“Find the beginning of things…And you will understand much”.
Abbie Farwell Brown
Para entender os problemas enfrentados por Israel no Oriente Médio (OM) é necessário voltar nossos olhos para a Europa e seu passado colonialista. Ou será que alguém é suficientemente ingênuo para acreditar que a crise financeira européia e as ocorrências no OM são fenômenos independentes? Hegel e Marx estavam errados: a história só se repete se não aprendermos com a experiência. O que vem ocorrendo nos quatro lados no Mare Nostrum (1) são fenômenos que podem ser entendidos à luz das ocorrências passadas.
Acostumadas a viver à larga a custa da exploração de suas “possessões”, as chamadas potências coloniais nunca se recuperaram de todo de sua perda, ao fim da I Guerra Mundial: os perdedores – impérios alemão, russo, austro-Húngaro e otomano – deixaram de existir. Aqui nos interessa apenas a sorte dos territórios do último, transformado em possessão dos vitoriosos, principalmente Reino Unido e França, tanto no OM como as colônias alemãs na África, pois os territórios perdidos pelos demais se transformaram em países independentes, como as possessões dos Habsburgs nos Bálcãs (inicialmente, 1918, Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que passou a chamar-se Reino da Iugoslávia em 1929 dirigido pela dinastia real sérvia dos Karađorđević).
Já o Otomano foi fatiado artificialmente em pedaços que interessavam às metrópoles, deixando a Turquia livre e os povos árabes, há séculos escravizados pelas hordas orientais e depois pelos turcos, acabaram possuindo somente governos títeres, na verdade totalmente controlados de Londres e Paris e dos escritórios das grandes empresas petrolíferas anglo-americanas. Desde antes do fim da Primeira Guerra Mundial os árabes foram traídos em seus anseios de independência, prometida pelo Tratado McMahon-Husayn de 1915 - que garantia a independência dos seus territórios desde que estes se aliassem à Inglaterra contra os turcos - pois em 1916 britânicos e franceses firmaram secretamente o Tratado Sykes-Picot onde previam a divisão do Oriente Médio em áreas controladas diretamente por cada um dos dois países, algumas áreas de influência, e mandato misto na Palestina, não deixando a menor chance de independência árabe (2).
Enquanto isto a atual Arábia Saudita, um reino hachemita independente desde o século XIII, foi formada por um verdadeiro “trio das Arábias”, que secretamente passaram a se valer dos legítimos aparelhos do Estado para interesses corporativos. Harry St. John Bridger Philby, ou Jack Philby, pai do mais famoso “Kim” Philby, o terrorista e assassino da radical seita Wahabbita, Abdul-Aziz ibn Abdul-Rahman Al Saud, ou ibn Saud, operando sob o comando de T. E. Lawrence, e Allen Dulles, irmão de John Foster Dulles – mais tarde todo poderoso Secretário de Estado de Eisenhower. Os irmãos Dulles eram os advogados de John Rockfeller. Em 1925 ibn Saud toma Meca, exila Hussein para Amman e funda a Arábia Saudita (e a dinastia que leva seu nome).
Os interesses do trio se uniram com o dos grandes negócios: a prospecção de petróleo na Arábia Saudita. O trio consegue uma concessão para a Standard Oil of Califórnia (SOCAL), controladora da Gulf Oil. Na década de 30, com a Grande Depressão, o capital americano do qual Rockfeller e Averel Harriman eram grandes investidores, passou a migrar para onde havia mais lucro: a Alemanha em plena reconstrução, através do Grupo Thyssen. Dulles estabelece uma rede financeira que abarca os donos do petróleo americanos, a Arábia Saudita e os grupos que armavam os nazistas, principalmente Thyssen e I G Farben, onde futuramente se fabricou o Zyklon-B, gás usado nas câmaras de gás dos campos de concentração, baseado numa fórmula originalmente desenvolvida pela Standard Oil para fabricação de borracha sintética.
Nada surpreendente, já que todos eram fanaticamente anti-semitas e contrários ao crescente movimento sionista, baseado na Declaração Balfour que consideravam uma “sórdida traição”. Ao fim da Segunda Guerra Mundial renasce o nacionalismo árabe e o movimento sionista conquista o território ambicionado e cria o Estado de Israel. Contra a vontade, mas sensibilizados pelo terror do Holocausto e pelo fait accompli criado pelos primeiros judeus que se instalaram lá, os países reunidos na ONU “criam” o já criado Estado de Israel. O nacionalismo árabe se escora nas divisões artificiais criadas pelo colonialismo anglo-gaulês, e não segundo as tradições do velho Sultanato. A “primavera” é uma tentativa de recriá-lo.
(Continua: 'De volta ao presente').
Notas:
(1) Inicialmente os romanos usaram esta expressão para se referir ao Mar Tirreno. Em 30 a.C., a dominação romana já se estendia da Hispânia ao Egito, e a expressão passou a ser usada para todo o mar Mediterrâneo, termo revivido no século XX pelo Duce.
(2) Para mais detalhes ver meu Auschwitz e principalmente The Secret War against the Jews: how the Western Espionage betrayed the Jewish People, de John Loftus & Mark Aarons, St. Martins Griffin, NY, 1994.
Fonte: MsM
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