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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Confusão da "Pós-Modernidade"

Há um tal de Bauman, filósofo e sociólogo, para quem tudo é "líquido". Estaríamos no tempo dos "relacionamentos líquidos", "instituições líquidas"... e tudo líquido, fluídico, passageiro. Isso seria o que mais caracterizaria a "pós-modernidade". Bem, qualquer análise da "pós modernidade", ao meu ver começa errando pelo fato de tratar nossa época por um termo que, penso, não subsiste.

"Líquida" - seja lá o que isso signifique exatamente -, em termos do que geralmente se entenda, volátil, passageiro, mutável, não é senão a Modernidade, cujos princípios têm regido a sociedade ocidental há 300 anos. A Modernidade, chamada de "ponto de virada" por alguns estudiosos, veio com a força de mil bombas atômicas para uma mentalidade anterior, que se caracterizava pela repressão dos impulsos inerentes à Razão, como o questionamento, a inquirição. Aquela época anterior, a qual chamamos hoje de "Medieval", era aridamente "sólida" e contrária àquilo que surgiria a partir do século XVII, inicialmente com o revisionismo essencial do significa o próprio conhecimento.
Nestes termos, percebe-se que o conhecimento permanece como "a bola da vez", e isso por 300 anos. São as novas formas de pensar o conhecimento que reescrevem continuamente a Modernidade e algumas daquelas são tão elásticas e fortuitas que têm-se a impressão de que passamos para uma nova fase, um novo tempo, uma nova época, que merece ser chamada de algo novo. Como "neomodernidade" poderia não fazer jus às pretensões de classificação dos analistas mais ávidos, preferiu-se um termo aonda mais radical: "pós-modernidade". E, incrivelmente, o veio que inaugurou a Modernidade parace ser o que mais falta aos pensadores da "pós-Modernidade", ou seja, o conhecimento se si própria. E este é um dos motivos do grande equívoco deste termo.
É esta falta do conhecimento do continuísmo essencial da Modernidade que não nos permitiu enxergar nossa elevada presunção. Ao taxarmos nossa época de "pós alguma coisa" decidimos, intrinsecamente, que a nomenclatura que define nosso tempo carrega um significado que a diferencia estrutural e consequentemente da Modernidade, o que, entendo, não se justifica. Pelo contrário, o projeto da Modernidade parece ter chegado à maturidade, passando pelos percalços, críticas e ceticismo do seu sucesso. Isto fica mais fácil de entender quando substituímos alguns termos inerentes do otimismo moderno por outros mais, digamos, atuais:
- "Mecanizado" por "Tecnologizado";
- "Racional" por "Psicologia filosófica";
- "Estado Novo" por "República Democrática";
- "Supressão política" por "Totalitarismo";
- "Positivismo antropológico" por "Sociologia";
- "Humanismo ético" por "Ateísmo prático"
E por aí vai.
Percebe-se, portanto, que a Modernidade reconfigurou-se, realinhou parâmetros, adequou-se à tecnologização onipresente nas sociedades, mas ao mesmo tempo consolidou objetivos e perspectivas, em meio a tudo. A transformação pela qual passou a Modernidade está mais para os estágios de desenvolvimento de uma pessoa, da tenra idade à adulta, do que a mudança de uma coisa em outra. Apesar de parecer uma transformação essencial, na verdade é uma mudança da realidade circunspecta, não essencial. A Modernidade "cresceu" e chegou ao estágio de compreender-se a si própria e, incrivelmente, não é o que tem acontecido, senão uma confusão atual sobre forma e conteúdo.
Diante do exposto, insisto: a Modernidade, e nenhuma outra coisa, porque nada há "além" desta, segue sendo nosso maior desafio.

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