Perguntaram-me o que achei da entrevista de Caio Fábio no programa "The Noite", de Danilo Gentilli. O mesmo do que foi dito acerca do filme "Noé", do judeu-americano Darren Aronosky: "Uma oportunidade perdida". Logo no início, Caio revela que a mágoa do que lhe aconteceu estava incontida: abjetar todo o evangelicalismo por não ter recebido o apoio que esperava, não foi e não é o correto a fazer. O seu problema não foi apenas "o divórcio" - como ele enfatizou -, mas ter mantido relações com sua então secretária por 1 ano, quando ainda estava casado e à frente da VINDE e da AEVB, e como ele mesmo disse em "Carta Aberta", a qual escreveu em 1998 e que foi endereçada a todo o meio evangélico da época. Sua lucidez quanto à manipulação que se opera hoje no meio "neopentecostal" (essa sim, abjeta) não é suficiente para, ao meu ver, fazê-lo desistir do evangelicalismo, por mais engessado que pareça. Reduzir toda forma de expressão cristã genuína à "não-institucionalidade" é um erro, pois, embora admitamos que cresça uma categoria hoje chamada de "desigrejada", pelos motivos mais diversos que se imagine, é infantilidade supor que todos ou mesmo a maioria estejam "certos". Muitos "desigrejam-se", pelo que vejo, muito mais predominantemente por questões pessoais do que de cunho doutrinário teológico. Creio que este "desigrejamento" crescente seria muito melhor se a própria classe da liderança cristã evangelical fomentasse uma maior busca do conhecimento bíblico por parte de seus liderados. Se há interesses em se manter o povo em trevas de ignorância (e há!), então como Caio permanece como um dos líderes, por 27 anos, desse "monstro" que a Igreja se transformara e do qual ele parece só ter hoje as piores lembranças? Se ele via tudo isso, sua não adequação não deveria tê-lo feito aumentar sua participação neste mesmo evangelicalismo parasitário, mas ser um agente de transformação. Na verdade, Caio Fábio só veio a denunciar de fato aquilo para o que ele chama a atenção até hoje, a partir de 2002, quando perdeu uma batalha judicial contra o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre dinheiro supostamente desviado para as Ilhas Cayman. Seu companheiro político, Lula, que ganharia as eleições daquele ano, não lhe deu o apoio devido e, ele e toda a turma da Esquerda, com quem Caio realmente tanto trabalhou para que se unissem aos evangélicos, lhe deixaram só e quebrado financeiramente. NADA disso foi sequer veiculado nesta entrevista e quem for jovem e/ou tiver memória curta não saberá que há pontos omitidos, discutíveis e contraditórios nas palavras de Caio. Não foi só parte da liderança evangelical que abandonou Caio.... mas a Esquerda emergente, que tanto o instigou a aliá-la aos evangélicos, que o viu exaurir seus recursos através de um processo judicial baseado em denúncias falsas contra Fernando Henrique, a partir de um dossiê que fora obviamente forjado, à época, pela própria Esquerda.... nada disso -surpreendentemente - foi sequer mencionado por Caio Fábio. Por quê? Tenho INÚMEROS motivos, pelo que vi, ouvi e passei, a ter reservas acerca da liderança evangelical atual... principalmente a midiática. Mas, discordâncias e frustrações à parte, nosdo compromisso é com Deus e com a Igreja. Não reduzo a Igreja do Senhor Jesus às placas denominacionais... é um erro crasso. Mas, reduzir toda e qualquer instituição cristã da atualidade àquilo que Constantino fez no séc. IV, quando lançou as bases da "Igreja Católica" (não o "Cristianismo", como dito por Caio), é outro equívoco tão ou mais crasso!! Não acredito numa simples confusão conceitual na mente de Caio, mas em se valer do problema da ignorância da "massa evangélica" que ele tão eficazmente aponta, para ser ou ao menos parecer ser desonesto intelectualmente, como se séculos de decadência romana não importassem para o declínio educacional e espiritual da Igreja, bem como todos os movimentos pre-reformadores, reformadores, avivalistas e evangelicais posteriores sérios, como os missionários, também não tivessem relevância espiritual positiva e histórica no escopo da história da Igreja Cristã.
Também me achamou a atenção o "tipo" de crítica que a entrevista sofreu. Caio foi chamado, sobretudo, de "mestre da eloquência", "retórico" e "persuasivo" e "louco". Por que esta estratégia fraca de deslegitimizar mais pela forma do que pelo conteúdo, o que Caio falou? Sinceramente, chamá-lo de "louco", "guru", "biruta, "retórico", "persuasivo" é, em grande parte, esquivar-se das questões que ele levanta, apenas para atacá-lo com ad hominem. Estes, ainda que fossem adjetivos que se aplicassem, NÃO são a cerne da questão!! Aparência, eloquência e capacidade de persuadir, por mais força que tenham de iludir, desmoronam-se ante à verdade. É um absurdo focar críticas apenas em aspectos secundários, pensando que tal tática, por si só, desmerecerá o que está se dizendo em contrário. Isto ou é preguiça ou (também) desonestidade intelectual, que parece vir de uma boa parcela de fervorosos críticos de todo tipo de ideias que são contrárias à ortodoxia geral aceita pela Igreja. É necessário um maior vigor intelectual, um melhor e mais concentrado esforço genuinamente apologético afim de que quem vê ou apenas acompanhe o que está sendo dito, sem muito conhecimento dos fatos, convença-se pela solidez e veracidade daquele que melhor os exponha, sendo que, para tal, é necessário ser também "retórico" (no sentido de produzir um discurso coerente, comprometido com a verdade e intelectualmente atraente, como ensinou um dos mais célebres buscadores da verdade dos fatos, o filósofo Aristóteles, autor do clássico "Arte Retórica"). Creio que, nesta minha humilde opinião, fica um alerta claro de que precisamos, todos, ser mais criteriosos, não só com o que vemos e ouvimos, mas conosco mesmo. Numa discussão que une contextos semelhantes, uma crítica a partir de uma auto-crítica sempre será, ao que me parece, a melhor opção.
Um comentário:
LAMENTÁVEL QUE ELE TENHA DESCIDO TANTO.
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