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terça-feira, 18 de março de 2008

Uma breve análise sobre a união secreta (ou quase) do darwinismo e da filosofia naturalista

OCULTA SOB CHAVÕES ACADÊMICOS, MUITAS VEZES INDECIFRÁVEIS PARA O PÚBLICO LEIGO, ESTÁ A VERDADE LATENTE DE QUE O PENSAMENTO EVOLUCIONISTA É ESCRAVO DA FILOSOFIA NATURALISTA, COM QUEM TEM UM COMPROMETIMENTO A PRIORI!!!


Navegando pela Net, encontrei esta definição em um artigo nada parcial sobre comportamentos "emergentes", na ótica naturalista. Postei o que vem logo abaixo em uma comunidade de discussão na Internet, há alguns meses. Aproveitei para fazer 5 considerações que advieram de uma análise crítica de tal definição. Este, portanto, foi o ponto de partida para uma discussão com alguns biólogos, teólogos, professores, filósofos e estudantes de várias áreas. Transcrevo, agora, principalmente para os interessados nas áreas relacionadas, o texto exposto na íntegra (salvo alumas adaptações para a publicação neste BLOG) :

"Um comportamento emergente ou propriedade emergente pode aparecer quando uma quantia de entidades (agentes) simples operam em um ambiente, formando comportamentos complexos no coletivo. A propriedade em si é comumente imprevisível e imprescendente, e representa um novo nível de evolução dos sistemas. O comportamento complexo ou as propriedades não são a propriedade de nenhuma entidade em particular, e eles também não podem ser previstos ou deduzidos dos comportamentos das entidades em nível baixo". (Fonte: Artigo Wikipédia)

Esta é uma clássica posição evolucionista que, observem, a priori, já demonstra seu comprometimento com a filosofia naturalista: "...O comportamento complexo ou as propriedades não são a propriedade de nenhuma entidade em particular".

Várias observações podem ser feitas quanto a um comentário deste tipo:

1 - Talvez não se tenha apercebido que seu comprometimento com a filosofia naturalista é a priori. Isto NÃO é novidade para ninguém, principalmente depois de algumas declarações que repercutiram muito na mída. Richard Dawkins, o mais famoso militante anti-religião, afirmou: "Nosso comprometimento filosófico com o materialismo e o reducionismo é verdadeiro", em correspondência eletrônica com Phillip Johnson, líder do movimento chamado "Projeto Inteligente", nos EUA. http://www.arn.org/docs/pjweekly/pj_weekly_010813.htm Chamamos isso em ciência de argumentação do "é porque é". Richard Lewontin, de Harvard, deixa isso claro como água, quando corajosamente reconhece algumas implicações de causa e consequencida da teoria que defende. No The New York Review of Books, de 1997, ele disse: "Assumimos o lado da ciência, apesar do patente absurdo de alguns de seus constructos, a despeito de sua falha em cumprir muitas de suas promessas extravagantes de saúde e vida, a despeito da tolerância da comunidade científica pelas histórias do tipo "é porque é", porque nos comprometemos previamente com o materialismo. (...) Além do mais, este materialismo é absoluto, pois não permitir a entrada de nada que seja divino".

Observe esta suposta "árvore filogenética" do homem. Está vendo o primeiro novo candidato a ancestral do homem, o Ardipithecus Ramidus? Pois é, todas as afirmações desta "inequívoca" ancestralidade com o homem provém de alguns dentes achados na África, que os cientistas dataram (arbitrariamente) como tendo uns 4,4 milhões de anos. Daí fizeram um desenho tosco, bem imaginativo, de uma figura híbrida, mas símea do que humana e está dogmatizado: o dono destes dentes foi um ancestral do homem. Aí, eu lhes pergunto: Será que os autores de tais teorias não conseguem mesmo ver que suas pressuposições são mais fortes do que as evidências que tentam mostrar?

2 - Precisamos, portanto, tomar cuidado com o que pensamos ser fato consumado. E há fatos consumados em ciência, sim. Contudo, depois de Popper, sabemos que para que "ciência" seja conhecida como tal, é necessário que tenha a ´possibilidade´ de ser falseável... Mas, isto não quer dizer que, sobre determinados aspectos tidos como científicos, os especialistas que trabalhem em suas determinadas áreas não tenham objetos de seus estudos como "fatos estabelecidos". Negar isto é infantilidade.... (p. ex.: negar que a "lei" do próprio Popper NÃO é científica, pois se fosse, ela mesma teria de ser falseável, o que é um absurdo, pois para que tenha alguma validade ela precisa ser "absoluta". Isto exemplifica que se a ciência quiser ser levada à sério, ela precisa saber que, inelutavelmente, está andando pelos (às vezes, sorrateiros) campos da filosofia e da lógica.

3 - A citação ainda diz: "Um comportamento emergente ou propriedade emergente pode aparecer quando uma quantia de entidades (agentes) simples operam em um ambiente, formando comportamentos complexos no coletivo".

Isto é completamente especulativo... Vide o trabalho sobre o flagelo bacteriano, por exemplo. http://permanencia.org.br/revista/Pensamento/behe.htm. À propósito, muita confusão se faz sobre o design inteligente. Aqui, uma interessante carta, dirigida ao leitor/público acadêmico, da SBPC: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=33454 (peço-lhes que leiam com calma.. boa explanação deste leitor do Jornal da Ciência). Não se vê, em relação à matéria e à organização complexa de organismos, no universo, nada que vá do mais simples ao mais complexo. Pelo princípio entrópico, vemos o contrário: Do mais complexo ao mais simples... Tudo o que burla isto, abertamente, é a TE. Somente na TE vemos que o mais simples vai ao mais complexo, eliminando-se retórica e filosoficamente todas as questões físicas e metafísicas ligadas à criação da vida. Se não há biogênese espontênea (geração espontânea), um problema maior inrrompe: a fatídica explicação para uma existência prévia eterna da matéria, o que é um contra-senso já combatido pelo famoso argumento kalam, que demonstra a impossibilidade de uma regressão infinita de eventos contingentes (isto é, "causados por outros"), pois, se tal regressão existisse, jamais existiria o presente, o dia de hoje.

4 - O paradoxal não termina aí. Gosto muito do Carl Sagan.. Ele foi um dos principais divulgadores da ciência.. mas, péssimo em questões de lógica e metafísica. Carl era um dos simpatizantes da teoria do "universo inflacionário", que claramente burla a impossibilidade de regressão infinita de eventos contingentes. Outra questão interessante, é que Carl afirmou em seu romance, "Contato", que uma simples sequência de números primos era o suficiente para que qualquer cientista do SETI soubesse que a mesma tinha uma origem inteligente. Ora, na série Cosmos, Carl faz uma analogia com a nossa capacidade cerebral e a biblioteca do congresso nacional americana: Em termos de dados codificados, o volume da BCN americana está presente em nossos cérebros. O que não consigo entender é que não exista nada no universo (posição prévia de Carl) que possa originar uma sequencia de números primos... mas "não pode haver uma explicação metafísica" - uma explicação em Deus, por exemplo, mas temos que imaginar que o tempo e as forças aleatórias originaram e deram continuidade ao desenvolvimento dos processos altamente complexos da natureza (viva), levando-os até à cognição!!!

5 - E, finalmente, se o cérebro produziu a auto-consciência, este é um evento que não encontra paralelo em nenhum sistema estudado até hoje, e vai de encontro a todos os processos epistemológicos que conhecemos... Como uma "máquina" pode criar o "sofware" que irá operá-la? Isto NÃO é fato com a AI, como bem o sabemos... Adequando-se à constante de causa-efeito, a AI tem uma causa mais inteligente do que ela mesma, assim como todos os passos necessários que levaram a ela.. não vieram de uma "seleção natural", mas foram pesquisados, projetados, desenvolvidos, idealizados SEMPRE; isto sim é algo que adequa-se aos nossos sistemas epistemológicos.

Creio, sinceramente, que falta uma análise verdadeiramente crítica dos padrões estabelecidos quanto ao desenvolvimento da inteligência a partir de meios puramente naturais (naturalismo), que, penso eu, são claramente mais filosóficos do que empíricos. Na ânsia de se retirar Deus de cena, ou de se associar a metafísica à supersticiosidade, os defensores do naturalismo filosófico, declaradamente pressuposicionalistas, tornam-se aquilo que mais tentam combater!
Análise sobre o suposto paradoxo do ponto "2"
Uma leitura um pouco mais atenta verá que é inegável, no momento, fazer a seguinte pergunta: "A falseabilidade aplica-se à própria teoria do método científico (na qual há a falseabilidade)?". Para isso, penso que será importante fazemos uma reflexão breve sobre o que é paradoxo. Eis um texto interessante:

Paradoxos e falsos paradoxos

Vamos então ver alguns exemplos de paradoxos e de falsos paradoxos. Imagine o leitor que encontrava a seguinte frase no jornal da manhã: «esta frase é falsa». Se o leitor tiver o hábito, aliás saudável, de desconfiar do valor de verdade de tudo o que no jornal, perguntar-se-ia certamente: será esta frase verdadeira? Imaginemos que sim. Bom, se a frase for verdadeira, verifica-se aquilo que ela afirma, certo? Mas a frase afirma dele mesma que é falsa. Logo, se for verdadeira, é falsa. E se for falsa? Bom, se for falsa não se verifica aquilo que ela afirma. Mas a frase afirma dela mesma que é falsa. Logo, se for falsa é verdadeira.

Chegámos então ao resultado paradoxal: a frase é verdadeira se for falsa e é falsa se for verdadeira. Abreviadamente, costumamos dizer que a frase é verdadeira se, e se, for falsa. Este é o resultado que qualquer paradoxo tem de produzir; se não o produzir não é um paradoxo, apesar de poder ser confundido com um paradoxo. Por exemplo, na página 71 do manual de Fátima Alves, José Arêdes e José Carvalho, no qual se apresenta o paradoxo de Epiménides como um exemplo de uma falácia, a formulação escolhida pelos autores é a seguinte:

o sofisma de Epiménides, poeta cretense do século VI a.C., que afirmou: «todos os cretenses são mentirosos». Ora, atendendo a que ele próprio era cretense, será o enunciado verdadeiro?

É deplorável a capacidade inventiva dos autores, que os fez transformar o conhecido paradoxo do mentiroso num «sofisma» ou falácia. O leitor sabe que a condição de possibilidade para que algo seja um paradoxo é não ser uma falácia, de forma que esta confusão entre as duas categorias é um erro científico muito grave. Mas é também interessante verificar que a formulação clássica do paradoxo do mentiroso, apresentada pelos autores, não é, na verdade, um paradoxo!

Repare-se: Epiménides afirma que todos os cretenses são mentirosos. Mesmo que admitamos que por «mentirosos» se quer dizer «pessoas que nunca dizem a verdade» (o que constitui, convenhamos uma definição estranhíssima de mentiroso), não se consegue gerar nenhum paradoxo. Ora veja : admitamos que o que Epiménides disse é verdade; daí segue-se todos os cretenses são mentirosos; logo, o que ele diz, porque é cretense, é falso. Logo, se o que ele diz é verdade, é falso. Admitamos agora que o que Epiménides disse é falso. Se o que ele disse é falso, a negação do que ele disse é verdade. A negação do que ele disse é «alguns cretenses não são mentirosos». Mas nãonenhum problema em admitir que Epiménides é cretense e que alguns cretenses não são mentirosos. Na verdade, Epiménides, ao afirmar que todos os cretenses são mentirosos, está a pregar-nos uma grande mentira: a verdade é que alguns cretenses não o são. E uma vez que ele nos está a mentir, ele é que é mentiroso!

Conclusão: não se trata de um paradoxo. Se raciocinarmos disciplinada e sistematicamente descobrimos que afinal a afirmação de Epiménides tem de ser falsa. Se fosse um paradoxo, a sua afirmação não podia ser verdadeira nem falsa.

Mas então, perguntará o leitor, por que razão se formulava tradicionalmente desta forma errada o paradoxo do mentiroso? Porque se errava ao raciocinar! A negação da afirmação «todos os cretenses são mentirosos» é, como disse acima, «alguns cretenses não são mentirosos»; mas é fácil errar e pensar que a sua negação é antes «nenhum cretense é mentiroso». Por que razão esta última não é a negação da outra? É simples: a negação de uma frase qualquer tem de ter o valor de verdade oposto a essa frase, como é óbvio. Se a frase «todos os portugueses são altos» é verdadeira, a sua negação tem de ser falsa e vice-versa. Mas agora repare que, apesar de esta frase ser falsa (como é óbvio, nem todos os portugueses são altos), a frase «nenhum português é alto» é também falsa. Logo, apesar de esta última parecer intuitivamente constituir a negação da primeira, não o é de facto. Este facto simples era conhecido por Aristóteles, que chamou «contrárias» a estas frases que não são a negação uma da outra. Às frases que se negam mutuamente chamou Aristóteles «contraditórias».". (Revista Intelecto, nº 5)

Baseado no que foi dito acima, responda: A teoria do método científico é científica? Se a resposta for "SIM" (o que não é o caso), então deve-se aplicar a falseabilidade. Observe que, no mínimo, NUNCA se poderá dizer que a teoria do método científico é plenamente confiável, pois SEMPRE HAVERÁ A POSSIBILIDADE DE NÃO SER. Isto, por si só, não satisfaz a condição epistemológica. Se a resposta for "NÃO", ela falha no quesito falseabilidade e deve ser abandonada como critério científico, ou seja, falha naquilo para o quê foi criada: separar o que é científico do quê não é. Não há nada de paradoxal, nada ad infinitum na pergunta, portanto. O que resta é que o "SIM" é ruim... e o "NÃO", para a "toda-poderosa" teoria do método científico, é pior!

Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo


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