Por Robin Phillips
Adaptado por Artur Eduardo
Se o Calvinismo pudesse ser descrito em apenas um termo, este seria Monergismo. O termo vem do grego mono, que significa “um”, e erg, que significa “trabalho”, e descreve a noção de que a salvação sofre influência de apenas um agente, a saber, Deus. Conforme R. C. Sproul, “Uma obra monergística é um trabalho produzido individualmente, por uma pessoa… Uma obra sinergística é aquela que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas”.
Ao passo em que certamente há um sentido em que a bíblia ensina que Deus é o único agente a efetuar a salvação, o Monergismo falha ao negar que os seres humanos são capazes de cooperar no processo de regeneração e salvação [ver nota 1].
O Monergismo surge do fato de que os calvinistas sentem-se profundamente desconfortáveis em reconhecer qualquer sinergia entre a vontade divina e a vontade humana. Sem dúvida, um calvinista dirá que quando um homem ou uma mulher parecem cooperar com Deus, isso deve-se ao fato do Senhor ter primeiramente pré-determinado que ele ou ela assim fizesse, preservando desta forma o sentido no qual apenas um agente é operante.
Alguns Calvinistas ensinam que o Monergismo só se aplica à regeneração, e que a santificação é sinergística. O Batista Reformado Andrew Naselli expressou esta opinião quando escreveu: “Uma visão monergística de regeneração é bíblica, mas uma visão monergística de santificação não é”. Outros professores têm sido mais globalistas em suas aplicações do Monergismo, estendendo-o a todos os níveis do caminhar cristão. Por exemplo, um professor Calvinista que eu tive (que pode ser considerado um moderado) foi bem longe ao afirmar que eu nem sequer tenho livre arbítrio quando se trata de decidir se quero mel ou geleia de framboesa na minha torrada pela manhã, porque qualquer escolha que eu faço resulta da vontade/ação prévia de Deus em fazer a escolha para mim. Não há sinergia real entre o divino e o humano, pois Deus continua a ser o único agente que verdadeiramente pratica a ação.
O Monergismo não é totalmente ruim, pois decorre de pelo menos três bons impulsos teológicos. Primeiro, ele leva a sério o fato de que Deus está no controle completo de tudo o que acontece (Mateus 10:29). Segundo, ele leva a sério o fato de que não podemos ganhar a nossa salvação pelas obras, e nunca teremos nada do que nos gloriar diante de Deus (Romanos 3:27). Em terceiro lugar, o Monergismo reconhece que todo o bem que fazemos é Deus que opera em nós (Filipenses 2:13). A questão onde o Monergismo precisa ser criticado é quando toma essas verdades e as formaliza em um sistema rígido, agregando mais extrapolações que acabam excluindo importantes ensinamentos bíblicos sobre o papel da cooperação humana no processo de salvação.
Curiosamente, a primeira coisa que alertou minha esposa e eu para os problemas em uma abordagem monergística, foi quando vimos como ela tingiu diversas áreas práticas da vida cristã. Repetidamente nós estávamos vendo que a mentalidade monergística define essencialmente a relação entre Deus e o homem (bem como a graça e a natureza) como duas transações em um jogo de soma zero. Em um jogo de soma zero, os ganhos de um lado sempre se correlacionam com as perdas do outro lado. Assim, por exemplo, a mentalidade Monergística sente que se demasiada liberdade ou eficácia é concedida ao homem ou à natureza, então muito menos liberdade, soberania ou glória sobram ao próprio Deus. O resultado disso é em parte análogo ao tipo de dualismo Apolinariano discutido por Colin Gunton em Yesterday and Today: A Study of Continuities in Christology ou ainda por Demetrios Bathrellos em The Byzantine Christ. Os Apolinarianos “não podiam conceber a coexistência e cooperação entre as naturezas divina e humana e vontades em Cristo que respeitariam a particularidade e a integridade de ambas” (Bathrellos, p.15). O desconforto Apolinariano em preservar a particularidade e a integridade do ser humano é ecoado repetidamente em tratamentos Calvinistas da relação entre o humano e o divino. Por exemplo, no livro de James White Debating Calvinism, ele argumenta que “o primeiro elemento do ensino bíblico sobre o Monergismo é a liberdade absoluta de Deus.” Porque para que Deus seja verdadeiramente livre, Ele deve ser a única energia operativa.
Da mesma forma, no clássico Chosen by God, R.C. Sproul chega ao ponto de afirmar que qualquer coisa diferente do Monergismo faz de Deus menos do que Deus. Nesta esquema, o Monergismo não é somente a verdade, mas é necessariamente a verdade, por isso não é mais possível para Deus criar um universo não-monergístico do que é possível para Ele deixar de ser Deus. Ironicamente, isso destina-se a libertar Deus, embora, na verdade, acaba por limitá-lo de forma significativa. Como David Bradshaw observou, sobre este ponto de vista, a interpretação Agostiniana da predestinação não só é verdade, mas é necessariamente verdade, pois Deus não poderia criar criaturas que são capazes de afetar, de alguma forma, os seus julgamentos a respeito da salvação e danação. No entanto, a posição Agostiniana começou precisamente como a tentativa de exaltar a vontade divina sobre toda necessidade …. Foram problemas como esses que levaram Pascal a exclamar que o Deus dos filósofos não é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Deus Agostiniano-Tomista, que é perfeitamente simples e totalmente efetivo, parece estar bloqueado dentro de uma caixa a partir da qual ele não pode escapar para interagir de forma significativa com as suas criaturas.
Por outro lado, São Máximo, o Confessor, argumentou que, porque os seres humanos são feitos à imagem de Deus, eles possuem o mesmo tipo de poder de auto-determinação de Deus. “Com respeito a maneira em que a auto-determinação deve ser entendida, é digno de nota que, para Maximus, a base e o arquétipo da autodeterminação do homem é a auto-determinação de Deus. Como vimos, Maximus argumentou que o homem é auto-determinante, porque ele é feito à imagem da divindade, que é auto-determinante …” (Bathrellos, p. 167).
Monergismo e Oração
Uma área prática da vida cristã onde nós percebemos este jogo foi na oração. Enquanto frequentava igrejas calvinistas, eu frequentemente me deparei com a ideia de que a oração na verdade não muda as coisas. Isso ressurgia constantemente em conversas que tive com Calvinistas novatos ou mais velhos sobre a bênção dos alimentos que ingerimos. Ninguém estava sempre disposto a admitir que, quando pedimos a Deus que abençoe o alimento, nada realmente acontece como resultado da oração. Uma pessoa me disse que se a oração fez uma diferença real, então Deus não seria verdadeiramente soberano e as nossas orações, portanto, seriam uma “obra”.
Em acordo com este quadro, na igreja Calvinista que participei por cinco anos, não lembro-me de nenhuma vez ver o pastor orando e pedindo ao Senhor para abençoar a Eucaristia antes de administrá-la, embora a igreja se considerasse litúrgica e sustentasse uma elevada visão da Eucaristia. James Jordan vai ainda mais longe e declara que “No fato de nos recusarmos a consagrar o pão e o vinho, afirmamos que a graça do sacramento vem do Espírito, o Senhor que dá a vida.” Mais uma vez, esta é a mentalidade de um jogo de soma zero, que pressupõe que qualquer papel que desempenhamos (mesmo uma oração de consagração) deve necessariamente subtrair da fatia do bolo de Deus.
Esta abordagem Monergística à oração permeia inúmeros livros e artigos de autores calvinistas ao tratarem sobre a oração. Por exemplo, na argumentação de Arthur Pink sobre a oração em seu livro The Sovereignty of God, ele protesta violentamente contra um artigo sobre a oração em que o autor havia declarado que “a oração muda as coisas, o que significa que Deus muda as coisas quando os homens oram.” O Calvinista Joseph Wilson argumentou de forma semelhante em seu artigo “Does Prayer Change Things?” (1991) Ele escreveu: “Nenhum homem pode crer na gloriosa doutrina bíblica da predestinação absoluta, e acreditar que a oração muda as coisas. Os dois são incompatíveis. Eles não andam juntos. Se uma é verdadeira, a outra é falsa. Se a predestinação é verdade, segue-se, como a noite segue o dia, que a oração não muda as coisas.” O Calvinista David West fez o mesmo ponto: “A oração não muda as coisas, nem muda a Deus ou a Sua mente.” Da mesma forma, o calvinista Dan Phillips comenta, “a oração não muda as coisas.”
Monergismo e Ministério Pastoral
A ideia Monergísta de que “tudo tem que ser 100% Deus” pode levar o dever cristão normal a uma condição de atrofia. Uma das expressões mais desanimadoras disso é quando se retira a prioridade de ajudar aqueles que se desviam da fé, uma vez que se a pessoa é eleita podemos ter certeza de que Deus vai trazê-la de volta, mas se não for eleita não há nada que possamos fazer de qualquer maneira.
Alguns Monergistas que eu conheço me disseram que, porque tudo é 100% Deus (ou seja, não há sinergia divina/humana na obra), a única maneira de ajudar as pessoas com problemas é pregar para elas e deixar que Deus faça o resto. Quando um Monergista diz: “só Deus pode executar uma mudança no coração dessa pessoa”, nove em cada dez vezes ele quer dizer “só Deus, independente de qualquer instrumentalidade humana, pode mudar o coração dessa pessoa.” Na prática, isso significa que temos de sentar, “relaxar e deixar Deus agir.”
Alguns calvinistas mais antigos que conheci têm apelado para princípios Monergistas ao explicar por que devemos ficar longe de disciplinas como a psicoterapia. Quando a instrumentalidade humana está envolvida, há sempre a suspeita de que o homem, em vez de Deus, está no trabalho. Isso encontra expressão na noção comum de que a única maneira de ajudar uma pessoa perturbada é pregar para ela e, em seguida, deixar que Deus faça o resto. Tal ponto de vista é o alicerce de um tipo de aconselhamento praticado em muitas igrejas reformadas conhecido como Aconselhamento Noutético.
Eu tenho utilizado alguns exemplos extremos para ilustrar o meu ponto sobre os problemas do Monergismo. No entanto, esses mesmos princípios são geralmente assumidos ou estão implícitos até nos escritos de calvinistas convencionais. Por exemplo, um tratamento padrão dos calvinistas com respeito ao problema do mal é afirmar que Deus não é responsável pelo mal moral precisamente porque todo o pecado que Ele preordenou vem a acontecer através de causas secundárias. Este argumento básico permeia a maioria das teodiceias calvinistas. Entretanto, as implicações dessa compreensão da relação de Deus com o mundo vão muito longe. Eu comecei a perceber que esta teodiceia era problemática quando o grupo dos homens na nossa antiga igreja estava estudando um livro no qual um autor calvinista afirma que um problema com a visão libertária do livre arbítrio é que ela faz de Deus diretamente responsável ??por nossas más decisões, pois o mal aconteceria através da causalidade primária de Deus. Agora, independentemente se esta é uma implicação legítima da posição libertária, ela implica claramente que Deus não é responsável pelos atos que Ele realiza através de meios, e que Ele só pode obter o crédito para o que Ele faz direta e imediatamente. Mas, tão logo afirmamos que a razão pela qual Deus não é responsável pelo mal é porque a Sua predeterminação do mal ocorre através de meios, temos de entender que sempre que Deus trabalha através de meios, a responsabilidade pelo que é feito recai sobre outros agentes, ou seja, a criatura. No entanto, se o crédito vai para a criatura para qualquer coisa que Deus realiza através de meios, então ficamos com um sistema em que podemos tomar o crédito para a maioria dos atos que Deus realiza neste mundo, uma vez que Deus realiza a maioria das coisas através de meios.
Leve isso para fora da esfera da teodiceia e aplique no domínio do cuidado pastoral, e veja o que acontece. Se o nosso paradigma básico é que o crédito vai para a criatura para qualquer coisa que Deus realiza através de meios, então é claro que desejaremos ter uma abordagem hands-off (sem interferência) quando se trata de socorrer as pessoas, para não reduzir a glória que Deus toma para Sí. Somente quando Deus age Out of the Blue (inesperadamente, independentemente) na vida de alguém, e não através de instrumentos humanos visíveis, Ele toma a glória para Sí, pelo menos, se seguirmos a lógica desta argumentação.
(Para mais discussões sobre a busca evangélica para eliminar instrumentalidade, consulte os artigos ‘Is Will-Power Good or Bad?’ e ‘B.B. Warfield and the Quest for Immediacy’ e ‘8 Gnostic Myths You May Have Imbibed.’)
Fazer da salvação uma coisa 100% de Deus (sem a cooperação sinergística) parece, à primeira vista, ser uma doutrina libertadora, assim como a insistência do calvinismo de que você nunca pode perder a sua salvação. Fui ouvinte de muitos sermões calvinistas em que o pastor quis declarar o quão libertador é saber que você vai perseverar até o fim. No entanto, este ensinamento sobre perseverança vem com um ônus pesado. No lugar de ser capaz de perder a sua salvação, o calvinismo apresenta a possibilidade de que você pode não ser realmente um dos eleitos. Se pressionado sobre a questão de como se pode saber se ele ou ela está entre os eleitos, um bom calvinista dirá, ou intencionará dizer: (1) “não pense nisso”; ou (2) ele vai mandar a pessoa se consolar com o fruto de sua vida. A primeira opção é uma evasiva, pois que conforto pode haver em um sistema que proclama: “Vocês são eleitos de Deus, mas não fique insistentemente pensando se o que eu estou dizendo é verdade.”? A segunda opção — ter confiança nos frutos da vida — é apenas semanticamente diferente daquelas modalidades para as quais o calvinismo afirma ser uma alternativa. Em um sentido funcional (despojado de metafísica), ele coloca a salvação em nossas próprias mãos, tanto quanto em Deus. E como alguém pode saber se esse “fruto” é autêntico ou suficiente para ser uma indicação clara de eleição?
Monergismo e Livre Arbítrio
Quando minha esposa e eu começamos a observar as deficiências práticas de Monergismo, nós paramos para repensar todo o paradigma. Vimos que o nosso Calvinismo tinha criado uma dualidade entre a graça e a natureza, a soberania e a liberdade, o divino e o humano, como se estivessem relacionados tal qual duas equipes em um campo de futebol americano. Se uma equipe controla quarenta dos cem metros, então, a outra equipe necessariamente controla os outro sessenta. Quando este é o nosso paradigma básico, claro que nós sempre tentaremos definir as coisas de modo que ele será 100% Deus e 0% de homens.
A alternativa, no entanto, é afirmar que ele é na verdade 100% Deus e 100% homem. Uma vez que percebemos isso, vemos que há espaço para a natureza ter uma autonomia qualificada. Afinal, se isso não prejudica a soberania de Deus para que Ele faça cães 100% canídeos ou para ele fazer galinhas 100% galinhas, então não há razão para que a soberania de Deus deva ser posta à prova apenas pelo fato do homem ter livre-arbítrio.
(Como um aparte, gostaria de salientar que, eu não estou tratando do “livre arbítrio” no sentido compatibilista, em que somos livres para escolher o que queremos, sem coerção. Filósofos naturalistas que acreditam que nossas mentes estão completamente condicionadas por leis bioquímicas não têm nenhum problema ao afirmar que os seres humanos têm livre-arbítrio nesse sentido. Na verdade, até os mais radicais deterministas materialistas concordam que somos livres no sentido de que podemos escolher de acordo com nossas inclinações. No entanto, se isso é tudo o que entendemos por “livre arbítrio” , então temos confundido a distinção entre determinismo e liberdade, acabando com qualquer significado coerente desta última. Ambos os deterministas naturalistas e Calvinistas podem concordar que a vontade é o efeito de desejos que nunca poderiam ter sido de outra forma, mas somente o Calvinista adicionará a isso o sofisma de sugerir que isso seja compatível com as noções comuns da liberdade humana).
Objeções e Respostas
Objeção # 1: Muitas de suas observações sobre o Monergismo são problemas com o Calvinismo e não com o próprio João Calvino. Os problemas que você diagnostica ocorrem quando calvinistas levam certas tendências latentes dentro do pensamento de Calvino a um extremo que o próprio Calvino discordaria. A solução, portanto, não é rejeitar o Calvinismo, mas voltar a uma boa e mais autêntica forma de Calvinismo.
Resposta à Objeção # 1: É verdade que muitas das minhas observações sobre o Monergismo baseiam-se na forma extremada como os calvinistas tomam os ensinamentos de Calvino, abandonando o equilíbrio dialético que o próprio Calvino foi capaz de preservar. No entanto, a própria teologia de Calvino não pode ser totalmente blindada das críticas que levantei, especialmente no que diz respeito ao jogo de soma zero entre Deus e a criação. Embora Calvino possa não ter chegado aos extremos de seus seguidores posteriores, ele forneceu a estrutura básica que, uma vez aceita, legitima os excessos que tenho diagnosticado. Isso especialmente se torna evidente se considerarmos a dívida de Calvino à tradição nominalista medieval, que é um tema que eu comecei a explorar e será publicado num futuro próximo. No entanto, uma vez que esta é, em última análise, um questão mais histórica do que teológica, eu não incluí informações sobre ela dentro destas reflexões.
Objeção # 2: Você apresentou uma caricatura do Calvinismo. As ideias calvinistas que você examinou não são ideias calvinistas em absoluto. Para dar um exemplo, as citações sobre oração representam uma posição minoritária entre os calvinistas, como a maioria dos pensadores reformados sérios seguirá Calvino em afirmar que a oração realmente muda as coisas. Da mesma forma, muitas das suas preocupações sobre a abordagem de soma zero será compartilhada pela maioria dos calvinistas sérios. Se você tem um problema com o calvinismo, melhor seria você criticar as Confissões Reformadas (Westminster, Belga, etc.), em vez de olhar para as expressões extremadas entre aqueles que professam ser Calvinistas.
Resposta à Objeção # 2: Ao criticar “as ideias” dos calvinistas, não estou falando apenas de ideias que são necessariamente ensinadas a partir do púlpito de uma forma explícita. Pelo contrário, eu estou usando o termo “ideias” no sentido amplo que Charles Taylor descreveu como o “imaginário social”, em A Secular Age ou que James Davison Hunter se referiu utilizando a linguagem dos “quadros pré-reflexivos” em To Change the World ou que James K.A. Smith articulou como sendo o “inconsciente adaptável” em Desiring the Kingdom. Esses e outros autores tentaram concentrar a nossa atenção não em ideias que existem como conceitos soltos na cabeça de uma pessoa, nem ideias que podem ser reduzidas a um conjunto de proposições no papel; pelo contrário, todos eles estão nos pedindo para dar atenção às ideias que existem como entendimentos não declarados que compõem o ‘background’ de como um povo dá sentido ao seu mundo. Tais “ideias” existem na forma de entendimentos implícitos e não podem nunca ser explicitamente articuladas ou cognitivamente confessadas. Eles são, como Taylor descreve, a grande base fora de foco que dá coesão a experiência de grupo, “algo muito mais amplo e mais profundo do que os esquemas intelectuais podem cogitar quando pensam sobre a realidade social de um modo desconectado.”
Agora pegue essas categorias e aplique-as à abordagem de soma zero. O que estou argumentando é que as comunidades Calvinistas são facilmente tingidas pela abordagem de soma zero neste nível mais profundo e mais implícito. É irrelevante que os calvinistas lerão este artigo e dirão: “Eu não reconheço o tipo de teologia reformada que você está descrevendo, porque você está apresentando uma caricatura do Calvinismo.” A razão pela qual isso é irrelevante é porque eu estou diagnosticando conceitos embutidos no inconsciente adaptativo das comunidades calvinistas ao invés de simplesmente doutrinas explicitamente expostas no púlpito ou tribuna. Dirijo-me a uma rede de práticas basilares, suposições e convenções que implicitamente ‘carregam’ certas noções, mesmo enquanto as formulações doutrinárias não podem afirma-las explicitamente. Dito de outra forma, eu estou lidando com uma teologia implícita que foge aos leigos bem como a teologia oficial que é ensinada nos seminários ou na sala de aula. Assim, quando eu me oponho ao Monergismo, estou contestando o pacote completo, incluindo os excessos que ele implicitamente estimula e as narrativas básicas que se tornam atrativas devido às categorias Monergístas. Estas narrativas inconscientemente mascaram o estado geral das comunidades Calvinistas porque elas afetam o modo como os leigos inconscientemente percebem o mundo delas.
Fonte:http://orthodoxyandheterodoxy.org/2014/01/22/why-i-stopped-being-a-calvinist-part-4-the-heresy-of-monergism/
Tradução: Samuel Paulo Coutinho
Tradução: Samuel Paulo Coutinho
Notas do tradutor:
[1] Os sinergistas arminianos creem que o processo de salvação sem dúvida possui a cooperação humana, todavia, a regeneração, que é um elemento interno do processo de salvação, é executada única e exclusivamente por Deus. Para informações adicionais, ver o artigo Jacó Arminio: Regeneração e Fé.
[1] Os sinergistas arminianos creem que o processo de salvação sem dúvida possui a cooperação humana, todavia, a regeneração, que é um elemento interno do processo de salvação, é executada única e exclusivamente por Deus. Para informações adicionais, ver o artigo Jacó Arminio: Regeneração e Fé.
[2] O artigo original possui um tópico sobre Adoração que achei melhor não publicar. Nele, o autor critica a inexistência de elementos físicos (imagens, por exemplo) na adoração das igrejas Monergistas, como se isso fosse de certa forma uma consequência da abordagem de soma zero dos calvinistas. Talvez esse possa realmente ser um dos motivos pelos quais uma minoria de calvinistas não considerem o uso imagens em seus cultos, todavia, os protestantes em geral, dos quais a maioria não é Calvinista, rejeitam tanto a abordagem de soma zero quanto o uso de imagens, o que desacredita o argumento. Mais importante que isso, embora talvez a arqueologia demonstre que alguns grupos cristãos dos primeiros séculos utilizassem elementos físicos em seus cultos, os protestantes em geral, nos quais me incluo, veem tal prática como, no melhor dos casos, algo sem fundamento bíblico e totalmente desnecessário e, no pior dos casos, como uma transgressão à escritura: o pecado de idolatria.
Robin Phillips é o autor de Saints and Scoundrels e um editor que tem contribuído para uma série de publicações, incluindo Salvo Magazine, Touchstone e Chuck Colson Center. Ele está trabalhando em um Ph.D. em teologia histórica na King’s College, Londres e blogando em Robin’s Readings and Reflections.
Fonte: Deus Amou o Mundo
Um comentário:
Excelente, simples, lúcido, inteligente e teologicamente bem fundamentado: parabéns, estimado prof. pr. e equilibrado apologeta Artur Eduardo! Deus o abençoe mais e mais, extensivo ao teu Ministério Pastoral e Acadêmico, e à tua preciosa família!
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