Não há nada mais nefasto, mais insidioso, mais corrupto, mais vil, mas contrário ao bem do que a ingratidão. Ela se manifesta de diversas formas, sendo a mentira auto-enganosa de se achar que "aquele a quem se deve, deve mais a quem ´se acha´" a pior delas, talvez. Certa vez, meu ex-Pastor, há anos atrás, disse algo a mim mais ou menos assim: "Prepare-se, Artur, pois se você quiser entrar no ministério mesmo, terá de lidar com vários desafios, sendo a ingratidão uma das maiores frustrações com que nos deparamos ministerialmente. Prepare-se para a ingratidão". NUNCA me esqueci daquelas palavras, ditas por alguém que foi literalmente "colocado prá fora" da igreja que fundou por sua liderança e outros que, estranhamente, "de uma hora para outra", taxaram o Pastor de "pseudo-Pastor", "falsário", "canalha", "hipócrita", "mentiroso" e tudo o mais que você possa imaginar. Conhecia o Pr. de perto e sei (e por saber, defendi-o veementemente) o quê procedia e o que não procedia daquilo tudo que se falava. O amado Pastor errou, sim, mas seu principal erro foi tornar aqueles que o cercavam quase "intocáveis", o que resultou no óbvio: quem assim é tratado, passa a achar que de fato o é! Engraçado que - e disso me lembro bem -, até antes daquela fatídica assembléia, em que eu mesmo contei os votos que decidiriam se aquele Pastor ficaria ou não na igreja, repito, que ele mesmo fundou e da qual prezava e guiava com amor, zelo e coragem, muita gente (se não todos), diziam a uma: "O Pr. ´Fulano´ é uma bênção e um exemplo de homem de Deus" e por aí vai. Lembro que o Pr. fora de óculos escuros para a assembléia, e, mesmo não vendo seus olhos, lembro-me bem das lágrimas caindo pelos óculos. Até hoje há quem diga que aquela assembléia foi "culpa do próprio Pastor", e que "seus erros eram muitos". No caso dele, aceitou tudo calado, sem dizer uma palavra, retirando-se, ao fim, em silêncio e saindo da igreja para nunca mais voltar. Cena triste. Era seminarista na época e, em conversas posteriores, ele me disse as palavras que falei no início do post. Por incrível que pareça, ainda sinto falta do meu ex-Pastor e penso (penso não, tenho certeza), de que a coisa toda não era para ser daquele jeito. Ficou o ensino que nos ajuda em tempos difíceis: "Prepare-se para a ingratidão". Hoje, começo uma NOVA FASE, com pessoas, sonhos, ofícios, metas, desafios NOVOS. Alguns dos que andaram comigo (e há quem andou comigo anos a fio) tomaram rumos distintos e, dependendo de como a partida se dá, uns deixam saudades, outros não. Tudo é pesado na balança da "gratidão" (principalmente se você foi alguém usado por Deus para que a luz do Evangelho adentrasse à vida do indivíduo). Nestes momentos de ruptura, de mudança, de transição, de "saída do velho para a entrada do novo", de partidas e caminhos a serem seguidos, ficam as lembranças, os sonhos, a memória das conquistas e, o que para mim é o mais importante, o senso de "gratidão". É pela forma como a expressamos que dizemos muito de nós, muito (senão tudo) de quem somos, de como é realmente nossa estrutura, nossa natureza. Sou grato a Deus e a muitos. E, bem, gratidão não é algo que a gente "impõe", como o amor, não é algo imposto. É algo que se amolda à natureza do indivíduo, caso ele tenha suporte em sua natureza para tal. E NUNCA pode ser expresso apenas com meras palavras. Palavras, escritas (como essas) ou orais, caso não venham acompanhadas de atitudes factuais que as corroborem, não passam de símbolos vazios. Errei muito, no passado, cobrando gratidão das pessoas. Erro tolo. De todas as características que fazem de nós o que somos, eu, como Pastor, deveria saber mais do que quem quer fosse, tanto pela experiência bíblica, como de vida, que a ingratidão é uma das principais nuances do Homem caído. Não aparece ocasionalmente nas atitudes humanas: são seus constituintes! Daí o imperativo:
"E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos". Cl. 3:15.
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