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segunda-feira, 15 de março de 2010

Como será um cérebro alfabetizado na era digital?

ALFABETIZANDO DIGITALMENTE

É quase impossível acompanhar como essas diferenças surgem durante a infância, quando o cérebro está mudando por inúmeras razões. Mas experimentos comparando os cérebros de adultos alfabetizados e analfabetos mostraram que existe uma ligação com o tamanho do giro angular, uma área do cérebro associada com a linguagem, assim como modelos diferente e mais intensos de atividade mental em outros lugares. Há muito tempo aceitamos a escrita como um dos alicerces da civilização. Hoje, entretanto, os neurologistas enfrentam questões profundamente difíceis para muitos observadores.

Há poucas evidências, sobretudo no que diz respeito à questão de que uma 'cultura da tela' possa ser prejudicial para o desenvolvimento das crianças. Entretanto, estão começando a surgir pesquisas neurológicas interessantes, que usam a mídia interativa para nos fornecer uma compreensão mais precisa do funcionamento do cérebro e, em particular, dos mecanismos responsáveis pela memória, aprendizado e motivação.

A rede de pesquisa NeuroEducational, chefiada pelo neuropsicólogo Paul Howard-Jones, Universidade de Bristol, está à frente desse trabalho. Usando uma mistura de imagens cerebrais e modelos matemáticos, Howard-Jones espera descobrir como a tecnologia e o aprendizado interagem. Seu objetivo é construir modelos sobre como o cérebro aprende durante as interações digitais, seja em jogos de computador ou simplesmente usando um computador para trabalhar em casa e, ao fazer isso, criar novas formas de desenvolver meios digitais que melhorem ativamente o funcionamento do cérebro.

Um experimento usa um questionário no computador em que os participantes respondem a perguntas de múltipla escolha, e se as acertam, ganham um número de pontos variável. Quando eles erram, a resposta correta é revelada, encorajando-os a aprendê-la. O objetivo é descobrir as circunstâncias sob as quais os participantes têm maior probabilidade de lembrar essa resposta e acertar a pergunta da próxima vez.

O experimento está sendo usado para testar diferentes modelos matemáticos de mecanismos de recompensa no cérebro: mecanismos relacionados aos níveis de dopamina no estriato, uma parte do nosso cérebro escondida abaixo do córtex. A dopamina é um neurotransmissor associado com os comportamentos de buscar recompensa, e Howard-Jones tem conseguido aplicar um modelo computacional que prevê com sucesso a melhoria na taxa de aprendizado em pessoas que realizam o teste.


Esse trabalho fornece o começo de um modelo empírico sobre como aprendemos a nível neural, um modelo potencialmente capaz de prever, conforme explica Howard-Jones, 'momento a momento... quando as pessoas estão atentas e aprendendo'. Uma compreensão neurológica mais precisa da recompensa e da memória é importante por muitas razões. Por exemplo, ela permite que os pesquisadores calibrem com precisão a probabilidade de receber recompensas para maximizar a liberação de dopamina. (Nos primatas, mostrou-se que esse nível atinge seu pico quando há 50% de chances de sucesso.) Usar esses resultados para otimizar as experiências de aprendizado num nível neurológico é uma forma potencialmente transformadora de prever a atenção e a recordação.

Outra consequência relacionada está no potencial de novas tecnologias de aprendizado para superar nossa compreensível aversão ao risco e ao fracasso. Howard-Jones argumenta que os ambientes digitais são especialmente bons ao introduzir a incerteza, e a perspectiva de fracasso, de uma forma que 'não tem um impacto negativo na autoestima'. Um jogo ou questionário, quando planejado adequadamente, cria um tipo de risco que deixa as pessoas à vontade: errar as respostas não se torna um impedimento para o esforço.

Talvez os resultados mais interessantes estejam todos numa área conhecida como "memória funcional" - ou seja, a capacidade de lembrar informações de curto prazo, como guardar um telefone na cabeça, ou lembrar do nome de alguém que se acabou de conhecer. Experimentos nesse campo feitos por Torkel Klingberg, um professor de neurociência sueco, mostraram que o treinamento computadorizado das pessoas com síndrome de déficit de atenção pode melhorar significativamente a capacidade de raciocínio e o período de atenção. O sistema desenvolvido por Klingberg, conhecido como Cogmed, oferece uma 'experiência adaptativa' feita sob medida para cada usuário, destinada a estender a memória funcional ao longo do tempo através de uma série de exercícios que ampliam os limites de suas capacidades. Outra pesquisa liderada por Susanne M. Jaeggi na Universidade de Michigan sugere que, por outro lado, o treinamento da memória funcional nos adultos pode aumentar o QI. Tudo isso está no começo, mas o potencial do campo é vasto.

A consciência desse potencial, obviamente, é o que sustenta os temores mais comuns sobre os perigos da cultura da tela na infância: que ela pode provocar o isolamento, ser excessivamente atrativa, e prejudicar as relações humanas. Há alguma verdade por trás disso, não só porque é perigosamente fácil passar muitas horas em frente a uma tela todos os dias. É claro, as crianças não deveriam passar o dia inteiro usando computadores, da mesma forma que não deveriam passar o dia inteiro praticando esportes. Mas há bem menos evidências de que a mídia digital está causando prejuízos sociais às crianças, quanto menos para seus cérebros, do que normalmente se acredita. 'Não acho que termos provas para sugerir que a tecnologia está infantilizando ninguém', diz Howard-Jones. 'A evidência é de que os adolescentes que usam sites de redes sociais para manter relacionamentos já existentes são melhor conectados socialmente em termos reais do que os que não usam´.


Ainda sabemos muito pouco sobre o impacto neurológico da tecnologia a longo prazo. Mas a perspectiva de usar a neurologia para entender como nossos cérebros respondem às informações que aprendemos, especialmente quando crianças, está rapidamente se tornando realidade. Uma vez que a qualidade que define todos os meios digitais é sua interatividade, fazer essas interações terem uma resposta mais precisa à natureza de nossas mentes é uma das fronteiras mais instigantes do século 21. E é uma que não promete simplesmente nos acorrentar a nossas mesas, mas também a nos ensinar novas formas de interagir com os outros e com o mundo.

Fonte: O Galileu

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo

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