"Rio de Janeiro, 03 de agosto de 2011
Caros irmãos e irmãs em Cristo da ACEB,
Escrevo a vocês para comunicar, com muito pesar e decepção, mas de maneira irrevogável, a minha demissão do Conselho Geral e o desligamento da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida (ICNV) da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB). Fato já comunicado aos membros do Conselho Diretor no início desta semana. Mas sinto que devo uma explicação a todos os que participam da Aliança justificando minha decisão, por isso lhes mando este documento.
Descrevo abaixo a quem interessar as razões que me forçaram a tomar essa decisão, levada a termo com base em minha experiência como líder de uma Aliança que existe há 18 anos (a ICNV) e que se mantém unida e atuante desde então. E, o que escrevo a seguir, peço que compreeendam, não tem o objetivo de promover qualquer tipo de desconforto ou desunião, mas o faço apenas a título de explicação:
1. Acredito que a ACEB está tomando rumos que se desviam das metas principais que uma aliança de igrejas evangélicas de uma nação deveria tomar. Em vez de unir-se em prol de buscar a essência do Evangelho dentro da diversidade de manifestações denominacionais e doutrinárias, vejo que a organização opta por se tornar uma voz política. Erro esse que, aliás, já foi cometido no passado por outras iniciativas similares. Diante disso, sou obrigado a concluir que se seguirmos por esse caminho a ACEB simplesmente não dará certo.
2. Desejo muito ver a união da Igreja evangélica brasileira, em especial mediante a percepção (explicitada em meu livro “O Fim de Uma Era”) de que ela sofre de muitos males que precisam ser discutidos, problemas como falta de devoção, reverência e liderança; o fascínio com celebridades; o mercantilismo; o consumismo; divisões; facções; uma clara tendência de politizar os nossos anseios (buscando no Estado a solução dos males da nossa sociedade) e a volta de antigas heresias que precisam ser denunciadas como tais. Diante desse cenário, vi na ACEB uma possível alternativa para as igrejas brasileiras definirem sua essência e assim se depurar. Foi uma alegria ver uma tentativa de resgate da Igreja. Mas, infelizmente, passados esses meses, o que observo é que esses pontos fundamentais estão sendo ignorados e a ACEB está se tornando apenas mais uma entre tantas instituições que visam a palpitar e tentar influenciar politicamente e midiaticamente o que est á nas manchetes dos jornais – mesmo que seja em nome de causas nobres.
3. Desde o início dos trabalhos da ACEB busquei trazer à mesa o aprendizado e o conhecimento que todos os meus anos como líder de uma denominação que existe pela aliança voluntária de igrejas independentes me proporcionaram. Mas percebi que minhas ponderações e protestos em prol do que julgo ser importante de fato foram inócuos, como em relação aos manifestos publicados a respeito de iniciativas do Estado e o que percebi ao meu redor foi o desejo de ingressar no universo de influência das esferas políticas do país. Um erro crasso, aliás, já cometido ao longo de dois mil anos de História de Igreja e que só trouxe problemas e poluição para a Igreja cristã.
4. Em vez de discussões relevantes para a purificação da Igreja de Jesus Cristo no Brasil, presenciei em alguns trabalhos da ACEB discussões superficiais ou alienígenas à proposta do Evangelho, como “a necessidade de se fazer um manifesto sobre o aumento salarial dos deputados federais na ordem de 60%”. O argumento foi que “teríamos de fazê-lo para que afirmássemos um viés profético”. Só que voz profética é proclamar o que vai contra o que toda a sociedade aprova. E, nesse aspecto, nós fomos apenas mais uma voz na multidão, visto que aquela reclamação a sociedade inteira já estava fazendo. A ACEB não foi criada para chover no molhado e dizer o que todos já dizem.
5. A Igreja de que o Brasil precisa não existe. Por isso, temos que liderar com palavras de resgate de sã doutrina, ética e espiritualidade. Questões como a infalibilidade das Escrituras sequer foram incluídas nos documentos, e quando questões como essa foram levantadas, e apoiadas por muitos, a resposta foi que qualquer mudança na declaração de fé teria que ser uma resposta a erros claros de doutrina da igreja. Ou seja: os assuntos fundamentais simplesmente não estão avançando nas ações da ACEB.
6. Para meu total estarrecimento, fui surpreendido ao ser informado que na convocação nacional de novembro próximo teríamos de ouvir uma declarada candidata ao Governo Federal, a senadora Marina Silva, dizer para a Igreja de Jesus Cristo “O que o Brasil espera da Igreja”. Ou seja, uma representante do Estado é quem deve dizer a sacerdotes qual é a nossa missão em nossa nação? A lógica disso escapa à minha compreensão, exceto pela percepção clara de que essa é uma busca de proximidade ao poder político.
7. Esse fato deixou claro a meus olhos o quanto a ACEB está se desviando da proposta de resgate de uma espiritualidade que poderia levar a Igreja brasileira a ser sal da terra e luz do mundo e adotando uma proposta de caminhar pelos corredores do poder, realmente acreditando que isso nos levará a cumprir a missão a nós confiada por Cristo. Só que não vai. Uma análise histórica das vezes em que a Igreja se emiscuiu com o Estado torna evidente que essa opção simplesmente não é o caminho. É perda de tempo para a causa do Evangelho e pode provocar danos gravíssimos, como as páginas dos livros de História nos demonstram inequivocamente.
8. Mediante fatos como os descritos acima, ficou claro que estávamos formando um corpo representativo e não um ministério de resgate da união da igreja. E disso, sinceramente, o Reino de Deus não precisa.
9. A gota d’água para que eu tomasse a decisão de me desligar do Conselho foi o recebimento do comunicado da intenção do Conselho Diretor de dar as mãos ao governo petista sob o lema “A Igreja ouve o grito de Dilma”. Pelo que analisei, faz parte dessa intenção não somente cooperação mas, também, solicitar doações das igrejas para fins sociais do governo federal – que já gasta nababescamente o dinheiro que tira da população sem a nossa anuência e sob ameaça de sanções aos que sonegam os tributos ditados pelo Estado. Se é para adotar iniciativas como essa que a ACEB foi criada, lamento, mas me recuso a participar disso.
10. Há causas extremamente graves para o destino eterno de almas humanas a que nossos esforços precisam se dirigir muito mais do que as que a ACEB vem propondo e, com base nas Escrituras, entendo que não posso investir meu tempo e minhas energias em ações que a meu ver gerarão apenas ações políticas momentâneas, mas que ecoarão pifiamente pela eternidade.
11. A Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida (ICNV), representadas por mim, tem o forte desejo de promover a união do Corpo de Cristo – mas pelos caminhos bíblicos e não mediante lobbies políticos, participação em projetos do Estado, presença em comício e iniciativas similares que estão no escopo de ONGs, partidos políticos, associações de moradores, sindicatos e instituições que nada têm a ver com o Reino de Deus. Foi a busca da união que nos motivou a nos afiliar à ACEB, como também a aceitar a minha indicação como conselheiro. Só que os rumos que a ACEB tem claramente tomado ferem a o manual de ética da ICNV, que, em seu artigo 11, proibe qualquer envolvimento dos nossos sacerdotes em atividades de cunho político. Por isso eu, como líder e exemplo para cerca de 200 sacerdotes da ICNV e mais de 50 mil membros da denominação, não posso aceitar fazer parte de uma organização que, em nome de ser uma “Aliança Cristã” está se tornando uma instituição que se alia ao poder público para avançar causas que julga serem o caminho legítimo de avanço do Reino de Deus, mas que entendo ser um trágico equívoco – e que terá graves repercussões no futuro para a Igreja evangélica brasileira.
Mediante todas as razões acima apresentadas, lamento ter que me desligar da ACEB, mas quero deixar claro ainda que:
A. Não há em mim rancor, mas sim uma percepção mais clara do que de fato é o anseio de setores que participam da liderança da ACEB.
B. Faço isso a contragosto;
C. Todos os laços pessoais de afeto, apreço, amor e carinho de minha parte para com todos os integrantes da ACEB com quem pude comungar permanecem inalterados. Minha questão aqui não é com pessoas, é com objetivos e metodologias de uma organização que, hoje, não vejo sentido de continuar a pertencer. Respeito e só quero bem a todos os membros da ACEB. Tenho carinho pelos integrantes dos vários conselhos. Há pessoas realmente notáveis agregadas a essa organização e pelas quais tenho afeto e amizade pessoal. É com respeito a todos que me despeço desta instituição, embora continuemos irmãos de fé e, espero, amigos.
D. Só o faço por entender que os rumos que a ACEB está inexoravelmente tomando não avançarão em absolutamente nada a causa de Cristo e a purificação urgente da Igreja evangélica brasileira;
Que Deus guie e abençoe a cada um. Que o Senhor abençoe a Sua Igreja no Brasil e a cada um de vocês em particular. Permanecererei orando para que a Igreja de fato venha a se unir e haja um resgate claro da fé evangélica, que está se corrompendo em muitos ambientes, fato sobre o qual já comentamos e concordamos.
Na paz e no amor do Mestre,
Walter McAlister
Bispo Primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida".
Fonte: Creio
NOTA: Se a coisa tomou o rumo que o Bispo McAlister afirmou em sua carta, então, de fato, não há condições que esta nova "Aliança" se sustente por muito tempo. Este foi o erro da antiga AEVB (Aliança Evangélica Brasileira), dirigida por Caio Fábio em parte da década de 90. Muita politicagem - inclusive foi através da mesma que aquele que, hoje, se denomina "ex-evangélico", Caio Fábio, e é uma espécie de "guru espiritual moderninho", montou a antiga Fábria de Esperança - no Rio - e envolveu-se em escândalos, inclusive políticos, quando entrou num caro e doloroso processo levantado pelo ex-Presidente FHC por calúnia e difamação. A coisa só se resolveria em 2002, mas o estrago estava feito: a política havia entrado e minado a AEVB e manchado sua imagem para sempre, o que não poderia resultar em outra coisa a não ser seu fechamento. Pelo que estamos vendo, os caras não aprenderam nada e, talvez, o prejuízo num futuro próximo, seja ainda maior do que o que foi o fim da antiga "Aliança".
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