Ela alega que era vontade do militar Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro ser submetido a criogenia (congelamento do cadáver para possível ressurreição), mas as irmãs dizem que nunca ouviram o pedido e querem sepultar o pai em Canoas (RS).
Ligia pôs o corpo na Riopax, uma funerária brasileira no Rio. Está em um caixão de zinco com 20 quilos de gelo seco, sob a supervisão do Instituto americano Cryonics. “A minha batalha é uma prova de amor”, sustenta Ligia, filha do segundo casamento. Caso a decisão judicial seja mantida, o militar será o primeiro brasileiro criogenado.
Mas as filhas do primeiro casamento do militar — Carmem Silvia Monteiro Trois, de 51, e Denise Nazaré Bastos Monteiro, 45 — lutam pelo sepultamento. “Meu pai nunca falou que queria ser congelado. Mantínhamos contato com ele sempre. Queremos sepultá-lo no jazigo da família”, reage Carmem.
Para isso, o advogado Rodrigo Crespo vai recorrer da decisão da 20ª Câmara Cível, que não foi por unanimidade. Dois desembargadores votaram a favor do congelamento e um contra. “Agora, outra Câmara vai julgar o caso”, diz Crespo.
O presidente do Cryonics, Ben Best, garante que só recebe o paciente se todos os membros da família consentirem. Ele afirmou que se o corpo for mantido em gelo seco desde a morte e transportado para o instituto da mesma forma, a decomposição é evitada e ele pode passar pelo procedimento mesmo após meses do óbito.
Brasileiro já é sócio
Apenas um brasileiro já se candidatou para ser criogenado até hoje. O filósofo paulista Diego, de 25 anos, que pediu para não ter o sobrenome divulgado, se associou ao Instituto Cryonics em 2009. Pagou uma inscrição de 1.200 dólares para fazer parte do grupo.
“Gosto muito de viver, sempre vou querer estar vivo no dia seguinte. Não vejo razão para deixar de fazer algo tão legal quanto viver. Sei que a criogenia tem uma probabilidade ainda baixa de dar certo, talvez de 1%. Mas 1% é melhor do que a morte”, define Diego.
Ele faz mestrado em Filosofia na USP, dirige um instituto que estuda ética na evolução tecnológica e está sendo personagem de documentário brasileiro sobre o assunto. O filósofo revela que, uma vez associado ao instituto, há duas maneiras de garantir que o procedimento seja pago e realizado após a morte.
A maioria dos clientes faz um seguro de vida num valor médio de 100 mil dólares, beneficiando a instituição. Ele começou fazendo isso, mas depois passou à segunda opção: escrever procuração autorizando pessoas a mexerem no seu dinheiro para pagar a intervenção.
“Quero já falar com um advogado para garantir que o processo seja fácil. Hoje a Polícia Federal para os corpos na alfândega e abre para ver se há drogas dentro. Um corpo autopsiado não pode ser criogenado”, diz.
Sonho de não morrer custa mais de R$ 71 mil
Para garantir a criogenia no Instituto Cryonics, é preciso pagar 28 mil dólares (R$ 57.400), se o ‘paciente’ já fizer parte do programa antes da morte. Após, são 35 mil dólares (R$ 71.750).
“O paciente é congelado até a ciência descobrir como ressuscitá-lo. Meu palpite é de que isso aconteça nos próximos 52 anos”, explica Ben Best, presidente do Instituto. Há 111 corpos no Cryonics, incluindo o do fundador, Robert Ettinger.
Duas mil pessoas no mundo manifestaram o desejo de serem criogenadas. “Vou entrar no programa. Como meu pai, quero ser congelada”, anunciou Ligia.
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