Adaptação e comentários por Artur Eduardo
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“Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.”. Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?
Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: “O capitalismo em convulsão.” Há muito tempo não lia um título como esse no FT. Agora, acredito que esta crise
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Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora. ...
O senhor ... estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?
Nos anos 30, o claro efeito político da "Grande Depressão" a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo. Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece. A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.
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Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente. Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias. Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.
O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?
Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises.” Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante. ...
Fonte: Estadão
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"UMA BREVE LIÇÃO DE SOCIOLOGIA"
Émile Durkheim, o fundador da sociologia, ensinava que há um limite para a quota de anormalidade que a mente coletiva é capaz de perceber. Pode-se compreender isso em dois sentidos, simultâneos ou alternados:
I - Quando os padrões descem abaixo do limite, a sociedade automaticamente ajusta o seu foco de percepção para achar normal o que antes lhe parecia anormal, para aceitar como banal, corriqueiro e até desejável o que antes a assustava como inusitado e escandaloso.
II - Quando a anormalidade é excessiva, transcendendo os limites da quota admissível, ela tende a passar despercebida ou a ser simplesmente negada: o intolerável transfigura-se em inexistente.
Embora dificilmente corresponda a quantidades mensuráveis, a “constante de Durkheim”, como veio a ser chamada, revelou-se um instrumento analítico eficiente, sobretudo nos momentos de aceleração histórica, em que várias mudanças de padrão se sucedem e se encavalam no prazo de uma só geração, podendo ser observadas, digamos assim, com os olhos da cara.
Daniel Patrick Moynihan, Robert Bork e Charles Krauthammer empregaram-na inteligentemente para a explicação das vertiginosas transformações da moralidade americana desde os anos 60. Bork escrevia em 1996:
“É altamente improvável que uma economia vigorosa possa ser sustentada por um ambiente de cultura enfraquecida, hedonística, particularmente quando essa cultura distorce os incentivos, rejeitando as realizações pessoais como critério para a distribuição de recompensas”.
Doze anos depois, a idéia de que os empréstimos bancários não são um negócio entre partes responsáveis e sim um direito universal indiscriminado, garantido pelo governo e pela pressão das ONGs ativistas, deu no que deu. O fato de que os criadores do problema não se sintam nem um pouco responsáveis por ele, mas prefiram lançar a culpa justamente nos que tudo fizeram para evitá-lo, ilustra bem a descida do nível de exigência moral que veio junto com a queda do padrão de exigência para os tomadores de empréstimos.Porém o mais interessante não é a aplicação do princípio para fins explicativos, e sim a sua utilização prática como arma política. Há mais de um século todos os movimentos interessados em impor modificações socioculturais contra as preferências da maioria evitam bater de frente com a opinião pública: tentam ludibriá-la por meio do uso astuto da “constante de Durkheim”, que todo ativista revolucionário de certo gabarito conhece de cor e salteado.
No sentido "I", o princípio é aplicado por meio da pressão suave e contínua, rebaixando cuidadosamente, lentamente, progressivamente os níveis de exigência, primeiro no imaginário popular, por meio das artes e espetáculos, depois na esfera das idéias e dos valores educacionais, em seguida no campo do ativismo aberto que proclama as novidades mais aberrantes como direitos sagrados e por fim na esfera das leis, criminalizando os adversos e recalcitrantes, se ainda restarem alguns. Com uma constância quase infalível, nota-se que os autoproclamados conservadores se amoldam passivamente – às vezes confortavelmente – à mudança, sem perceber que sua nova identidade foi vestida neles desde fora como uma camisa-de-força por aqueles que mais os odeiam.
Na acepção "II", a “constante de Durkheim” é usada para virar a sociedade de cabeça para baixo, da noite para o dia, sem encontrar qualquer resistência, por meio de mentiras e blefes tão colossais que a população instintivamente se recuse a acreditar que há algo de real por trás deles. As próprias vítimas do engodo reagem com veemência a qualquer tentativa de denunciá-lo, pois sentem que admitir a realidade da coisa seria uma humilhante confissão de idiotice. Para não sentir que foi feito de idiota, um povo aceita ser feito de idiota sem sentir, confirmando o velho ditado judeu: “O idiota não sente”. Foi assim que se montou na América Latina a maior organização revolucionária da história continental, o Foro de São Paulo, num ambiente em que todas as denúncias a respeito, por mais respaldadas em documentos e provas, eram ridicularizadas como sinais de loucura. E é assim que agora se está impingindo aos EUA um presidente sem nacionalidade comprovada (Barack Obama, grifo nosso), financiado por ladrões e associado por mil compromissos a grupos de terroristas e genocidas, enquanto seu próprio adversário maior o proclama “um homem decente, do qual não há nada a temer”.
NOTA: Afirmar que a esquerda está "virtualmente ausente", e que a atual crise mundial "fortalece a direita" é, penso eu, brincar conosco. Isto é de uma insensatez tão desmedida que, pelo quilate de Eric Robsbawn só posso pensar que são palavras premeditadas. É exatamente o que denuncia o Olavo de Carvalho: Um processo sutil, penoso, constante e ininterrupto do arrefecimento dos valores conservadores. A ´direita´ brasileira (que não consegue ser sequer uma social-democracia, como nos moldes europeus) não somente assiste inerte como é conivente com o coro dos mais extremados em afirmar que o colapso financeiro atual, que começou com a crise das hipotecas nos Estados Unidos, é "culpa do capitalismo". Em seu ensaio, Olavo denuncia que o plano era essencialmente ´democrata´. De fato, os empréstimos não pagos que faliram o sistema de hipotecas estadunidense começaram no governo Clinton. Contudo, os conservadores continuaram sem muitos esforços e a chamada ´bolha´ estourou no governo Bush. Instantanea e curiosamente, Marx parece ´despertar da tumba´ como a intelectualidade referêncial (e observe bem), até tido como ´moderado´. Claro, admitir o socialismo é impossível com o nível de liberdade (econômica) atingido no Ocidente. A ´solução´ é um sistema híbrido, uma (para usar as palavras do sociólogo britânico) ´mescla´. Esta mistura será caracterizada pela estatização de boa parte dos fundos (inclusive os de crédito) e, assim, o controle de boa parte dos padrões porque, como havia dito, o paradigma modelador de nossa sociedade é a economia. Sua influência está mais presente do que imaginamos, ao ponto de ser reconhecida como uma força incomensuravelmente maior do que a religiosa (observe as alianças feitas: Chávez diz que Bush é ´batedor de carteiras´mas vende cerca de 95% da produção venezuelana de petróleo para os EUA). A rigidez do controle só tenderá a aumentar, pois ninguém, nenhum país ou instituição que trabalhe com finanças que passar por qualquer crise novamente. Para que tal controle deixe os bancos e os acessos à Internet e se mude para os meios de comunicação (jornais, revistas, tv) e se insurja como norteador de um padrão fora do qual será considerado ´risco´, é rápido. Assim, esperemos para breve um futuro altamente controlado, como o previsto por Orson Wells no filme "1984".
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