Por Raymond Ibrahim, que é associado do David Horowitz Freedom Center (Centro de Liberdade David Horowitz) e membro no Middle East Forum (Fórum do Oriente Médio).
Adaptado por Artur Eduardo
Quando se trata da perseguição dos cristãos pelos muçulmanos, os principais meios de comunicação apresentam um longo histórico de obscurecimento da realidade. Embora possam finalmente apresentar os dados reais - se é que chegam a relatar a história, o que é raro - eles o fazem após criarem e sustentarem uma aura de relativismo moral que minimiza o papel desempenhado pelos muçulmanos.
Falsa equivalência moral
Uma das maneiras mais óbvias é evocar a “disputa sectária” entre muçulmanos e cristãos, frase que apresenta a imagem de dois adversários igualmente competitivos - e igualmente abusados e abusivos - lutando um contra o outro. Isso dificilmente corresponde à realidade das maiorias muçulmanas perseguindo os cristãos passivos amplamente minoritários.
Recentemente, por exemplo, no contexto do bem documentado sofrimento dos cristãos no Egito, um repórter da NPR declarou: “No Egito, tensões crescentes entre muçulmanos e cristãos têm levado a casos de violência esporádica [iniciados por quem?]. Muitos egípcios atribuem as disputas inter-religiosas a vândalos [quem?], que se aproveitam da ausência ou da fraqueza das forças de segurança. Outros crêem que os atos de violência são devidos a uma desconfiança profundamente sedimentada entre os muçulmanos e a comunidade minoritária cristã [como foi que essa “desconfiança” teve origem?]”. Embora a reportagem tenha dado ênfase aos casos nos quais os cristãos foram vitimizados, todo o seu tom - já a partir do título: “No Egito, Aumenta a Tensão entre Cristãos e Muçulmanos” - sugere que também poderiam facilmente ser encontrados exemplos de muçulmanos vitimizados por cristãos [o que não é verdade]. A foto que acompanha o artigo é de um grupo de cristãos irados, levantando uma cruz - e não de muçulmanos destruindo cruzes, que foi o que induziu os cristãos a tais demonstrações de solidariedade.
Duas outras estratégias da grande mídia em esconder ou minimizar o papel do islamismo - estratégias com as quais o leitor deve se familiarizar - apareceram em reportagens tratando do grupo jihadista Boko Haram e do genocídio praticado por ele contra cristãos da Nigéria.
Primeiro, vamos apresentar algum contexto: Boko Haram - acrônimo de “Educação Ocidental é Pecado”, cujo nome completo em árabe é “Sunitas pela Da'wa [Islamização] e pela Jihad [Guerra Santa]” - é uma organização terrorista dedicada à destruição do governo secular e ao estabelecimento da sharia (lei islâmica). Essa organização tem chacinado cristãos há anos, com uma ênfase maior desde o atentado a uma igreja no Dia de Natal de 2011, que deixou pelo menos 40 cristãos mortos; seguido pelo ultimato do Ano Novo, exigindo que todos os cristãos evacuassem as regiões do Norte da Nigéria para não serem mortos - um ultimato que o Boko Haram tem procurado alcançar por todos os meios: dificilmente se passa um dia sem um ataque terrorista contra os cristãos ou contra uma igreja cristã; mais recentemente no dia da Páscoa, num atentado que deixou 20 mortos.
Pastor Umar Mulinde, de Uganda (África), por causa de sua conversão do Islamismo para o Cristianismo. Um homem entrou na Igreja Evangelho da Vida, da qual Mulinde é Pastor, na hora do culto (véspera de Natal de 2011) e jogou ácido em seu rosto. Hoje, a situação de saúde do Pr. Umar é estável. Fonte: Blog Antenados.
Obscurecendo a linha entre perseguidor e vítima
Agora, considere algumas das estratégias da grande mídia. A primeira é estruturar o conflito entre muçulmanos e cristãos de forma que obscureça a linha entre perseguidor e vítima. Foi o que aconteceu, por exemplo, em uma reportagem recente da BBC a respeito de um dos muitos ataques do Boko Haram a igrejas, matando três cristãos, inclusive um bebê. Depois de relatar os fatos mais óbvios em duas sentenças, a reportagem continuou descrevendo como “o atentado deu início a um levante de jovens cristãos, com relatos de que pelo menos dois muçulmanos foram mortos na violência. Os dois homens foram arrancados de suas bicicletas depois de serem parados numa barreira em uma estrada, que havia sido montada pelos amotinados, informou a polícia. Várias lojas de propriedade de muçulmanos também foram queimadas...”. A reportagem segue longamente, com uma seção especial sobre os cristãos “muito enraivecidos”, até que os espectadores acabam confundindo vítimas e perseguidores, esquecendo-se até do motivo pelo qual os cristãos estavam “tão enfurecidos” - ataques terroristas não provocados e ininterruptos a suas igrejas e o assassinato de suas mulheres e filhos.
Esse programa de televisão faz relembrar o atentado que ocorreu na véspera do Ano Novo no Egito, que deixou mais de 20 cristãos mortos: a mídia relatou o caso, mas sob manchetes tais como: “Cristãos em choque com a polícia no Egito depois que o ataque a freqüentadores de uma igreja matou 21 pessoas” (Washington Post), e: “Choques aumentam à medida que egípcios permanecem enfurecidos depois de ataque” (New York Times) - como se a reação de cristãos frustrados contra a chacina fosse uma notícia do mesmo nível ou que tivesse o mesmo valor que a chacina em si, implicando que a reação irada deles “compensou” todas as coisas que haviam acontecido.
Dissimulando a motivação dos perpetradores
A segunda estratégia da mídia envolve dissimular as motivações dos jihadistas. Uma reportagem da Agência France Presse (AFP) descrevendo um outro ataque do Boko Haram a uma igreja - que também matou três cristãos durante o culto de domingo - apresentou um relato justo. Mas, depois, concluiu: “A violência atribuída ao Boko Haram, cujo objetivo permanece amplamente obscuro, já ceifou, desde 2009, mais de 1.000 vidas, inclusive mais de 300 apenas este ano, de acordo com os números registrados pela AFP e grupos de direitos humanos”.
Embora o Boko Haram esteja bradando seus objetivos diretos há uma década - impondo a sharia e subjugando, se não eliminando, os cristãos da Nigéria - a mídia, com aparência de honradez, afirma ignorar quais sejam esses objetivos. Semelhantemente, o New York Times descreveu os objetivos do Boko Haram como “sem sentido” - apesar do grupo continuar a justificá-los com base na doutrina islâmica. Era de se imaginar que, uma década depois dos ataques jihadistas de 11 de setembro - tendo em vista todas as imagens subseqüentes de muçulmanos vestidos como militantes, gritando claramente slogans islâmicos, tais como “Allahu Akbar!” [Alá é o Maior!] e conclamando à imposição da sharia e à subjugação dos “infiéis”- os repórteres já deveriam saber quais são os objetivos deles.
Veja o excerto de uma reportagem sobre a "Igreja subterrânea do Irã", um país em que é quase impossível ser cristão, atualmente.
Logicamente, a maneira como a mídia ofusca os objetivos jihadistas serve a um propósito: ela deixa aberto o caminho para as justificativas politicamente corretas da violência muçulmana, ou seja, “opressão política”, “pobreza”, “frustração” e assim por diante. Assim, pode-se ver por que os políticos, tais como Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, citam a “pobreza” como “aquilo que está alimentando tudo o que está acontecendo” (uma referência à chacina dos cristãos pelo Boko Haram). Em resumo, enquanto a grande mídia até relata os fatos mais frugais relacionados à perseguição aos cristãos, ela utiliza seu completo arsenal de jogos semânticos, frases de efeito e omissões convenientes para sustentar a narrativa tradicional - de que a violência dos muçulmanos é tudo menos um produto derivado da doutrinação islâmica da intolerância.
Fonte: Mídia sem Máscara
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