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quarta-feira, 10 de abril de 2013

"A Coreia do Norte atacará?"

"A COREIA DO NORTE ATACARÁ?"


Por Jeffrey Nyquist
Adaptado por Artur Eduardo


Um ano atrás, neste mesmo mês, a República Democrática Popular da Coreia (RDPC) — Coreia do Norte — prometeu "reduzir todos os grupos ratuínos (da Coreia do Sul)... a pó em três ou quatro minutos ... por meios e métodos peculiares e sem precedentes...". Em resposta, os oficiais da Coreia do Sul insistiram para que a RDPC "parasse imediatamente" com as declarações ameaçadoras. Tais ameaças, eles disseram, servem apenas para aumentar as tensões. Mas, obviamente, esse é o jogo dos coreanos do norte. As ameaças levadas a cabo pela RDPC tiveram como fim aumentar as tensões para que eles recebessem pagamento em troca de um acordo para amenizar o ambiente de tensão logo em seguida. É um sistema simples de extorsão que já foi efetivo. Entretanto, agora as partes ameaçadas não estão respondendo com dinheiro. Em vez disso, elas estão respondendo com suas próprias manobras militares. Essa súbita mudança da conciliação para a exasperação deu início a uma crise.
Na última quinta-feira, a RDPC emitiu um comunicado oficial culpando os “imperialistas dos EUA” por violarem a soberania da RDPC. Por conta da escalada da gravidade da situação, o líder Kim Jong Un, “o brilhante comandante do Monte Paektu, convocou com urgência uma reunião operacional para tratar da performance das (...) Forças Balísticas Estratégicas do Exército do Povo Coreano (...) para ratificar um plano de ataque com forças militares”. O líder Kim declarou abertamente “uma batalha de vida ou morte (...) para pôr fim ao confronto de longa data que eles vêm travando com os EUA e dar início a uma nova era”. A decisão, evidentemente, refletiu “a força de vontade do exército e do povo da RDPC para aniquilar o inimigo”. Segundo a declaração, os militares norte-coreanos estão “cada vez mais irritados” com as várias provocações imprudentes dos imperialistas – as quais incluem: voos militares com aeronaves B-52 no espaço aéreo da Coreia do Sul; treinamentos em que bombardeiros – como os B-2A stealth (invisíveis a radares) – e outras aeronaves de ataque fizeram um voo da América continental até o sul da península coreana, simulando uma situação de bombardeio. “Essa é uma odiosa e imperdoável provocação; uma franca provocação”, diz o comunicado oficial dos norte-coreanos. “Tirando vantagem da imprudente campanha americana em prol de um ataque nuclear contra a RDPC, os fantoches sul-coreanos clamaram por um ‘ataque preventivo’ e por uma ‘forte resposta’ [...] ameaçando abertamente destruir os monumentos simbólicos da dignidade e da suprema liderança da RDPC”.
Após ter se apresentado de modo a parecer um arremedo paranoico de si mesmo – e projetando de modo condensado suas próprias intenções hostis – o governo de Pyongyang acusou os Estados Unidos de “criminosa ambição agressiva” e também acusou os “fantoches” sul-coreanos de tentar invadir a RDPC. Consequentemente, “as ameaças deles (sul-coreanos) já saíram da fase de ameaças e chantagens e entraram na temerária fase de uma guerra real”. Portanto, foi certo e justo, segundo o comunicado da RDPC, “que o Comando Supremo do Exército do Povo Coreano tenha decidido a acertar as contas com os imperialistas americanos e com os fantoches sul-coreanos por meio da política de “Prioridade Bélica” (So’ngun), pois chega um momento em que a fase de conversações acaba.”
Há de se admitir que a declaração da RDPC não soa como uma chantagem. Soa mais como uma declaração de alguém que engoliu a vida inteira propagandas distorcidas dos Estados Unidos e dos “fantoches sul-coreanos”. Na verdade, a declaração da RDPC vem de um líder delirante que é tão insano (pelos padrões mundo afora) que os observadores inteligentes estão meneando a cabeça. Mesmo porque, qual país em toda história do mundo soltou uma declaração com esse teor?
Considere o seguinte trecho do comunicado norte-coreano:

"É a resoluta resposta e firme posição da RDPC em contra-atacar a chantagem nuclear dos imperialistas norte-americanos com um impiedoso ataque nuclear e [...] guerra total. Eles deveriam saber claramente que na era do líder Kim Jong Un, o maior de todos os comandantes, que todas as coisas são diferentes daquilo que costumava ser no passado. As forças hostis perceberão por meio da vontade de ferro, incomparável bravura e extraordinária impetuosidade do brilhante comandante do Monte Paektu, que a terra não pode existir sem a Coréia da "Prioridade Bélica" (So'ngun). Chegou a hora de começarmos a batalha final de vida ou morte."

Deve ser salientado que os gênios militares não emitem declarações oficiais em que se descrevem como gênios militares dotados de "incomparável bravura e extraordinária impetuosidade". Fazer uma declaração desse tipo, quando nunca se lutou numa guerra, é anunciar a própria ignorância e um amor-próprio excessivo. Isto é, de fato, a confissão de um palhaço com o dedo no botão que dispara a arma nuclear. Especialistas dos EUA não estão alarmados, é claro. Eles estão calmos, acreditando que a RDPC não fará nada para ferir seu próprio "interesse pessoal". Infelizmente, o interesse pessoal está nos olhos de quem vê. A respeito disso, deve-se considerar o interesse pessoal de um palhaço que sequer sabe que é um palhaço. Pior ainda, esse palhaço está cercado de lacaios incapazes de avisá-lo do seu comportamento. Pois de que outra forma podemos explicar a declaração da RDPC, que continua assim

"é auto-evidente que qualquer conflito militar na península coreana está fadado a desencadear uma guerra total, uma guerra nuclear (...). O primeiro ataque das forças revolucionárias armadas da RDPC explodirão as bases americanas continentais e as do Pacífico — incluindo Havaí e Guam —; além disso, reduzirá a pó não apenas suas bases na Coreia do Sul, mas também as instituições governantes dos fantoches (os sul-coreanos)..."

Projeção psicológica não é apenas um mito acadêmico. É um mal mental muito real — o mesmo mal que levou Hitler a culpar os judeus pelo começo da Segunda Guerra Mundial. No mesmo sentido, Kim Jong Un culpa os Estados Unidos pela Terceira Guerra Mundial. Ele acredita que os Estados Unidos é um "agressor imperialista". Portanto, no presente contexto, ele não está blefando. Ele está nos dizendo o que de fato pensa.

Os oficiais do governo americano parecem apreciar o atual estado mental de Kim. Eles estudaram o comunicado da RDPC e sabem que estão lidando com uma personalidade delirante. O foco da política americana agora consiste em reagir lenta e calmamente à situação coreana. Especificamente dizendo, os EUA estão evitando declarações severas e demonstrações militares óbvias. Isso não deve ser levado erroneamente como um apaziguamento. É, com efeito, uma política mais cuidadosa para que se possa evitar conflitos desnecessários no momento em que as tensões estão no limite. Na sua melhor tradição de pacificação, significa não voltar à política de mandar mais dinheiro ao regime falido de Pyongyang.

E, sim, a situação é perigosa precisamente porque a RDPC é um estado falido que possui armas nucleares. Seu líder é um megalomaníaco cercado de lacaios que comandam uma população que vive às mínguas de alimentos e uma economia desesperadamente precária. Dada esta situação, tudo que você precisa é um incidente que seja a gota d’água que transborda o copo. Tudo que você precisa é um combate na Zona Desmilitarizada. Uma dentre milhares de coisas pode dar errado e isso bastaria para que entrássemos em uma guerra nuclear.

Na verdade, a guerra nem sempre é produto de cálculos cuidadosos. É, na maioria das vezes, resultado de acidentes, erros de cálculos ou de percepção. Se um dos principais dirigentes está iludido, louco ou é estúpido, há uma boa chance que ele comece uma guerra. Assim, não devemos ser desdenhosos do perigo.

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