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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Que falem os teóricos sociais e políticos...

´UM DOS HISTORIADORES MAIS INFLUENTES DO SÉCULO XX´, O MARXISTA ERIC HOBSBAWM, FALA SOBRE ´O PERIGO DO FORTALECIMENTO DA DIREITA´ E A INCERTEZA DO QUE ESTÁ POR VIR, EM TERMOS DE ECONOMIA. ABAIXO, OLAVO DE CARVALHO DÁ ´UMA BREVE LIÇÃO DE SOCIOLOGIA´



Adaptação e comentários por Artur Eduardo


O britânico Eric Hobsbawm (foto), considerado um dos historiadores mais influentes do século 20, disse à BBC nesta terça-feira que o maior perigo da atual crise financeira mundial é o fortalecimento da direita. “A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4. O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética” e ao fim de “uma era específica”.

“Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.”. Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?
Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: “O capitalismo em convulsão.” Há muito tempo não lia um título como esse no FT. Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram. Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização – que está implícita no capitalismo –, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises. E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek. Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante.

Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora. ...

O senhor ... estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?
Nos anos 30, o claro efeito político da "Grande Depressão" a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo. Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece. A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.

O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?
Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente. Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias. Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.

O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?
Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises.” Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante. ...

Fonte: Estadão

"Espectro Político", extraído do blog ´O Capitalista´. Para efeitos pragmáticos, a ´direita´ verdadeiramente ´direita´ oferece um panorama melhor no aspecto ´liberdade´ de um modo geral. Se o paradigma sobre o qual as instituições governamentais se baseiam para um gerência (e ingerência) maior da sociedade é a economia, menos liberdade econômica resultará, inevitavelmente, e, menos liberdade de um modo geral. Esta associação ainda não está sendo feita de forma clara, mas uns já percebem os embriões deste ´sistema misto´ na social-democracia que varre a Europa, atualmente.

"UMA BREVE LIÇÃO DE SOCIOLOGIA"

Émile Durkheim, o fundador da sociologia, ensinava que há um limite para a quota de anormalidade que a mente coletiva é capaz de perceber. Pode-se compreender isso em dois sentidos, simultâneos ou alternados:

I - Quando os padrões descem abaixo do limite, a sociedade automaticamente ajusta o seu foco de percepção para achar normal o que antes lhe parecia anormal, para aceitar como banal, corriqueiro e até desejável o que antes a assustava como inusitado e escandaloso.

II - Quando a anormalidade é excessiva, transcendendo os limites da quota admissível, ela tende a passar despercebida ou a ser simplesmente negada: o intolerável transfigura-se em inexistente.

Embora dificilmente corresponda a quantidades mensuráveis, a “constante de Durkheim”, como veio a ser chamada, revelou-se um instrumento analítico eficiente, sobretudo nos momentos de aceleração histórica, em que várias mudanças de padrão se sucedem e se encavalam no prazo de uma só geração, podendo ser observadas, digamos assim, com os olhos da cara.

Daniel Patrick Moynihan, Robert Bork e Charles Krauthammer empregaram-na inteligentemente para a explicação das vertiginosas transformações da moralidade americana desde os anos 60. Bork escrevia em 1996:

É altamente improvável que uma economia vigorosa possa ser sustentada por um ambiente de cultura enfraquecida, hedonística, particularmente quando essa cultura distorce os incentivos, rejeitando as realizações pessoais como critério para a distribuição de recompensas”.

Doze anos depois, a idéia de que os empréstimos bancários não são um negócio entre partes responsáveis e sim um direito universal indiscriminado, garantido pelo governo e pela pressão das ONGs ativistas, deu no que deu. O fato de que os criadores do problema não se sintam nem um pouco responsáveis por ele, mas prefiram lançar a culpa justamente nos que tudo fizeram para evitá-lo, ilustra bem a descida do nível de exigência moral que veio junto com a queda do padrão de exigência para os tomadores de empréstimos.

Porém o mais interessante não é a aplicação do princípio para fins explicativos, e sim a sua utilização prática como arma política. Há mais de um século todos os movimentos interessados em impor modificações socioculturais contra as preferências da maioria evitam bater de frente com a opinião pública: tentam ludibriá-la por meio do uso astuto da “constante de Durkheim”, que todo ativista revolucionário de certo gabarito conhece de cor e salteado.

No sentido "I", o princípio é aplicado por meio da pressão suave e contínua, rebaixando cuidadosamente, lentamente, progressivamente os níveis de exigência, primeiro no imaginário popular, por meio das artes e espetáculos, depois na esfera das idéias e dos valores educacionais, em seguida no campo do ativismo aberto que proclama as novidades mais aberrantes como direitos sagrados e por fim na esfera das leis, criminalizando os adversos e recalcitrantes, se ainda restarem alguns. Com uma constância quase infalível, nota-se que os autoproclamados conservadores se amoldam passivamente – às vezes confortavelmente – à mudança, sem perceber que sua nova identidade foi vestida neles desde fora como uma camisa-de-força por aqueles que mais os odeiam.

Na acepção "II", a “constante de Durkheim” é usada para virar a sociedade de cabeça para baixo, da noite para o dia, sem encontrar qualquer resistência, por meio de mentiras e blefes tão colossais que a população instintivamente se recuse a acreditar que há algo de real por trás deles. As próprias vítimas do engodo reagem com veemência a qualquer tentativa de denunciá-lo, pois sentem que admitir a realidade da coisa seria uma humilhante confissão de idiotice. Para não sentir que foi feito de idiota, um povo aceita ser feito de idiota sem sentir, confirmando o velho ditado judeu: “O idiota não sente”. Foi assim que se montou na América Latina a maior organização revolucionária da história continental, o Foro de São Paulo, num ambiente em que todas as denúncias a respeito, por mais respaldadas em documentos e provas, eram ridicularizadas como sinais de loucura. E é assim que agora se está impingindo aos EUA um presidente sem nacionalidade comprovada (Barack Obama, grifo nosso), financiado por ladrões e associado por mil compromissos a grupos de terroristas e genocidas, enquanto seu próprio adversário maior o proclama “um homem decente, do qual não há nada a temer”.

Fonte: Olavo de Carvalho

NOTA: Afirmar que a esquerda está "virtualmente ausente", e que a atual crise mundial "fortalece a direita" é, penso eu, brincar conosco. Isto é de uma insensatez tão desmedida que, pelo quilate de Eric Robsbawn só posso pensar que são palavras premeditadas. É exatamente o que denuncia o Olavo de Carvalho: Um processo sutil, penoso, constante e ininterrupto do arrefecimento dos valores conservadores. A ´direita´ brasileira (que não consegue ser sequer uma social-democracia, como nos moldes europeus) não somente assiste inerte como é conivente com o coro dos mais extremados em afirmar que o colapso financeiro atual, que começou com a crise das hipotecas nos Estados Unidos, é "culpa do capitalismo". Em seu ensaio, Olavo denuncia que o plano era essencialmente ´democrata´. De fato, os empréstimos não pagos que faliram o sistema de hipotecas estadunidense começaram no governo Clinton. Contudo, os conservadores continuaram sem muitos esforços e a chamada ´bolha´ estourou no governo Bush. Instantanea e curiosamente, Marx parece ´despertar da tumba´ como a intelectualidade referêncial (e observe bem), até tido como ´moderado´. Claro, admitir o socialismo é impossível com o nível de liberdade (econômica) atingido no Ocidente. A ´solução´ é um sistema híbrido, uma (para usar as palavras do sociólogo britânico) ´mescla´. Esta mistura será caracterizada pela estatização de boa parte dos fundos (inclusive os de crédito) e, assim, o controle de boa parte dos padrões porque, como havia dito, o paradigma modelador de nossa sociedade é a economia. Sua influência está mais presente do que imaginamos, ao ponto de ser reconhecida como uma força incomensuravelmente maior do que a religiosa (observe as alianças feitas: Chávez diz que Bush é ´batedor de carteiras´mas vende cerca de 95% da produção venezuelana de petróleo para os EUA). A rigidez do controle só tenderá a aumentar, pois ninguém, nenhum país ou instituição que trabalhe com finanças que passar por qualquer crise novamente. Para que tal controle deixe os bancos e os acessos à Internet e se mude para os meios de comunicação (jornais, revistas, tv) e se insurja como norteador de um padrão fora do qual será considerado ´risco´, é rápido. Assim, esperemos para breve um futuro altamente controlado, como o previsto por Orson Wells no filme "1984".

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