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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Considerações sobre o amor de Deus

"MAS, COMO FICA O AMOR?"

A pergunta acima foi dirigida a um professor, há anos, quando este falava da forma como era aplicada a pena capital em Israel. Engraçado é ler, na Bíblia, que alguns castigos realmente terríveis, sendo o pior a morte, eram infringidos àqueles que prevaricavam naquilo que, a partir da Lei, era sabido como mal e pecado contra Deus. Em vários textos, a explicação dada quanto ao levirato é a mesma: "...Fareis assim para extirpar o mal do meio de Israel". Extirpar o mal é algo ruim, difícil, pois muitas vezes o que se faz para extirpar o mal parece ser um mal igual. Quem está à frente do povo, como Moisés, sabia muito bem o que estas palavras significam. Moisés teve de lidar com mais de três milhões de pessoas, segundo algumas estimativas. A Bíblia não diz, mas, você já imaginou quantas vezes Moisés teve de ver, e mais do que isso, pronunciar o juízo conforme a Lei? Imaginou que, dentre as pessoas que prevaricavam e "cometiam o mal" no meio de Israel, poderiam estar amigos, parentes, companheiros de Moisés e mesmo assim ele teria de seguir a Lei? Com certeza, inúmeras vezes!

Frente ao tribunal dos anciãos, muitos relacionamentos em Israel eram, inevitavelmente, destruídos, e quando falo falo "destruídos", digo na literalidade do termo: muitos dos prevaricadores, dependendo do seu pecado, recebiam a pena capital. Contudo, Moisés recebeu o título de "homem mais manso da Terra". Moisés teve, repito, de lidar com mais de três milhões de pessoas! Em algumas ocasiões fugiu do povo para não ser apedrejado. Foi perseguido até por sua própria família (seus irmãos, Miriam e Arão, invejosos de sua liderança, criaram um motim e foram atingidos com lepra por causa de sua rebeldia, sendo curados pela compaixão de Deus que ordenou que Moisés orasse pelos mesmos). Ficou esgotado. Seu sogro, Jetro, percebeu e aconselhou-o a dividir as cargas, o que foi recebido com protidão por Moisés: 70 juízes foram empossados como magistrados aptos para julgar as questões do povo. Em certa ocasião, o próprio Deus parece "cansar" do povo e afirma que faria uma outra nação, a partir de Moisés. A aliança com Abraão continuiria, uma vez que Moisés é descendente de Abraão. Mas Moisés fez o impensável: pediu que seu nome fosse retirado do Livro de Deus, caso o Senhor Deus não perdoasse o povo! Deus repreende Moisés, nesta ocasião, de maneira um tanto quanto diferente: afirma que Ele tiraria a qualquer que não fizesse sua vontade, posto que aquele que não faz a vontade de Deus, persuadido por sua própria consciência e moralidade de que é e age mais corretamente do que o próprio Deus, não é digno dEle. No fim das contas, contrariadíssimo com o povo por quem orou tantas vezes, Moisés desobedece a Deus, em Meribá, e fere a rocha com a qual deveria apenas falar. É o fim da linha para Moisés. Este gigante da fé, cuja canção será entoada no tempo do fim, conforme nos diz o livro do Apocalipse, recebe uma sentença impesável até mesmo para o mais devoto dos seguidores de Deus: não entrará na Terra Prometida. Moisés, como qualquer humano o faria, lamenta profundamente. Chora, ora, e, em determinado momento, parece desesperar-se. Diz a Deus: "Eu te rogo, Senhor Deus, deixa-me entrar na terra". Contudo, a resposta de Deus foi a mesma: "Não!". Por causa da desobediência de Israel, desde a época dos espias, 39 anos antes de Moisés fazer esta petição desesperada a Deus, o povo recebera a sentença de que os maiores de 20 anos de idade não entrariam, jamais, em Canaã. Morreriam no deserto, como uma prova indelével às gerações futuras de que o homem "cava sua própria sepultura" quando decide não fazer exatamente conforme o Senhor Deus ordena, haja vista que a vontade de Deus baseia-se no seu conhecimento e todas as demais virtudes divinas e, diferentemente de nós, caídos, sua vontade é perfeita. Moisé, "o homem mais manso da Terra" e um dos profetas mais prestigiados de toda a história de Israel ficaria para, também, morrer no deserto. Afinal de contas, anos antes, quando andavam pelo deserto, foi exatamente isto que havia pedido a Deus: ficar com o povo.

Charlton Heston interpretando Moisés, no clássico "Os Dez Mandamentos" (1956).

Através deste erro infantil do grande legislador de Israel aprendemos uma das lições mais básicas da vida de qualquer cristão, mas que, curiosamente, é uma das mais negligenciadas - não somos maiores ou melhores do que Deus. Muito do que é dito pelo Senhor Deus, como prescrição, pode parecer até cruel no momento da imputação, do cumprimento, mas não temos a capacidade de olhar o macro, apenas o micro. Olhamos o circunstancial, o emergente, o imediato. Deus não olha assim. Deus vê atemporalmente e na totalidade de sua ilimitação. Desta forma, não há caminho que Ele não conheça. Não há decisões cujas consequências Ele não saiba. E, quando nos diz o que é o melhor, devemos aceitar humildemente sua Palavra, pois Ele sabe de todas as implicações da obediência... e da desobediência! Ele é maior do que nós! É baseado no seu excelso poder, na sua ilimitação e onipotência que Deus age e governa o mundo. Sua Palavra, irmãos, deve ser aceita, absorvida e seguida, como ela é, para que não manchemos a percepção do todo com a nossa finitude e incapacidade, para que não vejamos apenas aquilo que queremos. É aqui que entra a segunda negação. Também não somos melhrores do que Deus. Deus sabe o que é melhor para nós e, com certeza, o melhor está em sua Palavra.

Digo isto pois sei que algumas pessoas podem ficar "surpresas", "chocadas", "horrorizadas" com o uso da disciplina eclesiástica, principalmente porque vivemos em um mundo cada vez mais indisciplinado. Mas, pessoas que ficam "surpresas", "chocadas" e "horrorizadas" com a justiça ou o correto uso da disciplina não vêem o quanto agem parcialmente. Não vejo as pessoas normalmente "surpresas", "chocadas" e "horrorizadas" com as atitudes levianas da fofoca, do disse-me-disse, das conversas escusas, da mentira, da difamação. Não vejo pessoas perguntando sobre aquelas que foram caluniadas, ofendidas, denegridas, difamadas, ridicularizadas por comentários esdrúxulos e mentirosos. Geralmente, não vejo pessoas solidárias àquelas que foram o alvo dos ataques horrorosos daqueles que, muitas vezes sem motivo algum, caluniam seus irmãos. Não vejo manifestações de apoio... mesmo quando o alvo são os líderes e até os Pastores)... não vejo solidarização às verdadeiras vítimas... não vejo quase nada! Contudo, é relativamente fácil percebermos pessoas que ficam "surpresas", "chocadas" e "horrorizadas" pelo fato de que indivíduos que agem caluniosa e difamatoriamente estão simplesmente sendo punidos. Não são muitas pessoas, aqui na IEVCA, que têm este posicionamento (digo, dos que ficam "surpresos", "chocados" e "horrorizados", mas é fácil identificar aquele ou aquele outro que insiste em, apesar de todos os ensinos mediante a Palavra de Deus e exortações, querer ser maior e melhor do que Deus, transformando o réu ou réus em vítimas, sendo parciais "com os seus" e, às vezes, agindo como uma espécie de "Robin Hood mosaico", pedindo a Deus até para que seus nomes sejam retirados do Livro, ou seja, perdendo completamente suas bênçãos "caso o Senhor Deus não tenha misericórdia dos rebeldes".

E os feridos? E os atingidos? E o fracos que foram atacados? E Deus, vituperado e "atingido" com a falta de testemunho perante "os de fora"? E o Evangelho, mediante a "desobediência amorosa" do povo que afirma defender seus princípios? E o compromisso com Deus?

Como fica o amor?

Bem, sei onde é o amor de Deus por nós, obra de Suas mãos e seu povo: "Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos". Provérbios 6:16.

Em Cristo Jesus,

Pr. Artur Eduardo

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