SOCIALISMO NA BÍBLIA?
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Por Solano Portela
Adpatado por Artur Eduardo
Fico
impressionado como tantos cristãos embarcam na visão político-econômica
socialista. Não me espanta que ela leve de roldão grande parte da
“intelectualidade” do mundo ocidental, bem como aquelas cabeças não
pensantes, que seguem a opinião majoritária por pura necessidade de
aceitação comunitária. Afinal, o socialismo é uma visão bem humanista
que enaltece a bondade "nata" das pessoas. Nada que nos surpreenda que ele
seja abraçado por aqueles que não gostam da realidade do Deus
verdadeiro, revelado nas Escrituras, com seus princípios de justiça e
demandas de soberania plena. O que me assusta é o contorcionismo
teológico e exegético feito por alguns para achar na Bíblia
justificativa para sua crença socialista (ou, quiçá, marxista),
ignorando as evidências contrárias e os princípios que contradizem essa
corrente de pensar.
Nesse
sentido, recebi há um tempo uma carta dizendo que temos o registro
bíblico de que as terras alocadas ao Povo de Israel, quando este
adentrou a palestina, foram repartidas igualmente. Todos teriam recebido
porções semelhantes. Isso seria uma prova do ideário socialista nas
Escrituras. Acontece que a afirmação simplesmente não corresponde à
realidade.
As
tribos se posicionaram em locais diferentes de acordo com a
circunstância da conquista e conforme as alianças (algumas espúrias) que
foram fazendo. Umas terras eram mais férteis do que outras; umas mais
planas e aráveis do que as da tribo vizinha; e assim por diante. As
determinações iniciais para a repartição colocaram aquele povo em
movimento, mas depois ele foi seguindo o curso da história, com as
desigualdades características de qualquer sociedade ou sistema, com o
pecado presente no coração das pessoas – se bem que sempre sendo
confrontado com a Lei de Deus. Essa lei visava punir o faltoso, proteger
o inocente, preservar certos direitos individuais, de propriedade e
impedir que os carentes fossem abandonados na sua fraqueza.
Assim,
na teocracia estabelecida à nação de Israel o código civil e penal foi
colocado para garantir as liberdades individuais e para lidar com as
manifestações do pecado. Nunca houve a visão ingênua de que a “terra
prometida” era um lugar sem pecado e sem a necessidade de controles. Um
desses controles, admitimos, era a proibição de grandes latifúndios, com
a reversão de transações comerciais, processadas ao longo dos anos, à
tribo e aos proprietários originais.
Esse
dispositivo, de limitação latifundiária, é um sistema interessante e,
como todo o resto da legislação civil e judicial de Israel, de extremo
valor didático para nós, mas não tem caráter normativo. Deveríamos
pensar como tais salvaguardas poderiam ser implantadas em nossa
sociedade, estudando cuidadosamente o contexto de suas circunstâncias,
pois emanaram de um Deus que é todo sabedoria. Mas enquanto procuramos
abstrair o princípio, não há determinação de aplicabilidade idêntica ou in totum
à nossa sociedade. Não devemos esquecer, também, que o direito de
propriedade privada é plenamente assegurado não apenas na legislação
civil e judicial do estado judaico vetero-testamentário, mas na própria
lei moral, com o oitavo mandamento (“não furtarás”), repetidamente
reafirmado em todo o restante da Bíblia, inclusive no Novo Testamento.
Não
existe, portanto, nada que se situe mais longe do sistema teocrático de
Israel do que o socialismo, comunismo ou marxismo. Querer ler isso nos
registros históricos do Povo de Deus, é caminhar em terreno pantanoso
que tragará a argumentação e o seu defensor – se praticar coerentemente o
que prega.
Reconhecendo
isso, alguns proponentes mais insistentes passam a defender que a visão
socialista é algo típico do Novo Testamento, apelando ao registro de
Atos 2.42-47 – à comunidade de bens. Mas a exegese correta do relato, à
luz do contexto textual e histórico, não fornece qualquer base para um
modelo comunista de governo aplicável às nações da terra. Primeiro,
temos aqui um registro histórico-descritivo de um micro-cosmo social
existente entre cristãos, não uma definição prescritiva aos
governos e governantes (um texto prescritivo é, por exemplo, a passagem
claramente anti-socialista de 2 Ts 3.10 – “se alguém não quer trabalhar, também não coma”).
Segundo, temos um contexto histórico no qual a igreja se encontrava
acuada e sob perseguição, na perene tentativa satânica de destruição
dela. Terceiro, temos o caráter voluntário da iniciativa da comunhão dos
bens, e não estatalmente determinativo; isso é substanciado, em adição,
pelo próprio Pedro nas palavras proferidas a Ananias e Safira.
Precisamos,
como cristãos, reconhecer que essa moda de subscrição à cartilha
socialista, que perdura há várias décadas, é carente de sustentação
teológica e capenga em uma premissa que é totalmente anti-bíblica: a
bondade natural do homem.
Qualquer
sistema de governo, seja qual for o seu rótulo, que reconheça certas
bênçãos advindas da graça comum divina – como o direito à liberdade, à
iniciativa individual, à propriedade privada – e que tenha em sua
estrutura salvaguardas e controles que lidem com o pecado e a violência,
tem mais possibilidades de refletir princípios de justiça divina e
prover com que as riquezas do país sejam revertidas em benefício dos
cidadãos que o compõem, diminuindo assim a perspectiva de fome,
carências e violências.
O
governo eficaz respeita a propriedade, controla e pune malfeitores (não o
empreendedor e o cidadão ordeiro comum); essa é a função primordial
dele, conforme Rm 13. Depois disso, ele reconhece e galardoa os cidadãos
de bem, principalmente certificando-se não de que todos sejam iguais, mas de que todos possuam iguais oportunidades de desenvolverem suas individualidades e talentos específicos.
Fonte: Bereianos
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