Por Heitor De Paola
Adaptado por Artur Eduardo
“Experts na arte de torcer palavras, popularmente aplaudidos e regiamente pagos; capazes de, com fala macia, transformar o mal em algo bom e de transformar o branco em negro”.
PLATÃO SOBRE OS SOFISTAS
"Na minha adolescência tive um amigo que certa vez ganhou de um tio um filhote de jaguatirica recém-nascido. Era lindo o bichinho! Meu amigo lhe dava mamadeiras e limpava a sujeirada. Só que o bicho foi crescendo, e rápido! Os amigos diziam que ele devia no mínimo mantê-lo preso. Mas o gajo se afeiçoou de tal maneira que só obrigado pela polícia usava coleira e focinheira para sair à rua; em casa, soltava o bicho! Só que a jaguatirica definhava, não tomava mais leite e queria mudar a dieta de acordo com sua natureza carnívora. Lá ia o cara para o açougue. A todas as recomendações e críticas ele respondia que o bichano também se afeiçoara a ele e não havia perigo. Pois um dia aconteceu o desastre anunciado: mal entrara em casa e a jaguatirica arremeteu sobre ele e por pouco não lhe arrancou metade da cara. Mesmo assim os danos foram feios, teve que ser submetido a uma cirurgia de emergência. O bicho foi apreendido e mandado para o zoológico de Esteio, ao norte de Porto Alegre. A jaguatirica enfim mostrava sua natureza!
Esta lembrança me ocorre à mente a propósito do violento ataque recentemente sofrido por uma equipe de reportagem do jornal O Dia, do Rio de Janeiro, por parte de bandidos da Favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio. Os jornalistas, juntamente com um morador local, foram seqüestrados e brutalmente torturados.
Embate entre policias e traficantes, no Complexo do Alemão, em junho de 2007. Depois de 7 horas de intenso tiroteio, o saldo: 19 mortos.
Acostumados a uma interpretação sofística da realidade e “com fala macia, transformar o mal em algo bom”, agora se queixam amargamente quando a verdadeira natureza da bandidagem – tal como a das jaguatiricas – mostra a sua verdadeira face. Os jornais, há décadas, vêm alimentando os bandidos a mamadeiras e pão-de-ló, chamando as favelas de “comunidades”, os bandidos ladrões e assassinos de “pobres excluídos do neoliberalismo selvagem”, defendendo seus “direitos humanos” contra as autoridades policiais que, às custas da própria vida, os enfrentam e protegem a sociedade.
As novelas da Globo glamurizam as “comunidades” onde se vive em paz e harmonia só quebrada pelos truculentos policiais. São até afrodisíacas, pois vovôs e vovós reencontram o antigo vigor sexual em seus barracos (de luxo, bem verdade!) e, embora riquíssimos, adoram o ambiente favelar. As empresas de turismo ganham rios de dinheiro levando turistas basbaques a visitá-las como zoológicos humanos – até os jipões parecem os do Kruger Park - e, de volta às suas terras, fazerem vultosas contribuições às ONG’s protetoras dos “direitos humanos”.
Quantos policiais já não morreram? Quantos já não perderam o emprego processados por tais ONG’s e Pastorais disto e daquilo por “desrespeito aos direitos humanos”? Mas isto não dá notícia. Agora que jornalistas “bonzinhos” são atingidos, começa o velho e desgastado ritual dos “atos públicos”, lá vem o ministro interino da Justiça (sic), Luiz Paulo Barreto, afirmar que a tortura a jornalistas é considerada um atentado à liberdade de imprensa e o Vice-Presidente da República a cobrar investigação rigorosa e dizer que, se houvesse punição adequada, bandidos teriam menos coragem de cometer atos violentos. Até a ONU, como seria de prever, já censura e exige punições. Isto já sabíamos há muito, seu Alencar, diga algo novo para variar!
Mas não são as próprias autoridades, mancomunadas com os intelectualóides esquerdopatas, a justiça (sic) e a imprensa que sempre defenderam os tais “direitos humanos” dos bandidos e impediram a “punição adequada”? A população clama por punição e o que vocês fazem? Ao invés de punir, impedem que a polícia faça seu serviço. Pudera, governos como os que se sucedem desde 1994, constituídos de assaltantes, guerrilheiros e terroristas, financiadores da guerrilha do MST, dos quilombolas e incentivadores de revoltas tribais, como não vão defender seus pares?
Quando indivíduos que pegaram em armas contra o País, assaltaram bancos, montaram guerrilhas e assassinaram covardemente militares e policiais, são agraciados com altos cargos públicos e polpudas indenizações e posam como heróis da luta contra a “ditadura”, ao invés de serem punidos pelos seus atos, o que se pode esperar? Quando juízes se orgulham de não expedir sentença de prisão para traficantes de drogas, condenando-os a “trabalhos comunitários”, o que tornará muito mais fácil seus dignificantes “afazeres” de dizimar a juventude, o que se pode esperar?
A repressão saiu de moda na modernidade. Desde a infância os pais não exercem mais autoridade, não dizem pode/não pode ou castigam se fizer o que não pode. “Propõem”, sugerem conversar sobre o assunto e perguntar à criança “o que é que ela acha”.Jovens em show de punk-rock com incitações à rebeldia, ao uso de drogas e à violência.
Seguem-se escolas com o mesmo comportamento recomendado pelos “especialistas”, as quais se temem reprimir ou castigar, pois serão alvo de queixas dos alunos e de seus pais e se verão às voltas com processos dos famigerados Conselhos Tutelares, esta excrescência do ECA. O que se pode esperar desta educação?
Vá lá tentar contestar a fala mole desta gente! Não pode, são os especialistas [*] que não admitem contestação. Eric Voegelin (Science, Politics and Gnosticism), já observara que na modernidade “emergiu um fenômeno desconhecido na antiguidade que permeia nossa sociedade de forma tão completa que sua onipresença impede que sequer a enxerguemos. Somos confrontados com pessoas que sabem que - e porque – suas opiniões não resistem a uma análise crítica e que, portanto, fazem da proibição do exame de suas premissas uma parte essencial de seu dogma. As perguntas do ‘homem individual’ são impedidas pelo ukase do especulador que não permite a perturbação de suas construções”.
Mas há uma resposta – que abrange todo o linguajar politicamente correto – e é aquela dada por Humpty Dumpty a Alice (Lewis Carroll, Through the looking Glass): “Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente o que eu escolhi para ela significar – nem mais nem menos... A questão é, quem manda – nada mais!”.
Só que as jaguatiricas e os bandidos acabam por mostrar sua natureza selvagem, sem nenhuma afeição por ninguém, e impõem aos “especialistas” o confronto com a realidade – esta é quem manda, não suas construções ideológicas delirantes! Agora não adianta chorar e espernear!".
[*] http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3785
O autor é escritor e comentarista político, membro da International Psychoanalytical Association e ex-Clinical Consultant, Boyer House Foundation, Berkeley, Califórnia, Membro do Board of Directors da Drug Watch International, e Diretor Cultural do Farol da Democracia Representativa (www.faroldademocracia.org) . Possui trabalhos nas áreas de psicanálise e comentários políticos publicados no Brasil e exterior. E é ex-militante da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).Abaixo, pseudo-entrevista criada pelo jornalista Arnaldo Jabor sobre o traficante e chefe do PCC, o "Marcola", publicada no jornal O Globo, de 23/05/06, mostra o que disse: Sabemos bem da dimensão do problema que enfretamos, admitimos o mesmo.... e nada continua sendo feito pela maior parte da sociedade!!
Por sua determinação, em 12 de maio de 2006, deu-se início a maior onda de violência da história recente do estado de São Paulo, com pelo menos 45 mortes: 23 policiais militares, sete policiais civis, três guardas municipais, oito agentes penitenciários e quatro civis. Em seu revide, a polícia matou 107 pessoas consideradas suspeitas de participação nos ataques. Também por determinação de Marcola, após suposta negociação com o governo do estado de São Paulo, as rebeliões e os ataques foram cessados. Em outras duas ondas de ataques nos meses de julho e agosto, agências bancárias, lojas e ônibus foram incendiados.
"Você é do PCC?"
- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas…
Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…
- Mas… a solução seria…
- Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
- Você não têm medo de morrer?
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora… Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no
meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A
morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala…Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.
Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda?
Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"… ha, ha…
Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade.
Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
- Mas o que devemos fazer?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete antitanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí…
Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo… Já pensou? Ipanema radioativa?
- Mas… não haveria solução?
- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco… na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema.
Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogni speranza voi che entrate!"
Percam todas as esperanças.
Estamos todos no inferno.".
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
Que Deus tenha misericórdia de nossa sociedade
Um comentário:
Pr. Artur,
Muito seu blog e suas matérias. Corajosas de fato, nos temas e abordagens. Essa por exemplo deve dizer que concordo plenamente. É terrível o rumo que anda tomando a sociedade, com inversão de valores e prioridades, sem contar a ausência do governo onde realmente precisa.
Parabéns,
Graça e Paz,
Juber
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