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quinta-feira, 17 de março de 2016

Breve história do avivamento da "Rua Azusa", o berço do pentecostalismo contemporâneo - Parte II

Dando sequência a primeira parte do artigo dedicado a História do reavivamento da Rua Azuza, essa segunda parte vai tratar das biografias dos dois grande nomes do Pentecostalismo mundial: Parham e Seymour. Ao final, há umas poucas linhas dedicadas a fatos curiosos sobre esse período. Para esse estudo foram utilizadas duas obras que tratam do tema: “2000 Years of Charismatic Christianity” de Eddie L. Hyatt e “Thinking in the Spirit: theologies of the early Pentecostal movement” de Douglas G. Jacobsen, além de consultas ao site www.christianhistoryinstitute.org.
Nos dias que se seguiram após a histórica reunião do dia 6 de abril de 1906 em casa dos Asberry, na Rua Bonnie Brae, 244 em Los Angeles – Califórnia – EUA, quando aconteceu a manifestação espontânea e contagiante do Espírito Santo, ocorreu algo inesperado: multidões cada vez maiores, como que atraídas naturalmente, começaram a convergir para lá. Segundo Douglas G. Jacobsen, destacado estudioso do  pentecostalismo na América, todos os indivíduos dessa primeira reunião foram atingidos; caíram ao chão e imediatamente começaram a falar em linguas estranhas bem como muitos da multidão sque para lá acorria diariamente, também receberam esse poder.
Com a multidão – cada vez maior – se acotovelando espremida na casa, chegou ao ponto do alpendre ceder ao peso de tantas pessoas, levando a liderança a rapidamente optar em mudarem-se para um local maior. O prédio escolhido foi o templo que sediou a congregação Metodista Episcopal Africana na Rua Azuza, 312. Em condições precárias, ele abrigava simultaneamente um estábulo e um armazém geral. Seymour e voluntários, limparam o local, improvisaram um púlpito ao centro do salão e com barris antigos de prego, construíram bancos, colocando tábuas sobre eles. Assim, nessas condições e ainda inflamados pelo fervor espiritual, no dia 14 de Abril de 1906, a Missão abriu suas portas para o público.
O movimento pentecostal inicialmente envolveu um minúscula parcela da população cristã nos EUA, abrangendo no ano de 1925, em torno de 100 mil seguidores contra mais de 100 milhões de cidadãos norte-americanos. Teve início basicamente constituído da classe trabalhadora, embora alguns poucos mais pobres e mais ricos também fizessem parte. Geograficamente compunham de toda parte dos EUA, porém não constava, até onde se sabe, nenhum nome da elite intelectual norte-americana.

Charles Parham deflagra o braseiro

Negar a importância de Parham para o movimento de reavivamento da Rua Azuza é cometer desonestidade intelectual. Se foi sob a liderança de Seymour que o movimento viveu seu apogeu, foi com Parham que Seymour teve o entendimento teológico e o despertamento de buscar pelo reavivamento. Charles Fox Parham (1873-1929), foi um evangelista itinerante, de influências metodista e no protestantismo britânico. Ele tinha uma visão pessoal de levar o evangelho em nível mundial, por outro lado, era da opinião que a igreja do seu tempo ainda não estava capacitada com o poder espiritual necessário para cumprir o mandado da “Grande Comissão” (Marcos, 16:15).
Ele ansiava pelo derramamento efusivo do Espírito sobre a Igreja que a tornaria uma força dinâmica e ativa na terra. Após viajar por diversos lugares dos EUA, ele decide, em outubro de 1900, juntamente com sua esposa Sara e a cunhada Lilian Thistlethwaite, abrir a Escola Bíblica Betel em Topeka, Kansas. A escola tinha o propósito de obedecer e viver os mandamentos de Jesus e foco em oração constante, na qual os alunos mantinham-se intercalando em vigília de oração diuturnamente.
Um fato curioso desse período, foi quando o aluno Capitão Tuttle teve a visão de como se fosse um corpo d’água pairando sobre a escola quase por transbordar. Parham interpretou essa visão como se o derramamento do Espírito Santo estivesse para acontecer em breve, o que fez aumentar ainda mais seu senso de urgência em relação a estar preparado para essa grande visitação pela qual ansiava.
Há três dias da véspera do Ano Novo de 1900, Parham foi convidado a pregar na cidade de Kansas. Antes de partir ele estimulou seus alunos a estudarem o assunto “Batismo no Espírito Santo”, pesquisando por objetivos e evidências bíblicas – especialmente no livro de Atos – na qual uma pessoa pudesse assegurar-se verdadeiramente que havia recebido o batismo no Espírito Santo. Quando ele retornou, na véspera do Ano Novo, reuniu os alunos e quis saber a conclusão que tinham chegado. Para sua surpresa, todos tinham chegado a mesma conclusão: a prova cabal do batismo no Espírito Santo era o falar em novas linguas (glossolalia).
No culto da vigília para a passagem do ano (1900-1901) – ou culto da virada como é conhecido hoje – perto das 23h, às vésperas do século XX, Agnes Ozman (1870-1937) reconhece a autoridade espiritual de Parham e pede que ele ore para ela receber o batismo no Espírito Santo conforme vinham estudando e buscado há tempos. Um tanto hesitante com o pedido inusitado, ele impõe sua mão sobre a cabeça dela e após proferir umas poucas palavras ela foi tomada pelo Espírito Santo e começou a falar numa outra lingua e assim permaneceu por três dias, sem conseguir falar seu próprio idioma. Provavelmente no dia 3 de Janeiro de 1901, o próprio Parham também recebeu o batizado no Espírito Santo. Vários outros que foram para a Escola Betel buscar o batismo no Espírito Santo nesse período, também receberam. Contudo, no verão desse mesmo ano, a casa que abrigava a escola foi vendida e o grupo disperso.

William J. Seymour, o líder do reavivamento da Azuza

William Joseph Seymour nasceu em Centerville, Louisiana no ano de 1870. Filho de ex-escravos católicos, ele e seus irmãos acabaram por ser batizados na Igreja Católica. Por conveniência da distância, frequentavam uma Igreja Batista próxima à sua casa. Na infância era conhecido por ter sonhos com viés espiritual e visões.
Aos vinte e cinco anos mudou-se para Indianápolis e engajou-se na Igreja de Deus, organização cristã de orientação multirracial e santidade. Essa característica de aproximação e conciliação entre brancos e negros, em tempos de segregação racial foi um ponto marcante na personalidade de Seymour. Em 1900, foi para Cincinnati, onde frequentava de forma irregular a Escola Bíblica de Deus. Nesse período contraiu varíola que acabou por deixá-lo cego permanentemente do olho esquerdo. Em 1903, Seymour volta para o Sul e passa a viver como um reavivalista itinerante entre o Texas e Louisiana.
Em 1905 os destinos de Seymour e Parham se cruzam. Nesse ano, Seymour estabeleceu-se em Houston, Texas e passou a frequentar uma igreja de orientação focada em santidade, pastoreada por uma mulher de nome Lucy Farrow. Lucy foi convidada a ser governanta da família Parham em Kansas e deixou Seymour incumbido de dirigir a igreja. No entanto, Lucy permaneceu pouco tempo lá e quando voltou, a família Parham também veio para Houston. Nesse mesmo ano, Parham dirigiu campanhas reavivalistas bem sucedidas o que levou jornais locais a noticiarem sobre curas e outros fenômenos que ocorriam nesses cultos.
Numa visão para preservar a chama do reavivamento acesa, Parham abre a Escola Bíblica – com treinamentos de curto período – para formar obreiros e líderes que dessem seguimento ao trabalho. Seymour ao tomar conhecimento desse curso, matricula-se imediatamente. Isso tornou-se um problema, pois Seymour era negro e as leis de segregação racial e costumes da época impediam que ele frequentasse as aulas com brancos. Parham – que era branco – contorna a situação instruindo Seymour a ficar sentado numa área anexa, de onde poderia ouvir e assistir às aulas, cuja sala era mantida com a porta aberta com esse propósito.
Seymour afirmou certa vez: “Antes de encontrar Parham, eu já vivia faminto por mais de Deus em meu coração. Orei cinco horas por dia durante dois anos e meio. Fui para Los Angeles e lá essa fome por mais de Deus permanecia a mesma. Orei, ‘Deus, o que eu faço?’ O Espírito Santo disse: ‘Ore mais’. Clamei: ‘Senhor, já estou orando cinco horas ao dia’. Aumentei o período de oração para sete horas ao dia e assim permaneci por mais um ano e meio. Orei a Deus pelo que Parham tinha pregado; receber genuinamente o Espírito Santo, com fogo, linguas, amor e o poder de Deus como os apóstolos tiveram”.
Antes de completar o curso com Parham, Seymour recebeu um convite de Los Angeles de Neeley Terry, amiga de Lucy Farrow, para pastorear uma congregação de lá. Após ter orado sobre a proposta, decide aceitar. O próprio Parham providencia sua passagem de trem e o abençoa na nova etapa. Nesse período, Seymour já tinha superado a fase da mera teologia da santidade e sob tutela de Parham estava se tornando no pentecostal que aguardava ansiosamente o derramamento do Espírito Santo sobre sua vida.
Em Los Angeles, ainda sem ter recebido o batismo no Espírito Santo, Seymour prega sobre o falar em linguas como evidência genuína do batismo no Espírito Santo. Líderes da igreja ficaram chocados e acharam essa abordagem inaceitável, fechando as portas da igreja para ele. Contudo, alguns aceitaram a mensagem e o acolheram; entre eles Edward Lee, e o casal Richard e Ruth Asberry que cederam sua casa para as reuniões.
Na noite do 6 de abril de 1906 em casa dos Asberry, na Rua Bonnie Brae, 244 em Los Angeles – Califórnia – EUA, enquanto tomavam sopa, após anos de intensa busca, uma vida dedicada à santificação, começando pelo Sr. Richard Asberry, o Espírito Santo manifestou de tal forma que impactou-o repentinamente; não suportando tamanho poder, caiu ao chão e passou a falar em linguas estranhas. A fagulha inflamou-se e outros, inclusive Seymour foram batizados no Espírito Santo e falaram em novas linguas.
Após a mudança para a Rua Azuza, Seymour consolidou-se como um líder pentecostal. Tinha reputação de homem com um coração humilde, intercessor e adorador obstinado, que dava oportunidade para muitos pregadores itinerantes e outros líderes que para lá acorriam. Ao menos duas vezes teve que tomar posição e confrontar dois líderes pentecostais famosos que pretendiam arrebatar a Missão de suas mãos. O primeiro foi seu ex-professor Parham e o segundo William Durham. Em ambos os casos Seymour estabeleceu-se como líder, reafirmando sua posição. Não permitiu confundirem-no com um simplório, fosse quem fosse, que pretendesse aproveitar-se da sua conduta cordial e da sua gentileza.

Fatos curiosos

Seymour orou por 4 anos, ao menos cinco horas por dia antes receber o batismo no Espírito Santo.
Da tradição pentecostal iniciada com Parham, Agnes Ozman foi a primeira pessoa a receber o batismo no Espírito Santo em 31 de dezembro de 1900.
Não havia nenhuma restrição para as mulheres dirigirem igrejas naquela época, haja vista, as duas que Seymour assumiu foi das mãos de mulheres (Neeley Terry e sua amiga Lucy Farrow).
Seymour casou-se apenas aos trinta e oito anos, após o reavivamento estar em franca expansão.
Após o falecimento de Seymour em 1922, sua esposa Jenny Moore pastoreou a Missão da Fé Apostólica até 1931, quando veio a falecer também.
No período de intensa segregação racial, Seymour foi iniciado no pentecostalismo por um pastor branco (Charles Parham) que usou de criatividade para que ele frequentasse as aulas de seu curso bíblico e tivesse o treinamento; essencial para posteriormente fazer o que tinha para fazer.
A Missão da Fé Apostólica era dirigida por um pastor negro, mas no início a grande maioria dos frequentadores era de brancos e hispânicos.
O reavivamento da Rua Azuza agregou e não dividiu as pessoas. Só não viu, nem entendeu isso, aqueles que estavam com os olhos fechados para a realidade.
Fonte: GP

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