Por Thomas Sowell (economista e ensaísta americano)
Traduzido por Emílio Angueth de Araújo
Adaptado por Artur Eduardo
Se você acaso desejasse um Rolex ou um Rolls-Royce, você poderia ter um – ou dois se você quisesse – e não teria de se preocupar com coisinhas feias tais como etiquetas de preços.
Há tal mundo. É o mundo da retórica política. Não admira que tantas pessoas sejam atraídas para esse mundo. Seria um fabuloso lugar para se viver.
Depois de Arthur Goldberg ter sido juiz da Suprema Corte, ele lamentou que outros problemas da sociedade não pudessem ser tratados como os que chegavam naquela corte – alcança-se uma decisão a respeito e, então, emite-se a declaração: “Cumpra-se.”.
A política oferece algo similar. Teoricamente, decisões políticas são limitadas por orçamentos. Mas, para muitos políticos experientes, esses limites são, na maior parte, teóricos.
Orçamentos governamentais, afinal, são apenas projeções do que se espera que aconteçam, não um registro puro e simples do que aconteceu. E, raramente, o público ou a mídia farão uma coisa tão má quanto comparar o que o orçamento dizia que iria acontecer com o que realmente aconteceu. Além do mais, os políticos podem colocar grandes gastos “fora do orçamento” por muitas “nobres” razões. E se você tiver longa experiência com o uso da retórica política, nada é mais fácil que criar “nobres” razões.
Se você pudesse colocá-la “fora do orçamento”, você não compraria uma segunda casa na praia
ou talvez um iate para velejar? Por que não curtir a vida um pouco – ou muito? (Experientes com a retórica política e sem escrúpulos. Grifo nosso.).
Os políticos têm muito mais formas de escapar dos preços do que Houdini [1] tinha de escapar dos cadeados.
Quando políticos espertos querem nos oferecer alguma benesse, mas não querem assumir a responsabilidade de elevarem os impostos para pagar por ela, eles oneram pessoas que não podem votar – ou seja, a próxima geração – conseguindo dinheiro através da venda de títulos do governo que os futuros contribuintes terão de resgatar.
Mesmo esses gastos deficitários deixam, contudo, um rastro – uma dívida interna que é o espírito do Natal futuro.[2] Mas os políticos podem, mesmo assim, se safar disto.
A forma mais indolor de os políticos distribuírem benesses, sem assumirem a responsabilidade por seus custos, é criar uma lei dizendo que alguém deve suprir e pagar por tais benesses, enquanto eles levam o crédito pela generosidade e compaixão.
Os empregadores são alvos preferenciais para tais funções, pois há sempre mais empregados que empregadores, e isso é o que conta no dia da eleição. Quer seja um plano de saúde, quer sejam folgas remuneradas, tais exigências sobre os empregadores podem ser justificadas com um pouco de retórica sobre as “responsabilidades sociais” dos empresários.
Não se fala da origem dessas “responsabilidades sociais”. Elas soam bem, e isso é o suficiente para a política.
Algumas pessoas podem ir embora raivosas por serem ignoradas. Custos não são assim. Você pode ignorá-los o quanto for, e eles não irão embora. Enquanto está curtindo todas as benesses que os políticos estão lhe enviando, você pode notar que seus impostos estão subindo ou que seu salário, ou sua poupança, não compra tantas coisas quanto antigamente.
Os custos que são impingidos nos empresários podem estar sendo repassados aos consumidores na forma de preços mais altos. O próprio dinheiro que o governo imprime para gastar reduz o valor do dinheiro em sua carteira ou na sua conta bancária.
Se você é alguém à procura de emprego – talvez um jovem entrando no mercado de trabalho ou uma mulher de volta a ele depois de alguns anos cuidando de um filho pequeno – você pode descobrir que não há muitos empregos disponíveis como costumava haver, antes de os empregadores serem obrigados a pagar por “responsabilidades sociais” (além de pagar pelo valor do trabalho do empregado).
Tempos desesperados podem exigir medidas desesperadas. Assim, você tentará descobrir por meio de algum economista o que está errado. Você pode não conseguir melhor explicação que a de que “Não há almoço de graça” – que é uma das muitas razões por que economistas não são figuras populares.
Mas, não há realmente almoço de graça, exceto no mundo da retórica política, um mundo em que muitos querem estar, em que se pode brincar de Papai Noel sem sequer pagar pelo custo da fantasia.
[1] Um dos mais famosos mágicos americanos de todos os tempos. Sempre usado por Sowell quando este fala das mágicas propostas pelos políticos. (N. do T.)
[2] Esta expressão se refere ao personagem de Charles Dickens, The Ghost of Christmas Yet to Come [O Espírito do Natal Vindouro], que assombrava o pão-duro Ebenezer Scrooge, na obra "Christimas Carol", com as conseqüências futuras no além, caso ele não fosse menos sovina nesta vida. (N. do T.).
Fonte: Mídia sem Máscara
NOTA: Recebi uma mensagem, recentemente, de um jovem com uma retórica brilhantemente vazia. Isto não é uma pilhéria, mas uma impressão. Sua opinião é que meu conservadorismo, para mim, é "o bem", e o progressismo juntamente com os movimentos revolucionários e até a social-democracia são "o mal". O minimalismo com que taxamos uma posição contrária a quaisquer jargões comuns pode redundar em posicionamentos ´vazios´, e digo isto porque os tais podem, inclusive, ser propostos de forma brilhante. Não há bem e mal senão na filosofia teológica, e quaisquer padrões que advenham destas idéias procedem da idéia inata, Deus. Bem e mal não estão nem são, essencialmente, quaisquer tipos de movimentos humanos, pois todos têm a marca indelével do pecado e, portanto, não há sistema que funcione para resolver o maior de todos os problemas do ser humano: O mal do pecado que há nele (Rm. 5:12). Contudo, utopias precisam ser analisadas pois, a História testifica, muitos enveredam por ideologias sem quaisquer tipos de análise, e creio que o contrário disto é justamente o que o eminente Thomas Sowell faz em seu artigo. ´Demonizar´ a sociedade de consumo, consumindo e com vontande de consumir não é lá uma atitude muito inteligente. Defender um posicionamento radical, irresponsavelmente, também não me parece ser inteligente. O comunismo não deu certo, e penso que nunca dará, pois seus intelectuais fundadores eliminaram sumariamente uma parte fundamental do ser humano, objeto de sua análise por toda a vida, o metafísico. O ser humano é um ente com uma alma espiritual e é este elemento que o torna uma pessoa. A pessoalidade do ser humano não consiste no que ele faz, mas no que ele é, e o ser humano é o que ele é. Esta é a famos Lei da Identidade. O quê o ser humano é? Um ser espiritualmente caído com uma predisposição intrínseca de domínio, controle e possessão. Como o próprio ser humano irá lidar com isto é o que define o sucesso ou fracasso de uma civilização inteira. Capitalismo e socialismo não são bons ou maus inerentemente, mas lidam melhor ou pior com aquilo que inerente ao homem; e, penso, o socialismo comunista lida muito pior. O paradoxo de haver cristãos genuínos cujos posicionamentos são esquerdistas só revela o quanto há de pessoas que desconhecem, de fato, o que é essencialmente o socialismo comunista. Basearmos, portanto, nossos posicionamentos sobre ideologias das quais desconhece-se a essência é perigosíssimo. Há muitos ex-nazistas (nacional socialistas) que dizem: "Se soubesse que seria daquela maneira....". Um dos mais célebres é o atual papa, Bento XVI. O conservadorismo capitalista não é perfeito e está muito longe disto. Contudo, cria mecanismos que filtram melhor a essência humana valorizando aspectos positivos inerentes às atividades desenvolvidas por quaisquer seres vivos: Seu trabalho lhe trará recompensa. A sublevação desta perspectiva é um engodo e um atentando ao que, somos. O que nos falta é a criação de oportunidades reais para a construção dos sonhos humanos que, também, lhe são inerentes. É a associação ao ensino bíblico-cristão para dirigir-lhes os passos rumo à formação social e profissional, algo que foi erradicado de nossa sociedade. Sem Deus, projeto nenhum pode dar certo, acaba sempre fenecendo. A essência do socialismo comunista retirou Deus de cena essencialmente, e desde os seus primórdios. É por isso que seu modelo clássico não deu certo. Hoje, querem lhe dar uma roupagem nova, híbrida até. O alicerce, contudo, é o mesmo. Daí, a crítica do Thomas e a minha também.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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