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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Acima ou abaixo da linha?

A LINHA DA MEDIOCRIDADE CULTURAL

Reclama-se muito na Academia do desprezo aparente que a maioria dos brasileiros tem pela cultura. Apesar de ser um tema deveras diversificado, a cultura certamente abrange as formas de arte; e, numa época em que se discute qual o verdadeiro significado da arte, percebe-se que a problemática cultural é mais abrangente e paradoxal do que comumente se imagina. Observe o cinema, por exemplo. Há anos que o cinema nacional ofegava, como um moribundo lunático a recitar uma única estrofe, assemelhando-se a algum daqueles personagens iconográficos dos filmes do Glauber Rocha. Aí vem o chamado “novo cinema novo” – novas roupagens, novos patrocínios, mesma falta de criatividade. O resultado? Quando muito, mediano.

Apesar de se ver um apelo claro por uma volta às raízes culturais emblemáticas de nossa combalida nação, não se consegue fugir dos velhos clichês temáticos de anos passados, exaustivamente caricaturizados em inúmeros filmes, que acabavam por levar o telespectador do nada a lugar algum. Recentemente, vi o anúncio estampado, em um desses sites informativos, sobre a mais nova aspiração do cinema nacional: um filme – "O doce veneno do escorpião" – sobre Bruna surfistinha. Para quem não sabe, Rachel Pacheco ou Bruna surfistinha é uma garota de classe média que, há alguns anos, abandonou tudo para ser prostituta. Conheceu, no exercício da “profissão”, o homem com quem viria a se casar e, atualmente, percorre o Brasil requerida por vários programas de auditório (lembra da cultura?), para contar algumas de suas experiências, recentemente publicadas em um livro.


Sim, e daí? Dietrich Schwanitz1 (2007) alertou que uma das mais formidáveis perdas de tempo da atualidade consiste em darmos audiência para reality shows, o que ele chamou de “particularmente medíocres”. Qual a semelhança? É que fervilham concomitantemente, em uma sociedade cada vez mais a-culturada, nas novelas, minisséries, programas de auditório e, é claro, no cinema, biografias que foram ou são, mas que nenhuma diferença fariam se nunca tivessem sido. O pior, contudo, é desprezar pessoas e ofícios que construíram um legado valioso em nossa nação, acima da média; que fizeram ou disseram o que disseram, não somente porque tinham algo a falar; realizaram e falaram, porque tinham algo a dizer. A nossa cultura, em si, permanece rica, sobre a linha da mediocridade. Que pena que grande parte dos brasileiros insista em permanecer abaixo dela.


1 - SCHWANITZ, Dietriz. Cultura Geral – Tudo o que se deve saber. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo

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