Irã e Síria são aliados inusitados. O supremo líder iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, comanda um governo religioso, enquanto o presidente sírio, Bashar al-Assad, está à frente de um regime laico e socialista. Além disso, um país é persa e o outro árabe, mas desde a Revolução Islâmica de 1979, no Irã, os dois encontraram razões para se alinharem.
"A aliança entre o Irã e a Síria se aprofundou devido a causas em comum – e inimigos em comum", diz Jubin Goodarzi no livro The Iran Primer. "Seus objetivos estratégicos em comum mantiveram a aliança estável por três décadas, apesar de repetidas investidas para separá-los", afirma. Historicamente os dois países se alinharam para deter um rival em comum, o líder iraquiano Saddam Hussein, para conter os avanços de Israel contra o Líbano e para evitar potenciais investidas dos Estados Unidos para entrar no Oriente Médio.
Outro fator importante da união é o apoio ao Hezbollah, movimento xiita libanês, e aos grupos militantes palestinos islâmicos: o Hamas e a Jihad Islâmica.
Problema ou solução
Diplomatas que negociam o fim da violência na Síria reconhecem a influência iraniana sobre o governo sírio. Kofi Annan, enviado da Liga Árabe e da ONU à Síria, diz que ocorrem negociações para a formação de um grupo de países capazes de influenciar os dois lados. Annan diz esperar que o Irã possa fazer "parte da solução". Mas a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, disse que o Irã seria "parte do problema". Os EUA acusam o Irã de ajudar diretamente o governo Assad com o envio de conselheiros e equipamento militar.
Envolvimento iraniano
O governo do presidente Barack Obama já estabeleceu sanções contra alguns integrantes do governo iraniano por suposto envolvimento na Síria. Em maio de 2011, por exemplo, o Tesouro americano aprovou sanções contra o general Mohsen Chizari, da Guarda Islâmica Revolucionária do Irã (GIR), por ajudar a reprimir os protestos na Síria. A entidade foi criada logo após a revolução islâmica de 1979 para ajudar o país a defender seu regime islâmico e servir de contrapeso ao Exército regular.
Os EUA dizem que outro oficial iraniano, Ahmad-Reza Radan, esteve em Damasco em abril de 2011, quando "se encontrou com oficiais sírios e ofereceu ajuda para o governo atacar o povo sírio". O jornal israelense Haaretz afirmou em fevereiro deste ano que o comandante da Força Quds, a divisão de operações internacionais da GIR, Qassem Suleimani, foi à Síria e atuou no que o jornal descreveu como uma "sala de guerra", manejando forças sírias contra oposicionistas. O Irã negou rapidamente as acusações, afirmando que não interfere em assuntos internos sírios.
Mas grupos oposicionistas sírios apontam um vídeo que mostra homens barbados de uniforme, publicado em abril no Youtube, como prova da presença de soldados iranianos no país. O Exército sírio proíbe barbas. Talvez muito mais conclusiva seja uma entrevista dada pelo vice-comandante da Força Quds da GIR, Ismail Gha'an, à agência de notícia sem-oficial iraniana Isna em 27 de maio de 2012. "Se a República Islâmica não estivesse presente na Síria, o massacre da população teria acontecido em escala muito maior", disse ele.
"Antes de nossa presença na Síria, muita gente foi morta pela oposição, mas por causa de nossa presença física e não-física na Síria, foram evitados grandes massacres", disse. A entrevista foi removida rapidamente do site da Isna e o Irã repete que não tem envolvimento direto com a Síria. Mas a aliança entre os dois países segue firme.
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