdão de pecados é pela graça, mediante a fé, sem as obras da lei e sem quaisquer outros sacrifícios. O que se tem hoje é uma religião das obras, dos sacrifícios, onde a graça é esquecida.

MC - Afinal, o que está acontecendo com a igreja?

AN - Esse é o ponto do meu livro: estão em operação dentro da igreja de hoje forças poderosas que a encaminham para uma descaracterização radical como igreja evangélica. Em muitos casos ela está revertendo a uma situação semelhante ao misticismo medieval e do catolicismo romano, do qual a igreja evangélica já se achava liberta. Algo muito parecido com o que Paulo Romeiro e outros vêm alertando há décadas. Meu livro se junta a essas vozes numa tentativa de contribuir para uma reflexão nossa sobre o assunto.

Fonte: O Tempora, O Mores!


NOTA: Não sou daqueles que gostam de ficar falando da Igreja, por falar. Penso que a Igreja é, de fato, o que a Bíblia diz que ela é, "coluna e baluarte da verdade" (1 Tm. 3:15). Contudo, eventualmente, precisamos de momentos sérios de reflexão. O fenômeno relativista, contudo, é algo comum à religiosidade atual, como um todo. O problema é que, muitas vezes, e até desapercebidamente, estamos querendo tomar para nós os auspícios de "religião", o que não condiz com o papel primordial da Igreja, pois não somos ´mais uma´ religião. O proóprio conceito de religião perde-se dianta do conceito bíblico de Igreja, pois propagamos que não há meios de o homem ir a Deus, somente Deus vai até o homem, e o salva. O problema são os caminhos pelos quais a Igreja tem trilhado para existir como deve existir e pregar a mensagem que deve pregar. Estes ´meios´e ´formas´, que erroneamente acabam virando dogmas e preceitos fazem com que incorramos no mesmo erro dos fariseus, que alimentavam as almas do povo, à sua época, com doutrinas de homens, sem quaisquer valores para uma verdadeira espiritualidade. Isto, sem falar dos que mercadejam a fé. Entretanto, pela entrevista dada pelo Pr. Augustus, pude ver que ele parece não tratar no livro de outro problema gravíssimo pelo qual tem passado a Igreja: Muitas pessoas que decidem, arbitrariamente, quais os valores adotam para si como éticos e/ ou espirituais. Esta leva de ´pastores de si mesmos´, como costumo chamar, são o reflexo de um problema grande, um tanto quanto mal percebido pela liderança cristã, atual. Há um arrefecimento da fé inversamente proporcional a um advento da consciência de espiritualidade. Revistas cristãs e seculares têm cada vez mais mencionado que o evangelicalismo ocidental tem sofrido com práticas divergentes, algumas até fruto de uma ética heterodoxa à Bíblia. Esta paradigmização do "eu", como referência à moral, é duplamente falha: Muitas vezes consitui-se até como uma rebeldia aberta a Deus e motivo de escândalo aos cristãos que não admitem uma forma tão anti-bíblica de existência auto-intitulada cristã.

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo

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