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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Será que a onda de protesto tem exclusivamente uma motivação religiosa?

O QUE REALMENTE ESTÁ POR TRÁS DA ONDA DE PROTESTOS RECENTES NO MUNDO MUÇULMANO?

 Protestos | Foto: Reuters

Por Sashanki Joshi
Adpatado por Artur Eduardo

Esta semana, enquanto protestos se espalharam pelo norte da África e Oriente Médio, Obama pode ter-se perguntado: o que deu errado? A verdade é que não há uma explicação única. Uma resposta é que a onda de revoltas políticas do ano passado, conhecida como a Primavera Árabe, é responsável. Afinal, os protestos começaram no Egito, que no ano passado tornou-se a democracia mais populosa do mundo árabe, e se espalhou para a Líbia, que tornou-se a maior em área geográfica. A Primavera Árabe, de fato, deu força a uma série de movimentos islâmicos e enfraqueceu as capacidades de reforçar a lei destes países. Neste ambiente político febril, os protestos podem ter tido mais facilidade para começarem, mais simplicidade de serem explorados por extremistas, e mais dificuldade de serem gerenciados por forças de segurança confusas.

O filme como estopim

Mesmo assim, só isso não explica por que alguns dos episódios de violência mais sérios desta semana ocorreram no Sudão, e outras manifestações em locais geralmente mais calmos, como o Catar. Além disso, tal tipo de violência já ocorre muito antes da Primavera Árabe e frequentemente ocorria sob os olhos de ditadores, sendo os exemplos mais recentes as reações à publicação de charges do Profeta Maomé por um jornal da Dinamarca, em 2006.

O segundo argumento é que estamos testemunhando um profundo sentimento de antiamericanismo, silencioso por grande parte do ano passado, fundido ao extremismo religioso, tendo o controverso filme Innocence of Muslims (Inocência dos Muçulmanos, em tradução livre), apenas como estopim.
De acordo com uma pesquisa de opinião do instituto Pew, de junho deste ano, apenas 15% das pessoas em países muçulmanos têm uma opinião positiva dos Estados Unidos, uma redução em comparação aos 25% de 2009.

As pesquisas indicam que o sentimento de antiamericanismo se origina de uma série de queixas, entre elas a política externa de Washington com relação ao conflito entre israelenses e palestinos, as guerras dos EUA no Oriente Médio (Iraque e Afeganistão) e o apoio americano a ditadores da região. A ironia é que, enquanto Barack Obama é muitas vezes ridicularizado por seus críticos no Ocidente por apoiar revoluções de forma ingênua, a maior parte dos árabes vê suas ações como demasiadamente tardias e insuficientes. Na Tunísia, por exemplo, somente um terço da população acredita que a resposta americana à revolução teve um impacto positivo.

 
 Igrea cristã, na Indonésia, destruída pela fúria dos muçulmanos.

Nuances

É necessário, no entanto, diferenciar o sentimento de antiamericanismo do extremismo religioso.
Há várias nuances neste campo entre a população atual de alguns dos países envolvidos nos protestos mais violentos que ocorreram nesta semana. Aqueles com menos de 35 anos, por exemplo, tendem a agir muito mais por motivação política do que religiosa. As pessoas dessa faixa etária, vistas como o verdadeiro motor por trás da Primavera Árabe, têm probabilidade muito menor de rezar diversas vezes ao dia, ir à mesquita regularmante ou ler o Alcorão diariamente.

Há números que também chamam a atenção. No Egito, 35% da população querem que as relações com os EUA permaneçam fortes, e 20% querem que a aliança se solidifique ainda mais. Na Tunísia, 60% dizem gostar dos ideais democráticos americanos e na Líbia 54% aprovam a liderança de Washington.
Os desafios para os EUA, no entanto, são cruciais. Legalmente, há muito pouco que Washington pode fazer para conter a divulgação do vídeo e a política externa não deve ser alterada para atender a queixas regionais. As intervenções de Obama no conflito entre israelenses e palestinos, por exemplo, acabaram de forma humilhante anos atrás, após terem sido rejeitadas por Israel. Além disso, o programa nuclear do Irã ofuscou o processo de paz. ("ofuscou", não, deixou o processo de paz completamente inviável - grifo nosso).

Egito e desafios

A maneira com que o governo egípcio vem lidando com os protestos abalou a confiança de dos EUA no novo presidente, Mohammed Mursi, que apesar da contínua dependência militar e financeira de Washnigton hesitou em condenar os protestos. A declaração de Obama "Eu não acho que consideraríamos [o Egito] um aliado, mas não os consideramos um inimigo" mostra como as relações entre os dois países está mudando.
Veremos mais pressão para que os EUA deixem o Oriente Médio, passem a utilizar "embaixadas fortificadas" e acelerem o processo de focar mais atenção na Ásia.

A ironia é que justamente no momento em que os governos pós-revolucionários mais precisam de ajuda para construir suas instituições, pequenos grupos de suas populações estão tornando a tarefa muito mais difícil.

*Shashank Joshi é pesquisador do instituto Royal United Services, um grupo de pesquisa na área de defesa, e doutorando em relações internacionais na Universidade de Harvard, nos EUA.

Fonte: BBC

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