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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Desabafo (II): Inquietos!

DESABAFO (II): INQUIETOS!

Talvez seja essa a expressão que melhor defina os homens pós-modernos. A inquietude da ignorância, da academia, da religião, da prosperidade, da incredulidade, do niilismo, do otimismo, da rebeldia sem causa, das causas sem rebeldia, da eugenia, do racismo, do totatlitarismo, do fanatismo, do consumismo, da hipocrisia. A inquietude vem do vazio e gera os mais diversos tipos de frutos que o ser humano é capaz de idealizar. Sempre fomos inquietos, é verdade, mas, agora, parece que somos mais ainda. Tanta inquietação deveria gerar energia suficiente para que nos inquietássemos com a própria inquietude e raciocinássemos melhor no que estamos despreendendo tanta energia. Apliquei-me a pensar um pouco mais sobre isso, aquiescendo, maturando esta perspectiva e percebi que o homem pós-moderno parece ter caído num dos maiores males da inquietude: aquela inquietação que o leva a viver os processos pelos processos. Não há mais finalidade, não há mais objetividade, não há portos seguros, salvo os próprios processos que criamos e para os quais voltamos todos os nossos esforços de inquietude. Não é à toa que o pragmatismo é a uma das palavras da vez e a ordem é "fazer". Muita gente está fazendo muita coisa... fazendo cursos, fazendo planos, fazendo os afazeres diários e encontrando neste fazer o fim para sua existência. Mas meio não é fim e processos sem objetivos são como os cachorros que seguem os carros - quando os encontram não sabem o que fazer e percebem que sua correria foi em vão... para então voltarem a correr! A inquietude produz outra característica desagradável: a superficialidade. A princípio parece não haver relação entre ambas, mas não creio que seja non sense imaginar que, de tão inquietas, as pessoas tornam-se frívolas. Não é de admirar que isso seja melhor visto nos relacionamentos. Se há algo que caracteriza os relacionamentos atuais é a frivolidade, o que, penso eu, é fruto da inquietude humana. Pode-se dar o nome que quiser - "fluidificação social", reconfiguração das relações humanas ou o que mais os sócio-antropólogos queiram neologizar - mas, a verdade é que a prática tem um nome bastante simples: superficialidade. E isto afeta, inclusive, o relacionamento entre as pessoas e Deus. O filósofo Vattimo até escreveu um livro em que ideologiza um "Cristianismo irreligioso", no seu "Depois da Cristandade", no qual prediz uma sociedade ocidental que reduzirá o Cristianismo, enfim, a mero eticismo humanista. Por quê? Por não haver mais serenidade no relacionamento com o Divino. Esta é uma das heranças da pós-metafísica: o pós-cristianismo, da pós-modernidade. "Pós-modernidade", aliás, é um termo autorreflexivamente ambíguo. Pela primeira vez, na História, demos um nome "pós.." a um período em que ainda vivemos! Não basta definirmos o passado, agora, definimos o presente, arrastando inquietantemente o futuro para dentro das rédeas do que queremos (e pensamos que podemos) determinar. E o tempo passa, hoje, tão depressa, tão inquietante, que não temos mais tempo para nada! Em nossa constante inquietação, não há, obviamente, tempo para pensarmos no tempo. Reduzimos nossa vida a um eterno presente agitado, com um passado confuso e um futuro difuso. E a inquietação segue seu curso, corroendo a existência.

Pr. Artur Eduardo

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