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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Análise do filme "A Bruxa", sob uma perspectiva cristã




"...para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios",
2 Coríntios 2:11b

Primeiro, gostaria de tranquilizar o leitor acerca deste texto e explicar-lhe o que ele não é. Não é nenhuma "crítica" ao filme "A Bruxa", até porque não sou crítico de cinema. Por isso mesmo, fico à vontade para falar sobre spoilers, e você fica à vontade para lê-los ou não. Começo também dizendo que não indico ver o filme àquelas pessoas que são impressionáveis, pois o filme impressiona. Já havia lido algo da crítica especializada e, de tanto falarem sobre clichês, incorreram num clichê da crítica: reclamaram sobre o final, por que, em sua maioria, queriam que tudo ficasse mais implícito. Mas a proposta do filme não deixar nada "implícito", pelo contrário, é explicitar tudo mesmo, mas desenvolvendo uma história que já começa densa e termina ainda mais densa. Logo, este ensaio não é um elogio, uma crítica especializada, uma detratação. Nada disso. É uma análise a partir da ótica da apologética cristã. 

Já fui um cinéfilo. Assistia filmes porque gostava. Hoje, nem de longe sou como eu era em relação a filmes. Mas, há muito tempo constatei algo acerca de filmes bons, blockbusters, clássicos, de arte, rentáveis, cult, etc., é que ninguém gasta milhões, dezenas de milhões ou até uma centena de milhão   de dólares com um único propósito de "entreter". Conta outra! Se somas são milionariamente sérias para a composição de filmes, então aqueles que ganham fama, dinheiro e prestígio pelos tais são os mais meticulosos em relação a mensagens. 


Desde a década de 60, com a real popularização dos filmes de terror, um grande filme - ao meu ver - surgiu, por década. Nos anos 60, foi "O Bebê de Rosimary". Aquele filme inaugurou uma nova estética que, popularmente, estava sendo vista (e massificada) no cinema, que não era outra senão a nova forma de se falar no satanismo. O satanismo dito "tradicional" saía dos esgotos de onde surgira, para ser glamourizado. Mostrar senhores e senhores de avançada idade em tramas envolvendo atores de 7, 8, 9, 12, 15 anos, revelando um ocultismo mais psicológico do que visualmente visceral foi um trunfo para o polêmico diretor Roman Polanski. Na década de 70, veio "A Profecia", que, baseado na Bíblia, mostrava o anticristo sendo adotado por uma família em que o homem era um importante político americano, que se tornaria embaixador na Grã-Bretanha. Lá, Satanás desenvolveria seu plano para que a criança se tornasse, futuramente, o presidente dos Estados Unidos. Na década de 80, o filme "Adoradores do Diabo" revelou o lado oculto mas real da bruxaria africana na Europa e nos EUA, com seus esquemas de tráfico de pessoas (da África) para sacrifícios em países ricos, por famílias de políticos, empresários e outras pessoas influentes, ávidas por mais poder e prestígio. Na década de 90, o diretor de "O Bebê de Rosemary" volta à polemizar, desta vez com "O Último Portal", um filme que revela os meandros do satanismo tradicional na Europa. Realmente - e entendam o que digo -, parece que houve uma "inspiração satânica" para a realização desta película, recheada de falsas ideias, como a de que Satanás é praticamente onipotente e onisciente, tal qual Deus. Os anos 2000 foram um pouco escassos quanto a filmes que revelassem o satanismo tradicional, mas esta escassez foi suprida com o sinistro "A Bruxa", ainda nos cinemas no começo de Abril de 2016. 


"A Bruxa" é um filme forte também porque é visualmente forte. O detalhismo em reconstruir a adaptação de uma família de puritanos ingleses no interior dos Estados Unidos, no século XVII (1630, para ser mais exato) é primoroso. As nuances cinzas, que acompanham todo o filme, dão o ar melancólico que requer a trama. A fotografia da película, inclusive com as cenas à luz de velas, já foi muito comentada e elogiada mundo afora. A bruxa, do título, na verdade não é uma, mas várias, que vivem na floresta, adorando o diabo. Até aí, nada novo. A questão diferencial de "A Bruxa" é o que acontece à tradicional família puritana que é expulsa do vilarejo onde vive, ao que tudo indica, por discordância do patriarca com a liderança da igreja local, que também liderava o vilarejo. O pai, a mãe e 5 filhos - uma adolescente com seus 18 anos, um irmão menor, dois gêmeos crianças e um bebê - afastam-se e vão morar ao lado de um bosque sombrio. O diretor afirma que parte dos diálogos foram extraídos de julgamentos reais que aconteceram na região da Nova Inglaterra, no século XVII, fruto de pesquisa da produção. A partir daí, os elementos foram montados com perfeição: a mini-fazenda que é criada pela família, de imediato revela sua fragilidade ante o oculto, representado pelo bosque ao lado. A bruxa que rouba o bebê do casal para com as entranhas do mesmo fazer uma mistura com a qual se banha para adquirir, certamente, mais poder vindo das trevas, vale-se de todas as artimanhas que se pode imaginar. Além disso, se nos é sugerido que demônios transformam-se em animais, causando um terror mais psicológico do que físico nas personagens envolvidas. 


Na desmoronação familiar que se segue após o sumiço do bebê da família, percebemos que as estruturas tradicionais da sociedade (Igreja, família, a sexualidade, etc) são desconstruídos, para entendermos como os mesmos estão engessados, deformados pela consciência cristã que varreu o Ocidente. O fanatismo religioso do casal não os impede de serem extraordinariamente duros, principalmente com a filha mais velha, em quem é despejada a culpa pelo desaparecimento do bebê, por ter sido a última a estar com ele. O menino, crente fervoroso e com dúvidas sinceras sobre a fé de sua família, à certa altura se vê atraído sexualmente pela irmã, o que nos é mostrado com naturalidade. Mas, íntegro, tenta ajudar o pai com uma mentira que o mesmo conta à esposa, repreende como pode a irmã mais velha, que mostra tendências a não obedecer espontaneamente a fé que procurava servir. Mas, é enfeitiçado e, numa confusa cena que mais parece um exorcismo, o menino expira ante seus irmãos e pais, com aqueles não podendo orar a Deus (porque também se revelariam enfeitiçados) e estes, seus pais, aprisionados cada vez mais em sua supersticiosidade legalista. Ao invés de conquistar os filhos, praticamente os entregam de bandeja aos caprichos de Satanás, que, segundo o filme, passa a rondar literalmente a casa, sob a forma de um bode preto, intitulado pelas crianças de "Black Phillip" ("Filipe Negro"). No fim, o que parece loucura vence e as neuroses supersticiosas, que de certa forma tinham eco na realidade, abrem espaço para que a adolescente da família, diante de todos mortos e com nada a perder, invoque o demônio que age sob a forma do "Black Phillip" e a direcione para uma vida comunhão total com o mal, com direito à assinatura no livro das bruxas, black shabbath na selva e levitação. 


O contraste entre o irmão mais novo da adolescente chamada "Thomasin", que termina virando bruxa, é gritante. Seu encontro com Cristo, antes de sua morte, é uma metáfora de desdém, pelo que percebi. Não há nada de "belo" na morte do garoto, salvo suas palavras. Sem saber se o mesmo delirava por causa da feitiçaria que lhe fizeram (antes de morrer, ele expele uma maçã podre), a família e o expectador veem, morbidamente, o menino, depois de orar desesperado, afirmar que estava vendo o Senhor Jesus vindo lhe buscar. Suas palavras parecem sinceras (palmas para a atuação do pré-adolescente que interpreta magistralmente a cena) e entende-se que, de fato, estava tendo uma visão. Mas, logo após a mesma, ele sucumbe, deixando seus pais confusos, os irmãos desmaiados e o patriarca sem saber o que fazer. Obviamente, esta cena é completamente diferente da final, onde a comunhão da irmã mais velha com Satanás é revelada com toda a força que, supostamente, há nos rituais de magia negra em que o demônio se manifesta. Não é à toa que o alvoroço acerca do que se significa a experiência cinematográfica de "A Bruxa" é tão controversa: para uma geração "rasa", que cultua vampiros e lobisomens gays e emos, o filme parecerá completamente sem sentido, pois suas mentes não alcançam o nível de crítica que se quis fazer às estruturas da sociedade ocidental, principalmente a religiosa protestante que colonizou os Estados Unidos. Para curiosos "neutros" quando o assunto é religião, uma incursão no ocultismo é obviamente sugerido por quem fez o filme, quase como se a floresta ao lado da fazenda onde se instaura a família atormentada do filme, fizesse às pessoas um convite para que, por sua conta e risco, "entrassem" e se "aventurassem" com as forças ocultas que ali habitam. 


Como seres racionais, somos ambíguos: o que nos dá medo, de certa forma também nos fascina e parece que estamos buscando aquilo que, em nossas mentes, sabemos que não deveríamos. O ato de se entregar completamente, depois do cansaço físico e emocional,  àquele que está diante de nós, oferecendo-nos "uma vida de deleites e luxúria", como é dito à protagonista do filme, parece ser retratado como a saída lógica, a única ação que, por mais controversa que pareça, faz sentido, pois o que se deixa "pra trás" é uma religiosidade hipócrita, feita e vivida por pessoas sem afeição natural, sem misericórdia, mais fanáticas do que amorosas, que falam de Deus, mas que de fato nada conhecem de Deus. É exatamente nisto que Satanás tem se valido para, através de filmes como "A Bruxa", expelir todo o seu veneno psicológico, inspirando espiritualmente, com ares de brilhantismo cinematográfico, cineastas que, muitas vezes, tiveram ou têm fortes experiências com o oculto e péssimas experiências pessoais com comunidades religiosas, das quais, muitos de Hollywood vieram. Essa soma de fatores peculiares produz uma meca cinematográfica que, hoje, está total e completamente comprometida em desconstruir paradigmas, inclusive o Cristianismo, para retratá-lo à luz desta mesma inspiração luciferiana, que obviamente ressalta o lado desfuncional, enfermo da Igreja, que são as pessoas que se cercam e veneram mais as suas tradições do que aquilo para o que as tradições apontam: o real cristianismo.


"A Bruxa" será um filme amado por uns, odiado por outros, mas, da forma que deve ser visto, será amado/odiado por poucos. Isto é, poucas pessoas o verão da forma como deve ser visto, para amá-lo ou odiá-lo da forma correta. Em relação aos cristãos, creio que o odiarão, sim, mas pelos motivos errados. Pelo (pouco) terror que mostra, com sangue e vísceras que impressionam muito mais, de um modo geral, do que o intuito com que, por exemplo, estão sendo usados. Como não há um visão clara do valor estético das obras, hoje, sua real mensagem passará despercebida. Mas, ainda que subliminarmente, a mensagem mais superficial que permeia todo o filme será compreendida; e não é outra, senão um claro e inequívoco convite para se conhecer as forças que, segundo nos é mostrado, são as que "abraçam os seres humanos em seus momentos mais agudos de dor e desespero", que são as forças das trevas. O que é facilmente esquecido, contudo, por quem avidamente abraça essas forças por sugestão de filmes assim, é que os mesmos ainda assim revelam que foram aquelas mesmas forças das trevas que causaram toda a dor e desespero, impingidos nos seres humanos, que, posteriormente, confusos e desesperados, por elas mesmas são abraçados. 

Cartaz de divulgação do filme "A Bruxa", com o subtítulo: "Um Conto Folclórico da Nova Inglaterra" e, mais abaixo, "O Mal Assume Muitas Formas".

Vale mais uma vez lembramos as palavras do Apóstolo Paulo: "...para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios", 2 Coríntios 2:11b.

Artur Eduardo

7 comentários:

rodrigosiqueira disse...

Excelente análise!

Regilânio Fernandes disse...

Muito bom o comentário

Unknown disse...

Excelente análise! Realmente o filme não é pra "povão". É uma obra a ser contemplada apenas por quem tem o mínimo de sensibilidade e desejo pelo novo, pelo controverso e pelo inusitado.

Unknown disse...

Achei o filme brilhante.

e dá pra refletir muito sobre suas cenas, a postura do pai em criar sua familia nos caminhos do Senhor, desmorona a partir do momento que ele se permite nao enxergar a realidade e ter sensibilidade de sentir o mal que rondava sua familia, me trouxe uma reflexão profundo sobre a capacidade que temos que criar uma família com valores e princípios, porem podemos deixar tudo a perder quando somos rigidos e cegos e permitimos que qualquer ideologia ultrapasse o viver em familia, o Filme a Bruxa continua ocorrendo diariamente em nossa sociedade pais matando filhos e filhos matando pais dando lugar ao diabo e não entendendo que ele Veio para matar roubar e destruir.
fiquemos vigilantes.

luiz disse...

Puro satanismo e mensagens subliminar. O Homem representa Jesus, sua família a igreja e o bode Satanás. O homem cortava lenha. Como sua própria filha dizia que ele só sabia fazer isso. Isso retrata profissão de Jesus que era carpinteiro, trabalhava com madeira. O bode matou o homem com uma chifrada no lado do corpo. Assim como Jesus foi ferido na cruz por uma lança no lado do seu corpo. O filme retrata a vitória de Satanás sobre Cristo e a igreja despedaçada se voltando a Satã. Por fim este se revela e faz pacto para que tenho tudo que ela deseja. Isso não passa de heresia pois Jesus vive e nunca morrerá para o Chifrudo, fora isso uma bela arte do ocultismo.

Adilson disse...

Olá. Estava buscando texto sobre esse filme e acabei encontrando teu blog. Parabéns, até o momento tua postagem foi a única que pontuou coisas interessantes sem negar o realismo do satanismo que o filme trás. Como percebi que você é de Pernambuco,minha cidade natal (hoje vivo em curitiba), não poderia deixar de contribuir com teu blog.

Continuando: gostaria de deixar um comentário maior sobre as observações que você fez do filme A Bruxa, mas agora não dá, pois estou no meio de um trabalho. Gostaria de saber se você tem interesse que eu deixe um comentário mais completo num outro dia. Aguardo tua resposta.

Paty disse...

Esse filme deveria ser proibido! Odiei , nunca vi uma coisa tão impactante e horrível assim.. aonde o mal vence , chega ser doentio

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