Por Percival Puggina
Adaptado por Artur Eduardo
Nos anos 80 integrei um grupo de abnegados que promovia palestras sobre senso crítico, formação da consciência individual e formas de ação coletiva contra o estupro que setores da mídia promovem nos bons e consensuais valores da sociedade. Combatíamos quixotescamente, cientes de que enfrentávamos dragões com tesourinhas, dessas que se dá para crianças recortar papel. Sem fio nem ponta. Mas preservávamos, pelo menos, a orgulhosa sensação de estar fazendo algo contra o que víamos e, principalmente, contra o que antevíamos. Com o tempo, a vida se encarregou de dispersar os membros do grupo pelo país afora e nossos cursos pararam por falta de equipe.
Decorridas mais de duas décadas, quando me lembro daqueles anos, do que então era exibido em programas e novelas de tevê, e do que motivava nossa atividade cívica em defesa dos traditional values, colho a impressão de que se por um lado estávamos certos ao identificar os males que apontávamos, de outro subavaliávamos os rumos que as coisas iriam tomar na sociedade brasileira. Tudo degenerou muito mais, na telinha e na vidinha. De minha parte, desde então, não assisto mais novelas. Ostento o distintivo: sou um brasileiro que, em um quarto de século, não assistiu uma única novela. Mas tomo ciência, pelas conversas de casa, das vulgaridades, rolos e perversões que caracterizam as muitas histórias narradas nesses folhetins. Graças à persistência com que se vão degradando os enredos, ano após ano, o que antes chocava foi se tornando aceitável, comum (e, por isso, visto como "normal"). E o que hoje espanta, amanhã será insuficiente para causar sensação. Dizem os drogados que se passa o mesmo em relação às substâncias que utilizam. Já tem muita gente cheirando cinco novelas por dia e entrando em síndrome de abstinência quando acaba o BBB.Pois bem, foi dentro dessa moldura que assisti, nos últimos dias, um comercial institucional da Rede Globo chamando atenção para a significativa função social que desempenha quando inclui temas de interesse social em suas novelas e minisséries. Em casa, me confirmam: isso tem ocorrido, mesmo, com a introdução de personagens e assuntos que suscitam atenção para o problema das drogas, de certas deficiências físicas e assim por diante. Valeu, pessoal da Globo! Obrigadão! A consciência social de vocês me leva às lágrimas.
Simultaneamente com esse bônus de conveniência pública, persiste contudo, derrubando a balança, a sistemática degradação dos valores, avançando, passo a passo, sobre quaisquer limites que se possa conceber. É inesgotável a imaginação dos roteiristas para promover o aviltamento moral. Assim, por exemplo, leio que Passione, a novela recém concluída, reservou para o apogeu das últimas cenas os relatos de um sujeito bígamo, que engravidara simultaneamente as duas mulheres, e que, por proposta de uma delas, compôs com ambas um ajuste de convivência triangular consentido e permanente. Coisa do tipo segunda, quarta e sexta com uma e terça, quinta e sábado com outra. Domingo folga geral. Não surpreende, portanto, que já se organizem no país movimentos voltados para cobrar do Estado brasileiro a indispensável tutela jurídica de tais sem-vergonhices.
Mas só isso pareceu pouco a Sílvio de Abreu e seu folhetim. Era preciso avançar ainda mais na degeneração protagonizada por Passione. Faltava um morango na cobertura. E o morango da depravação ficou reservado para as cenas grotescas de uma senhora octogenária que, posta aos amassos com um coetâneo - varão que receberia por esposo -, simultaneamente se requebrava e seduzia outro velhote de miolo mole. Tal vovozinha certamente encontrou inspiração dentro do círculo familiar do autor da história. Por isso, quero deixar bem claro a quem vive nos dizendo que "a gente se vê por aqui". Senhores, a gente não se vê nisso aí!
Fonte: MsMEm Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
Um comentário:
dizem que és o que pensas mas sera que é preciso pensar se eles pensam ´por nós ou melhor decidem quando devemos pensar o que eles querem , complicado como dizia o chacrinha estou aqui não para informar e sim para complicar ja caimos no abismo projetado de forma astuciosa e bem camuflada onde a sociedade foi totalmente anestesiada e conduzida para este fim o VAZIO sim o VAZIO e nele se domina a mente humana vou parar pois nada mais vai adiantar lamento .......frases de uma canção de Raul Seixas ....VIVEMOS ATOLADOS NA LAMEIRA E NO MESMO LODO TODOS MANUSEADOS......então eles VENCERAM COM O SISTEMA QUE CONSTRUIRAM......COMO BRASILEIRO E CARNEIRO MANSO COVARDEMENTE LAMENTO..............
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