Pesquisar no blog

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O vício da morbidez

RECLAMANDO DEMAIS, FAZENDO DE MENOS


Por Bráulia Ribeiro
Adaptado por Artur Eduardo


Há um tempo, no programa Manhattan Connection, discutiu-se o crescimento das igrejas evangélicas neste momento de crise econômica. Aparentemente o grupo de frequentadores de igreja nos Estados Unidos aumentou a ponto de se tornar notícia na grande mídia americana. Os comentaristas do Manhattan tentavam entender o que representam os evangélicos no contexto cultural americano atual: o incentivo ao crescimento econômico proveniente das teologias de fé e sucesso pregadas por muitas igrejas; a esperança produzida pela união das pessoas em comunidades solidárias que servem de estímulo para novas iniciativas econômicas e para o desenvolvimento de indivíduos e famílias; a recuperação de indivíduos que antes eram um peso na sociedade e agora, com a ajuda da fé, se tornam produtivos.

Foi muito esquisito aquilo, ouvir jornalistas falando bem da fé evangélica e das igrejas que costumamos espinafrar: as igrejas da teologia da prosperidade. Apesar de estarem comentando sobre um fenômeno americano, o que eles diziam podia ser facilmente aplicado ao Brasil. Por mais que eu e muitos críticos do movimento neopentecostal não gostemos de admitir, cada vez mais o crescimento das igrejas de fé vai mudando positivamente o perfil da população brasileira. Até a Universal do Reino de Deus, a mais controversa das denominações, onde dificilmente se reconhece algum princípio do evangelho, aporta uma contribuição positiva para o tecido socioeconômico brasileiro.

Apesar de todo o sincretismo, de todos os erros teológicos, apesar dos escândalos das lideranças, dos abusos e absurdos que interpretações equivocadas da fé vêm produzindo, o cristianismo é sempre uma religião socialmente do "bem" e seus subprodutos também serão do bem. As distorções têm efeitos colaterais negativos, mas o sintoma geral é de cura. O que não me parece do "bem" hoje em dia é a postura crítica dos próprios cristãos. Disseminou-se entre os que são considerados cristãos sérios uma atitude de crítica constante, cáustica, cruel, muito mais cruel que as críticas externas. Nasceram até ministérios com a missão quase exclusiva de criticar, julgar, difamar por todos os meios possíveis qualquer proposta neopentecostal ou neo-alguma coisa. Embates pessoais entre figuras do meio gospel, jornalistas e pastores viraram lugar comum. Algumas discussões são tão rasteiras que não perdem pra briga de botequim.


Livros como "Porque Você Não quer Ir Mais à Igreja", blogs que se especializam em divulgar o ridículo da cultura gospel e pregadores do anti-movimento posam de iconoclastas proféticos propagando essa nova modalidade de "denominação" cristã: a anti-igreja. Grande parte da energia desses novos crentes é gasta em antagonizar propostas da religião instituída. Infelizmente, de acordo com minha observação pessoal, essa postura não libera os membros desses novos movimentos para uma vida de fé mais simples e produtiva. Teria sido interessante se no meio de tudo isto nascesse um grupo de cristãos com mais tolerância e coração aberto que entendesse o reino acima das propostas denominacionais e que fosse capaz de circular entre as mais diversas formas culturais de cristianismo, contribuindo com todas, com respeito, sem anuir aos erros. Mas não, a atitude desenvolvida pelos antagônicos é a de completa intolerância. Ao invés de encontrarem graça, a perdem. Se sentem acima do bem e do mal e se especializam em encontrar problemas e defeitos em tudo e em todos.

Ouvi um crítico outro dia dizer com sarcarsmo que a Sexxx Church é o velho Jaime Kemp e seu moralismo sexual disfarçado para o século 21. Me choquei com o comentário cáustico, mas vazio. Jaime Kemp fez um bom trabalho na minha geração, ensinando moral sexual e os valores familiares numa linguagem acessível. A Sexx Church faz hoje a mesma coisa, contextualizando a forma e mantendo o significado; ou seja, mantendo os padrões morais bíblicos que nem eles nem o Jaime Kemp inventaram. Será que os jovens de hoje não precisam de ensinos sobre uma sexualidade sadia? Propor um cristianismo que não estabelece limites morais, que não define padrões para a sexualidade, é negar uma parte essencial da proposta cristã. Existem padrões estabelecidos para a vivência humana na terra que a nós cabe simplesmente aceitar. Contudo no vale-tudo anti-institucional vale até rejeitar a ideia de pecado, de submissão a um código moral qualquer ainda que rotulado de cristão.


Cristãos assim geralmente se tornam pastores de sua própria denominação de um só membro. As marcas e feridas que trouxeram de suas experiências anteriores estão protegidas por uma elaboração racional que impede o processo de cura. A culpa é sempre dos outros, do sistema, da intolerância religiosa, dos pastores e líderes abusivos. Como vítima não sou chamada ao arrependimento, tenho razão para as minhas dores, não preciso repensar minhas atitudes ou reconhecer meus próprios erros. Jovens adeptos da neo-iconoclastia não aceitam mais padrões de comportamento nem moralidade de qualquer espécie. Toda moralidade é taxada de moralismo, toda "experiência" de vida supostamente tem o consentimento de um Deus que me entende.

Fico com a simplicidade da fé e não com a morbidez da “intelligentsia” cristã. A essência Jesus pode ser embalada com muitas mentiras, e, infelizmente, acho que de uma maneira ou de outra nenhum de nós escapamos de equívocos, julgamentos culturais e ambições pessoais que deturpam sua palavra. Mas mesmo assim ele continua sendo Jesus, o caminho, a verdade e a vida; o Deus verdadeiro capaz de milagres, redenções e perdões impossíveis, capaz de se comunicar com todos como o Deus vivo que é.

Fonte: Ultimato

NOTA: E isto tem virado "moda". Os crentes "moderninhos", que vivem um "pode-tudo" (diametralmente oposto ao fundamentalismo protestante do início do século XX), talvez vivenciem um posicionamento existencial mais perigoso do que aquele. O "pode-tudo", avesso ao "nada-pode", influenciado por uma (pseudo) confiança de se estar acima da própria moral cristã tem proporcionado uma geração de críticos tão acirrados da Igreja, que muitos preferem sair, para com sua pureza intrínseca poderem iluminar um pouco a mente dos pobres miseráveis que estão até lutando (vejam só!) para que a Igreja recupere seu status de verdadeira agência e instituição cristã! Bem, prefiro lutar pela igreja do que covardemente me eximir da responsabilidade que se me apresenta como cristão.

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo

2 comentários:

Solange disse...

Pr Artur, me permita um comentário, pois li o livro Porque vc não quer mais ir a igreja. Ele não incentiva ninguém a ir ou deixar de ir à igreja. Apenas faz um relato de situações do cotidiano de algumas igrejas, onde o amor, a comunhão e a união como corpo de Cristo deixam de existir, fazendo das reuniões semanais apenas uma arena para as disputas de poder. O livro apenas traz à tona o verdadeiro sentido para a igreja. E é o que de fato vemos, pessoas desistindo das igrejas por seus inúmeros escândalos, disputas de poder,ops, "ministérios".

Anônimo disse...

"Por mais que eu e muitos críticos do movimento neopentecostal não gostemos de admitir, cada vez mais o crescimento das igrejas de fé vai mudando positivamente o perfil da população brasileira. Até a Universal do Reino de Deus, a mais controversa das denominações, onde dificilmente se reconhece algum princípio do evangelho, aporta uma contribuição positiva para o tecido socioeconômico brasileiro."

Ah, se formos pensar em grupos que agregam algum bem ou valor à sociedade, podemos citar os espíritas e suas boas ações, também a maçonaria com muitas de suas práticas e ética, além de muitos outros grupos. Não podemos ser simplórios e confundir uma fé verdadeira com a pretexta ilusão de trazer algum resultado positivo para sociedade. Mas tudo bem, que seja este o crítério, vamos ver também os malefícios que esses grupos tem causado à sociedade, quantas pessoas estão decepcionadas e criam barreira enormes para receber o verdadeiro evangelho. E pensando ainda mais longo, fico a imaginar o que vai se tornar nossa sociedade quando estiver povoada com os crentes que estão saindo de nossa fileiras. Haja vista os últimos escandalos, "crentes" orando pelo recebimento de proprina, curandeirismo, enriquecimento ilicito,são estes os crentes que temos formados com esta teologia da prosperidade ou neopentecostal, crentes este que ignoram um conhecimento mais profundo da Palavra ou a usam a seu bel prazer, crentes estes que ignoram sobre a nova vida, sobre integridade no trabalho, nos estudos, na vida cotidiana e que sai batendo no peito que é nova criatura. Que nova critura é essa? Eu particularmente temo o crescimento dos evangélicos em nosso país e discordo da Bráulia, sei que muitos que criticam têm fomentado e trabalhado muito para o crescimento de uma fé verdaderia, muitos tem ensinado nas escolas dominicais, muitos se embrenham em locasis distante e que poucos querem ir, mas isso não aparece, não dá Ibope.
Por outro lado também agradeço por terem muitos críticos por aí, eles nos ajudam a ficar com os pés no chão e não pensarmos mais de nós do que realmente somos.
No ensejo, quero dizer que gosto muito do seu blog.
Um abraço!!

Ofertas Exclusivas!!!!