Pesquisar no blog

terça-feira, 21 de abril de 2009

Gnose e a auto-indulgência teológica atual

"A GNOSE MODERNA E O SUPER-HOMEM"


Representação gnóstica com vários elementos que os gnósticos admitem para si. Abaixo, à direita, uma alusão ao ´Mito da Caverna´, de Platão. À esquerda, pensadores simples da natureza a quem é atribuida a verdadeira ciência a partir da observação do ´Divino´ escrito no natural, no humano. Ao centro, um gnóstico no meio da ´Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal´, que está enrolada pela ´Serpente´. Este é um símbolo da indulgência humana perante a ´tirania´ de um deus menor, um ´demiurgo´ que queria o conhecimento para si. Este ´demiurgo´ é frequentemente associado ao Deus bíblico, no Antigo Testamento, pelos gnósticos. Ao centro ainda, a figura de um homem de braços abertos, uma alusão ao ´Homem Vitruviano´ de Leonardo Da Vinci, que fez um homem de braços e pernas abertas para mostrar a perfeição das proporções humanas. Aqui, no entanto, a representação forma um ´Pentagrama´, um dos símbolos mais usados no Ocultismo e nas diversas formas de rituais de magia. Observe que o Pentagrama é formado da maneira como é concebida no Ocultismo, uma estrela dentro de um círculo. O círculo é a organização das paisagens, na pintura.


Por Marcus Boeira
Adaptado por Artur Eduardo


A gnose é um dos elementos de maior difusão na cultura herética da civilização ocidental. Desde a época do Antigo Testamento, seitas gnósticas procuravam distorcer o sentido dos livros do Pentateuco e dos profetas. Com o advento do Cristianismo – vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo – o número de Igrejas que professavam a fé Cristã logo se disseminou durante todo o primeiro século dessa era. A caritas, fundamento de toda revelação em Cristo, passaria a pôr um sentido novo para a existência social das comunidades espalhadas por todo o Império Romano. No território imperial, a prática da vida Cristã seria abalada por inúmeras perseguições e rivalidades de toda ordem.

A par disso, a proliferação de inúmeras Igrejas – tal como expõem as Epístolas Paulinas e o livro de Atos dos Apóstolos – foi acompanhada por um crescimento vertiginoso de seitas heréticas e gnósticas, que tinham por hábito distorcer e negar as palavras sagradas do Evangelho. Logo, o gnosticismo alcançaria um status surpreendente, em grande parte devido às heranças pitagóricas e paganistas.

Segundo a palavra de Deus, a verdade se distingue do erro e da mentira no entendimento humano, conforme a ação do Espírito Santo nos homens, que os capacita para o conhecimento da Verdade em Cristo, de acordo com que nos diz Paulo em 1 Co 1, 5: “Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento”.

Ocorre que, procurando distorcer o entendimento do plano espiritual por obra do Espírito Santo, falsos mestres se difundiram em Igrejas Cristãs no início do Cristianismo, como atesta o próprio Apóstolo na primeira Carta a Timóteo, capítulo 1.

Dentre os falsos mestres, muitos praticavam o gnosticismo.

Gnosticismo pode ser entendido, inicialmente, como sendo uma angústia diante dos mistérios desconhecidos acerca do significado da existência. Conforme a Palavra Sagrada, tais mistérios não são revelados “in totum” para o homem (1 Co 2, 7-8). Porém, a angústia gnóstica levou o homem a negar a Sagrada Escritura e buscar o conhecimento por si, através de práticas iniciáticas e ocultas. Diferentemente das civilizações cujo centro são revelações sobrenaturais no plano histórico (elementos esotéricos unidos a elementos exotéricos), o gnosticismo partiu para a via negativista. Nas civilizações onde o ponto de partida são religiões, a prática religiosa é aberta para a totalidade social. No gnosticismo, o mundo e o outro são encarados como estranhos. O mundo é como se fosse uma cadeia, o qual cada praticante precisa livrar-se. Daí a volta para uma existência separada da vida social e do mundo.

Assim como a gnose fazia o praticante recorrer a uma revelação individual para responder suas próprias dúvidas existenciais e angustiantes, logo passaria a ser um recurso para aqueles que buscavam superar suas angustias acerca dos mistérios. Resultado: a busca se voltou para respostas concebidas pelo deus escolhido, estranho, que não fundamenta o outro, mas apenas o próprio curioso. Então, como o mundo é estranho e não fornece salvação, o gnóstico recorreu a uma salvação própria, individual, como se o próprio praticante tivesse poder para salvar-se a si mesmo e estabelecer sua auto-revelação.

O gnosticismo levou a um estado de fato no qual o próprio homem seria capaz de realizar sua incorruptibilidade no plano imanente e, assim, invocar uma saída escatológica na estrutura do próprio tempo, sem dependência alguma da eternidade. O gnosticismo levou à certeza de um apocalipse individual promovido pelo próprio homem, que agora é juiz de si mesmo.

A gnose, assim, implicou no domínio total por parte do homem acerca do significado de sua própria existência, fazendo do mesmo juiz de sua própria vida. À luz do cristianismo, segundo demonstra VOEGELIN, a gnose apareceu como “um esforço para obter um domínio sobre nosso conhecimento da transcendência maior do que o propiciado pela ...cognição da fé” (Nova Ciência da Política, p. 95).

Assim, o gnosticismo seria a porta de entrada para um conhecimento que colocaria Deus não como Aquele que revela, mas como alguém que está dentro da própria constituição da inteligência do gnóstico, tornando-o apto ao conhecimento pleno da verdade.

Dessa forma, o gnosticismo fez com que a estrutura de dependência e fundamentação do plano imanente com relação ao plano transcendente caísse por terra, sendo o plano material concreto o bastante para satisfazer a angústia gnóstica: e esse foi o sentido que informou grande parte do pensamento filosófico da modernidade e que deu origem à gnose moderna.

Diferentemente da antiga, a gnose moderna é assumidamente materialista e baseada na auto-redenção do homem a partir da superação de sua ignorância e realização de sua salvação por seu conhecimento racional. A razão humana, aí, é elevada ao condão de salvadora dos eleitos, aqueles iniciados nos rituais gnósticos da iluminação racional. O gnosticismo, enquanto racionalismo sectarista, daria base tanto ao iluminismo quanto ao idealismo, dos quais surgiram filosofias totalitárias e materialistas da história como o marxismo e o positivismo.

A gnose moderna, então, não seria mais o recurso ao deus estranho, mas uma obra humana em que a auto-redenção “é assegurada pela assunção de um espírito absoluto que, saindo da alienação, chega a si mesmo no desenrolar-se dialético da consciência” (VOEGELIN, Eric. Ciência, Política e Gnose, p. 17).

Seria, segundo consta, um recurso ao espírito absoluto do próprio homem dentro de si (HEGEL), que sai da alienação de sua agnoia e encontra a si mesmo, elevando-o ao status de super-homem. Tal pensamento levaria alguém como NIETZSCHE (tão aclamado nos atuais círculos acadêmicos de cunho materialista) a negar a eternidade de Deus, dizendo que o mesmo havia morrido. Tal afirmação, assim, seria a revelação filosófica de um desejo gnóstico antigo, o qual Deus morre e o homem assume a posição de inteligência suprema. A angústia gnóstica, assim, estaria superada: o homem acabara de adquirir a posição mais alta a que poderia chegar, qual seja a de soberbo intelectual.

Fonte: Mídia sem Máscara

NOTA: E o gnosticismo moderno avança. Já foi dado o sinal verde para a adaptação do romance que dá continuidade do ´Código Da Vinci´, best-seller de Dan Brown que vendeu mais de 81 milhões de cópias em todo o mundo. Baseando-se em posicionamentos gnósticos, o que tem se tornado uma tendência de muitos ´estudiosos´ que se dizem revisionistas dos preceitos cristológicos ortodoxos e dos Concílios que os dogmatizaram, o que era herético é tido por ´verdadeiro´ e tem-se achado todo o tipo de justificativas possíveis e imagináveis para que os ditos e ´evangelhos´ gnósticos espúrios e rejeitados pela Igreja alcancem um patamar de ´mais puros´ e ´mais espirituais´ do que os canônicos. Não é à toa que vemos a atenção do público para falácias históricas e religiosas, como as que estão presentes no livro de Dan Brown, sendo admitidas como a amostra da mais absoluta verdade pelo grande público, quando este mesmo público pouco ou nada conhece do processo de canonização das Escrituras, da sua manutenção e, principalmente, dos motivos que levaram os Reformadores do século XVI a proclamarem a autoridade única da Bíblia como objeto regulador dos preceitos e praxis cristã. Temo que a ignorância, vivida por quem acusa os cristãos, seja a causa de sua própria ruína.

Em Cristo Jesus,

Pr. Artur Eduardo

Nenhum comentário:

Ofertas Exclusivas!!!!