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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

William M. Greathouse - A Primeira Resposta: A Promessa de Deus Somente aos Crentes, Romanos 9.6-29

Nesta seção, o apóstolo dá a sua primeira resposta clara à pergunta implícita no versículo 6: A palavra de Deus fracassou? “Não”, diz Paulo; “A palavra de promessa de Deus, desde o princípio, destinava-se somente àqueles que foram eleitos pela livre graça de Deus”.[1]

a) Os filhos da promessa são os filhos de Deus (9.6-13). No versículo 6, Paulo afirma que Não é que (ouch hoion de hoti, “não é o caso de que”)[2] a palavra de Deus (no sentido do objetivo declarado de Deus) haja faltado (ekpeptoken, “caído ao chão”, Wesley). Se Israelfoi interpretado em um sentido físico ou mecânico, não se pode negar que a maioria de Israel se afastou da Palavra de Deus, que, consequentemente, “caiu ao chão”. Mas Israel não é um termo como Grécia ou Roma; Israel não foi criado pelo sangue e pelo solo, mas pela promessa de Deus. Deus é livre para declarar quem é Israel, e nem todos os que são de Israel são israelitas. “Ou seja, Deus aceita todos os crentes, e somente eles; e isto não é, de maneira alguma, contrário à sua Palavra. Não, Ele declarou na sua Palavra, tanto por tipos quanto por testemunhos expressos, que os crentes são aceitos como os ‘filhos da promessa’, ao passo que os incrédulos são rejeitados, embora sejam ‘filhos segundo a carne’”[3]

No versículo 7, Paulo está negando um ponto de vista universalmente aceito, de que todos os que parecem ou reivindicam ser Israel, na realidade sejam descendência (ou semente) de Abraão (cf. Jo 8.39). Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos. É essencial que compreendamos a ideia de Paulo da “descendência de Abraão” (cf. 4.13, 16, 18; Gl 3.16, 19, 29). As passagens da Epístola aos Gálatas são particularmente importantes, porque elas mostram que “descendência” – ou posteridade – é uma palavra coletiva que se concentra em um Descendente de Abraão, Cristo. Portanto, esta passagem é Cristológica. Cristo é a “posteridade” da promessa (Gl 3.16), mas isto inclui aqueles que, pela fé, estão “em Cristo” (Rm 4.13, 16, 18; Gl 3.29). “É em Cristo que as promessas de Deus se cumprem. Assim, a ideia do versículo 4 recebe uma severa qualificação: as promessas realmente pertencem a Israel; mas... a qual Israel?”[4]

O apóstolo cita Gênesis 21.12 para exemplificar este ponto: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto obviamente significa que: não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência (8). Embora Abraão tenha tido muitos filhos além de Isaque (Gn 25.1-4), aqui se faz referência a Ismael (cf. Gl 4.21-31). A palavra contados (logizetai) é uma das palavras importantes da Epístola; a comparação mais proveitosa aqui é com 4.3: “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado [elogisthe] como justiça” (citado de Gn 15.6). “Isto aponta para a liberdade criativa de Deus, que cria a ‘justiça’ ‘imputando-a’, e anula o pecado não ‘imputando-o’ (6.6, 8). Ele pode suscitar filhos a Abraão a partir de pedras (Mt 3.9; Lc 3.8) e determinar livremente o que é ‘descendência’ e o que não é”.[5] É evidente que descendência (ou semente) é algo que está ligado à promessa. Ismael era um filho legítimo de Abraão, mas o seu nascimento se deu por geração natural. Isaque, por outro lado, nasceu como resultado da palavra criativa da promessa de Deus (cf. 4.19). Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho (9).

A frase E não somente esta (ou monon de; cf. 5.3, para um uso ainda mais forte desta expressão) tem o seguinte significado: “Você pode encontrar alguma falha no exemplo anterior. Afinal, a mãe de Ismael era a escrava Agar, ao passo que a mãe de Isaque era a princesa Sara (G14.21-31). Você pode até mesmo argumentar que, como descendentes de Isaque, todos os israelitas são os filhos da promessa. O exemplo que eu vou dar agora garantirá a minha argumentação contra estas falsas conclusões”. Também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú (10-13). A última sentença é uma expressão idiomática hebraica que significa “eu preferi Jacó a Esaú”.


De um (ex henos) é enfático. Jacó e Esaú não somente têm o mesmo pai; eles também têm a mesma mãe, e a sua origem remonta ao momento da concepção. Assim, as condições imperfeitas que poderiam ser encontradas no exemplo anterior são superadas. A diferença entre Jacó e Esaú é um problema de escolha divina e não de ascendência humana nem mérito. Deus é absolutamente livre; o que quer que aconteça se deve ao seu objetivo soberano, que opera no processo da escolha: para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama. “Chamado” e “fé” são palavras correspondentes: a fé é uma resposta afirmativa ao chamado de Deus, como fica claro a partir do exemplo de Abraão (cf. Gn 12.1-4; Hb 11.8). Obras e “chamado” se relacionam aqui da mesma maneira como obras e fé foram relacionadas anteriormente (cf. 4.4-5, com comentários). “Não são as obras, mas sim a fé, que leva à justificação; não são as obras, mas sim o chamado de Deus, que dá acesso à promessa. Estas são maneiras diferentes de expressar a mesma verdade”.[6] Obviamente, Paulo ainda está desenvolvendo a sua doutrina da justificação pela graça (gratuita) de Deus.

Quando ele declara que O maior servirá o menor (12), a sua referência não é aos dois irmãos, mas sim à sua posteridade. Esaúnunca esteve sujeito a Jacó, mas os edomitas (os seus descendentes) sempre estiveram sujeitos a Israel. O profeta Malaquias (Ml 1.2-5) está de acordo com estas palavras de Gênesis 25.23 – Amei Jacó (Israel) e aborreci (comparativamente) Esaú (Edom). O contexto em Malaquias deixa claro que são as nações de Israel e Edom que são consideradas aqui. Este é um exemplo da oscilação comum no pensamento bíblico (e particularmente no Antigo Testamento) entre a personalidade individual e a coletiva (cf. 5.12-21). “Israel era a nação escolhida, e Edom incorreu na ira de Deus por causa da sua conduta não fraternal com relação a Israel no dia da calamidade de Israel”.[7]“Observem”, diz Wesley, “1) Isto não está relacionado com a pessoa de Jacó nem com a de Esaú; 2) isto não está relacionado com o estado eterno de nenhum deles, ou da sua descendência. Até agora o apóstolo estava provando a sua proposição, ou seja, de que a exclusão de uma grande parte da descendência de Abraão, e da de Isaque, das promessas especiais de Deus, estava tão longe de ser impossível que, segundo as próprias Escrituras, já tinha verdadeiramente acontecido”.[8]

A essência da argumentação de Paulo é que Deus opera com base no seu propósito de eleição. Ao detalhar a sua argumentação, ele usa descendência (ou semente) de duas maneiras: a) para definir os descendentes naturais de Abraão (7a), e b) os filhos da promessa (7b). Como vimos, no sentido espiritual a descendência de Abraão se restringiu até tornar-se Cristo (Gl 3.16) e posteriormente se expandiu para incluir aqueles que estão em Cristo (Gl 3.29). “Isto quer dizer que a escolha não acontece (como poderia parecer à primeira vista, a partir dos exemplos de Paulo) arbitrariamente nem casualmente, mas sempre e somente em Cristo. Aqueles que estão nele são os eleitos; aqueles que são os eleitos estão nele”.[9] Foi a falta de compreensão deste ponto essencial que causou a confusão sobre a doutrina da predestinação e da eleição de Paulo. A seção seguinte esclarecerá esta ideia.

b) Deus é soberano na misericórdia e na ira (9.14-29). Paulo acaba de mostrar que tudo depende do propósito e da eleição de Deus, e não das nossas obras (11). O fato de Deus ter escolhido Abraão, Isaque e Jacó não dependeu deles em nada; Jacó nem mesmo tinha nascido quando Deus o escolheu e estabeleceu a sua promessa para ele. A escolha dependeu unicamente da vontade graciosa de Deus. Mas esta é a natureza da graça e da promessa. Se dependesse de qualquer outra coisa, a graça não seria graça, e a promessa não seria promessa.[10]

Se tudo depende do propósito de Deus na eleição, uma aparente conclusão poderia ser que Deus é injusto. Que diremos, pois, em vista do argumento anterior... Que há injustiça da parte de Deus? Paulo está tão ansioso quanto nós para negar esta ideia. De maneira nenhuma! Deus é sempre justo, e absolutamente justo! Mas como podemos refutar as objeções?[11]


Paulo começa com uma citação do Antigo Testamento. Pois ele diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia (15; Êx 33.19). Ele simplesmente desqualifica a objeção. Deus é soberano ao conceder a misericórdia.[12] A misericórdia não é conquistada; ela só pode ser recebida em fé e gratidão. Se um homem merecesse esta graça, ela na verdade não seria misericórdia (cf. 4.2-4). Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece(16). Deus, e não o homem, define os termos nos quais Ele irá nos receber na sua graça. “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar”. Imediatamente, o Senhor acrescenta: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.7-8). Na plenitude dos tempos, aquelas palavras se tornaram fé em Cristo como meios para a justiça de Deus (3.21-28; cf. 9.30-10.4). Que direito tem aquele que quer (cf. 7.14-25) pensar que pode trazer Deus aos seus próprios termos (cf. vs. 31-32)? Ou seguimos os termos de Deus, ou não encontraremos misericórdia. Mas isto não é um ato de arbitrariedade divina; a nossa redenção em Cristo é o derramamento da sua misericórdia. Pelo fato de Deus ser misericordioso é que nós podemos ser justificados pela fé; e Deus está determinado a nos tratar com base na misericórdia. Na verdade, se Ele nos tratasse de outra maneira, quem sobreviveria? (Cf. SI 130.3-4).[13]

Mas Deus também é soberano na ira. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer (17-18). A citação que Paulo faz aqui é uma tradução livre de Êxodo 9.16. Esta citação possibilita dois novos pontos. Faraó foi erguido: 1) como uma oportunidade para a demonstração do poder de Deus, e 2) para que o nome de Deus fosse anunciado em toda a terra. Se não tivesse existido o “Faraó da opressão”, não teria existido o Êxodo, com uma demonstração tão grande do poder de Deus.[14]

Barrett faz um comentário apropriado: “Na época atual, Israel (como o Faraó, na dele) existe com um duplo objetivo, (i) o de proporcionar a oportunidade ou o contexto para um ato divino de libertação – no qual os homens são libertados da lei, e, portanto, do pecado e da morte; (ii) o de agir como causa para a propagação do ato de libertação de Deus em todo o mundo – o que ocorreu precisamente porque Israel rejeitou o evangelho (11.11, 15, 19, 25)”.[15] Desta maneira, Deus anula a vontade própria da humanidade e faz com que a ira dos homens redunde em louvor a Ele.

Existem dois lados para a questão da soberania divina. “Ele se compadece de quem quer” (NASB), é um lado. O outro lado é: “Ele endurece a quem quer”. Embora não devamos suavizar esta verdade, “endurecer” não implica numa rejeição final. Nós já encontramos este pensamento em 1.24, 26, 28, onde está dito que Deus entrega os homens ao pecado. “Quando o homem se volta para o pecado, ele o faz pela sua própria vontade; mas ao mesmo tempo a ira de Deus o obriga a isto”.[16] Existe uma passagem paralela em outra Epístola. Para aqueles que creem, e que estão sendo salvos, o evangelho é “o cheiro de vida para vida”, mas para aqueles que estão morrendo na falta de fé, “o cheiro de morte para morte” (cf. 2 Co 2.15-16). Todos os objetivos de Deus, desde o primeiro até o último, são governados pela misericórdia. Apesar disso, “endurecer” é uma palavra ofensiva, e Paulo imagina o seu interlocutor levantando outra objeção, a que vem a seguir.

Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade? (19) Se Deus trata os homens como Paulo explicou, eles não têm responsabilidade moral. Deus não tem o direito de condenar um pecador a quem Ele mesmo endureceu. Mas Paulo levanta esta questão não para respondê-la, mas sim para eliminá-la. Em vão procuramos a resposta de Paulo ao problema da relação entre a soberania divina e a liberdade humana. Ele afirma ambas as verdades ao mesmo tempo, sem nenhuma tentativa de fazer especulações teológicas. A base da rejeição de Israel está no objetivo de Deus, mas na próxima resposta ele acusa Israel da responsabilidade de rejeitar o chamado de Deus. A única resposta que ele dá é que Deus é Deus e que o homem não tem nenhum direito de responsabilizá-lo de nada.[17] Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (20-21).

Deus não responde ao homem. Pois a criatura julgar o Criador é um orgulho pecaminoso, uma tentativa de ultrapassar o eterno abismo que separa Deus de toda a existência criada. “Mas Deus merece que se confie nele, como agindo coerentemente com o seu caráter, que foi supremamente revelado em Cristo. Com um Deus assim em quem confiar, por que qualquer pessoa do seu povo questionaria os seus métodos?”[18] Paulo insiste em que, exatamente como um oleiro pode moldar o seu barro na forma do vaso que ele escolher, também Deus tem toda a liberdade para fazer o que Ele quiser com a humanidade que Ele criou para a sua glória, e o homem não tem mais direito de retrucar, do que tem o barro do oleiro.[19] “Mas o problema é que o homem não é um vaso; ele vai perguntar: “Por que você me fez assim?”, e ele não será silenciado”.[20] “Naturalmente, o homem não é um vaso”, completa Barrett, “e perguntas obstinadas surgem na sua mente. E pelo fato de a mente humana fazer tantas perguntas sobre a lei divina relacionada ao universo, que obras como a Epístola aos Romanos são escritas. Ressaltar este poder, no entanto, é enfatizar um detalhe na analogia, ao invés da comparação principal, que é feita entre a responsabilidade final do oleiro pelo que ele produz, e a responsabilidade final de Deus pelo que Ele faz na história. ‘Tudo depende, não de um homem que realize a sua vontade... mas do Deus misericordioso’ (v. 16)”.[21]


O que Paulo acaba de dizer sobre o Faraó agora se transfere a Israel. E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (20-24). Da mesma maneira como Deus... suportou com muita paciência a maldade de Faraó, Ele também suportou a falta de fé de Israel. Da mesma maneira como a obstinação e a falta de fé de Faraó proporcionaram a oportunidade para uma demonstração do poder de Deus e a propagação do seu Nome por toda a terra, também a obstinação e a desobediência de Israel proporcionaram a oportunidade para uma exibição das riquezas da sua glória ao salvar aqueles que creem em Cristo, e para a propagação do evangelho pelo mundo inteiro.

Nos versículos 22-24 temos a seguinte sequência: aDeus... suportoub) porque ele estava querendo isto; c) Para que. Tudo o que Deus fez, Ele o fez para que desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, isto é, aqueles a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios. A parte (a) não é muito difícil. A resistência e o sofrimento de Deus se referem ao fato de que Ele ainda não chegou ao seu dia da ira (2.5); ele deseja levar os homens ao arrependimento (2.4). Entre estas duas, a frase (b) parece querer dizer que Deus desejava revelar tanto a sua ira contra o pecado quanto o seu poder salvador (cf. 3.26). “E se este for o objetivo que está por trás da escolha de Deus? Na glória e na ira, ele está manifestando a sua justiça, e todas as suas ações têm raízes na misericórdia, que é tudo o que ele vai usar para lidar com os homens”.[22]

Nos versículos 25-29 aparece uma série de citações do Antigo Testamento para mostrar que, ao chamar a sua Igreja entre os judeus e os gentios, Deus cumpriu a sua palavra de promessa, como tinha sido a intenção desde o princípio. Como também diz em Oséias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada (25; Os 2.23; cf. 1 Pe 2.10). Paulo a seguir cita um versículo anterior da mesma profecia: E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo(26; Os 1.10). Embora Paulo sem dúvida esteja pensando no chamado dos gentios, é possível que ele também estivesse pensando (como foi o caso de Oséias) no lapso temporário de Israel, e na sua subsequente salvação (cf. 11.25-26).

Seguem-se duas passagens de Isaías. Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a (27-28; Is 10.22-23). O remanescente (to hypoleimma) significa Paulo e seus compatriotas (3) que vieram a crer em Cristo. O fato de esteremanescente existir testemunha perfeitamente a misericórdia de Deus, pois, Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra (29; Is 1.9). Uma vez mais, encontramos a palavra descendência que aqui foi identificada com o remanescente da graça, ou seja, aqueles que creem em Cristo.

As citações anteriores testemunham o fato de que Deus cumpriu plenamente a sua promessa. Elas fornecem o suporte do Antigo Testamento para o evangelho da graça de Paulo. A Igreja de Jesus Cristo, composta tanto por judeus quanto por gentios que creem, foi escolhida pela livre graça de Deus, e constitui o remanescente prometido.[23]

Fonte: Comentário Bíblico Beacon, Vol. 8, pp. 137-142.



[1]Goppelt, op. cit., p. 153.
[2]ICC, “Romans”, p. 240.
[3] Wesley, Explanatory Notes upon the New Testament, pp. 555-56.
[4] Barrett, The Epistle to the Romans, p. 181.
[5]Ibid.
[6]Ibid., pp. 181-82.
[7] Bruce, The Epistle of Paul to the Romans, p. 193.
[8] Explanatory Notes upon the New Testament, p. 557.
[9] Barrett, loc. cit. Veja os comentários sobre 8.28-30. Assim, os “eleitos” são aqueles que respondem ao chamado de Deus com arrependimento e fé, e aqueles queperseveram até o fim (Mt 24.13; 1 Co 9.27; 2 Pe 1.10).
[10]Nygren, op. cit., p. 364.
[11] Em 3.5-8, Paulo declarou a justiça de Deus. Não existe lugar para a injustiça (adikia) com Deus; todo o evangelho é, antes, uma exibição da Sua justiça (dikaiosyne theou, 1:17). “Mas na expressão ‘De maneira nenhuma!’ de Paulo, está um fato ainda mais fundamental. Paulo não está simplesmente respondendo a pergunta com uma negativa; ele está negando a estrutura da própria pergunta” (ibid., p. 365).
[12] “É preciso observar que estes versículos enfatizam não somente a liberdade de Deus, mas também a sua misericórdia... A misericórdia (eleos; verbo, eleein) é a chave dos capítulos 9 a 11, como será demonstrado passo a passo... Aqui, onde a palavra aparece pela primeira vez, ela se satisfaz em apontar para a sua última ocorrência: Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia (11.32)” (Barrett, The Epistle to the Romans, p. 185).
[13] Aqui, portanto, está a segunda garantia contra a ideia da arbitrariedade divina na escolha: o processo é o resultado do caráter de Deus como amor agape (cf. Ef 1.4-5, RSV). Sobre a primeira garantia, veja 8.28-30 e o versículo 7, com comentários.
[14] Wesley observa que Deus deu a Faraó todas as oportunidades e o encorajamento para arrepender-se, antes de fazer dele o objeto da Sua ira e do Seu poder. “Para isto mesmo te levantei – isto é, a menos que você se arrependa, esta será certamente a consequência do fato de que Eu ‘te levantei’.., talvez esta expressão possa ter um outro significado. Parece que Deus estava decidido a mostrar o Seu poder sobre o rio, os insetos, os outros animais (com as consequências naturais sobre a saúde, as doenças, a vida e a morte daquele povo), sobre os meteoros, o ar, o sol (todos adorados pelos egípcios, com quem outras nações aprenderam a idolatria), e de uma só vez sobre todos os deuses deles, por aquele ato terrível de atingir todos os seus sacerdotes, e as vítimas mais prezadas, os primogênitos dos homens e dos animais. Tudo isto tinha como objetivo, não somente libertar o Seu povo Israel (com um único ato de onipotência já teria sido suficiente) mas convencer os egípcios de que os objetos da sua adoração não eram nada mais do que criaturas de Jeová, que estavam completamente sob o Seu poder, e dar uma lição aos egípcios e às nações vizinhas – que ouviriam todas estas maravilhas – por causa de sua idolatria, para que adorassem ao Único Deus. Para a realização deste objetivo... Deus se satisfez em levantar do trono de uma monarquia absoluta um homem, não um homem que Ele tivesse propositadamente criado como um homem mau, mas aquele que Ele assim encontrou, o mais orgulhoso, o mais ousado e obstinado de todos os príncipes egípcios; e que, sendo incorrigível, bem mereceu ser colocado nesta situação, onde os julgamentos divinos foram os mais pesados” (Explanatory Notes upon the New Testament, pp. 557-58).
[15] The Epistle to the Romans, p. 187.
[16] Nygren, op. cit., p. 367.
[17] Para Paulo, a soberania divina e a liberdade humana se reconciliam na experiência cristã. Sabemos que se formos salvos, será pela graça de Deus, e se nos perdermos, será pela nossa própria perversão. O apóstolo está determinado a preservar estas duas convicções, a salvaguardar tanto a prioridade divina quanto a responsabilidade humana na salvação.
[18] Bruce, The Epistle of Paul to the Romans, p. 195.
[19]Veja Is 29.16; 45.9-10; Jr 18.1-6.
[20]Dodd, op. cit., p. 159.
[21] The Epistle to the Romans, p. 188.
[22] Ibid., pp. 190-91.
[23] “E com relação a isto, e não antes disto, que temos o primeiro exemplo da teologia primitiva cristã sobre a ideia de ‘remanescente’ do Antigo Testamento (Goppelt, op. cit., p. 155).

Fonte: Arminianismo

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