Recentemente vi um documentário transmitido na tv, Religulous, que aborda a incoerência da crença em Deus a partir de uma perspectiva crítica às religiões. O apresentador é ninguém menos que Bill Maher, comediante, ex-católico, com mãe judia e pai católico praticante. Maher é a encarnação de um movimento que tem se tornado cada vez mais forte e presente na atualidade: a dos ateus-zombadores-pseudointelectuais-militantes. Isso mesmo!! "Ateus", pois é um pessoal que se auto-intitula dessa maneira... "Zombadores", pois sua principal arma não é a argumentação coerente, não é o uso de textos contextualizados, mas a descaracterização dos religiosos e, obviamente, a generalização!... "Pseudo-intelectuais", bem, esta nem precisa explicar muito... e "militantes", pois não se fazem de rogrados em gastar (e receber!) rios de dinheiro com livros-metralhadoras: "atiram" para todos os lados, quase como se quisessem atingir o vento - esta é, de fato, a definição correta para aqueles que atacam a Deus pela religião!
Trailer de "Religulous".
O filme tem a pretensão de ser inteligente pelo simples fato de ser debochado. Apesar de ótimas "sacadas", como revelar declarações estapafúrdias e descontextualizadas (como a do senador estadunidense que, depois de ser confrontado com a irônica observação de Maher, que se diz "preocupado" com políticos que creem em "cobras falantes" - numa alusão à serpente do livro de Gênesis -, ouve uma resposta que deve ter soado como música nos ouvidos dos ateus militantes: "Você não precisa passar num teste de Q.I. para estar no Senado"!!), o documentário, de fato, é muito fraquinho. Digo isto pois Maher não procurou conversar com, por exemplo, nenhuma autoridade em Escritura, Apologética, Teologia, etc., na maioria das vezes se limitando a mostrar tele-evangelistas gritando palavras de ordem, fieis que não sabiam - em virtude de sua simplicidade - fundamentar bem sua fé, e, concercenente às demais religiões, clérigos que mostraram-se apegados exclusivamente às suas práticas e tradições religiosas com pouca ou nenhuma fundamentação teológica. O resultado? Um "prato cheio" para as pilhérias pouquíssimo engraçadas de Maher.
O filme, do mesmo diretor do sarcástico "Borat", com Sacha Baron Cohen, diga-se a verdade, revela uma faceta sombria de parte do evangelicalismo norteamericano da atualidade: uma propensão ao antiintelectualismo! Obviamente que, para o documentário funcionar de acordo com o propósito para o qual foi notoriamente realizado - zombar do caráter religioso - Religulous precisou (e contou) com a ajuda involuntária de vários cristãos norteamericanos. O festival de baboseiras em que se transformam alguns diálogos do filme, apesar de tratarem de questões importantes, como o problema do sofrimento, era exatamente o que os diretores e produtores queriam: o documentário não tem, em absoluto, a pretensão de ser tido como "sério" e muito menos de parecer um "estudo acadêmico" sobre o fenômeno religioso, mas é exatamente aí que estão novas armas dos mais vociferantes opositores da fé cristã da atualidade: no deboche sarcástico.
Quando o assunto são os milagres, Bill Maher (como bom comediante) simplesmente "ri" e desdenha como se, pelo fato de ele estar rindo e de intitular o fenômeno miraculoso da Bíblia de ´absurdo´, então ele deve estar com a razão!! Observe, prezado leitor, que em termos lógicos uma coisa nada tem a ver com a outra! Baseando-se na força que uma estupefacção, uma expressão de espanto, pode ter diante das câmeras, Maher abusa de tal recurso diante de respostas que ele considere sobrenaturais e, por isso, impossíveis. Assim, tudo acerca de Cristo, desde o nascimento virginal de Cristo à sua ressurreição, isto é, toda a sua existência é posta em dúvida e, como o próprio apresentador afirma aqui e acolá, o benefício está na dúvida!! Duvidar de tudo seria, para Maher, o remédio, o comportamento necessário à harmonia e verdadeira paz religiosa. Arguto zombador, Maher (orientado pelos diretor e produtores), simplesmente atropela questões prementes e requisitos para quisquer discussões sérias sobre os Evangelhos, por exemplo. Apesar de citar (e rapidamente), na maioria das vezes para leigos que, apesar de sinceros, notoriamentel não tinham o ferramental necessário para responder às perguntas e comentários do apresentador (algumas vezes, observe, lidas), que os Evangelhos "são biografias ruins" e através de suas piadas "corroborar" tal ideia, o apresentador não conversa (repito) com nenhum autoridade em Bíblia, Apologética e/ou Teologia... apenas ri com que o que pensa serem discrepâncias irreconciliáveis.
Cartaz promocional de "Religulous". O sarcasmo é uma sinal claro de que, para os criadores do filme, a discussão está encerrada a priori: a "verdade" - que tanto professam mostrar - pode lhes morder o braço... arrumarão, inevitavelmente, outra explicação!
Como professor de Evangelhos há quase dez anos, sei que muitas pessoas pensam que este tipo de gênero literário bíblico (e são quatro os do tipo) compõe uma junção de "biografias" sobre Jesus. De fato, se os evangelhos (livros) fossem biografias, seriam as piores do mundo. Os evangelhos são, acima de qualquer outra coisa, trabalhos teológicos, orientações dogmáticas e pragmático-teológicas para a Igreja do século I e posterior. Que raio de biografias são essas que simplesmente suprimem 30 anos do ministério de Cristo, falando de Jesus quando criança, no máximo, esporadicamente? A resposta é que não são trabalhos biográficos, mas essencialmente teológicos. De fato, sabe-se que a teologia da mensagem de Marcos consiste num destaque ao messianismo de Cristo e sua vida de serviços; em Mateus, seria o "Messias-Rei"; em Lucas, o "Messias-Homem" e em João, o "Messias Deus". Como trabalhos cujo teor contém material descritivo e prescritivo, os Evangelhos a) se não todos, mas pelo menos dois foram escritos por testemunhas oculares dos eventos (Mateus e João), e isto contradiz uma das premissas principais do filme.
Outro ponto está no b) fato de os produtores, diretor e apresentador claramente não terem pesquisado sobre assuntos fundamentais da Apologética, como as evidências históricas de Jesus; as autorias dos livros sagrados e, principalmente, suas teologias principais. Afirmar que não há material histórico suficiente para testificar a existência de Jesus é uma piada. Nenhum centro acadêmico sério, em qualquer parte do mundo, jamais vai incorrer num erro grosseiro como este novamente. É sério: ninguém mais disse isso. A questão não é se Jesus foi fato ou ficção (e é claro que ele foi um fato histórico), mas o que sua vida significa para os seres humanos posteriores. Seria Jesus um mero "revolucionário"? Um "estadista"? Um "louco"? Ou foi o Deus-homem conforme nos ensinam os Evangelhos? Como cada evangelho é uma obra teológica voltada a um determinado grupo (sabe-se, por exemplo, que Marcos escrevera para os romanos; Mateus, para os judeus; Lucas, para Teófilo (um grego) e João, para a Igreja, afim de a livrá-la da heresia gnóstica). Portanto, sua mensagem adequa-se às necessidades daquele determinado grupo, ou seja, você encontrará teologias de mensagens diferentes, não um "texto diferente" ou (pior) biografias discrepantes por serem incompletas!!!!
A seguir vem a questão da historicidade de Jesus. O documentário pega carona em bondes de meados dos anos 80, época em que virou moda duvidar da historicidade de Jesus. Bem, enxurradas de descobertas e redescobertas arqueológicas e antropológicas à parte, a historicidade de Jesus é quase um ponto pacífico na Academia, hoje. É óbvio que o auxílio da literatura extrabíblica é bem vinda para lançar luz à questão. O que temos, então? Vejamos:
Para se ter uma ideia de quanto o material é historicamente profuso, tomemos o exemplo de Pôncio Pilatos. Nenhum registro do próprio Pilatos sobreviveu.. só se sabe que ele foi prefeito da Judeia, a mando de Roma, por algumas parcas evidências de um ou dois historiadores romanos (muito diferentemente de Jesus, que, fora as evidências supracitadas, ainda conta com os evangelhos canônicos e muitas outras referências em vários outros documentos "cristãos" do próprio século I ou do século II. Nada havia sobre Pilatos (em termos arqueológicos)... bem, havia:Fontes Não-Bíblicas Atestam a Historicidade de Jesus
Flávio Josefo (37-100 d.C.)
O historiador Josefo que viveu ainda no primeiro século (nasceu no ano 37 ou 38 e participou da guerra contra os romanos no ano 70, escreveu em seu livro Antiguidades Judaicas:
"(O sumo sacerdote) Hanan reúne o Sinedrim em conselho judiciário e faz comparecer perante ele o irmão de Jesus cognominado Cristo (Tiago era o nome dele) com alguns outros" (Flavio Josefo, Antiguidades Judaicas, XX, p.1, apud Suma Católica contra os sem Deus, dirigida por Ivan Kologrivof. Ed José Olympio, Rio de Janeiro 1939, p. 254). E mais adiante, no mesmo livro, escreveu Flávio Josefo: "Foi naquele tempo (por ocasião da sublevação contra Pilatos que queria servir-se do tesouro do Templo para aduzir a Jerusalém a água de um manancial longínquo), que apareceu Jesus, homem sábio, se é que, falando dele, podemos usar este termo -- homem. Pois ele fez coisas maravilhosas, e, para os que aceitam a verdade com prazer, foi um mestre. Atraiu a si muitos judeus, e também muitos gregos. Foi ele o Messias esperado; e quando Pilatos, por denúncia dos notáveis de nossa nação, o condenou a ser crucificado, os que antes o haviam amado durante a vida persistiram nesse amor, pois Ele lhes apareceu vivo de novo no terceiro dia, tal como haviam predito os divinos profetas, que tinham predito também outras coisas maravilhosas a respeito dele; e a espécie de gente que tira dele o nome de cristãos subsiste ainda em nossos dias". (Flávio Josefo, História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, XVIII, III, 3 , ed. cit. p. 254). (1, pg. 311 e 3).
Tácito (56-120 d.C.)
Tácito, historiador romano, também fala de Jesus. "Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício. Reprimida incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais somente na Judéia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto há de horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela" (Tácito, Anais , XV, 44 trad.) (1 pg. 311; 3)
Suetônio (69-122 d.C.)
Suetônio, na Vida dos Doze Césares, publicada nos anos 119-122, diz que o imperador Cláudio "expulsou os judeus de Roma, tornados sob o impulso de Chrestos, uma causa de desordem"; e, na vida de Nero, que sucedeu a Cláudio, acrescenta: "Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício" (Suetônio, Vida dos doze Césares, n. 25, apud Suma Católica contra os sem Deus, p. 256-257). (1 pg. 311; 3)
Plínio o Moço (61-114 d.C.)
Plínio, o moço, em carta ao imperador Trajano (Epist. lib. X, 96), nos anos 111 - 113, pede instrução a respeito dos cristãos, que se reuniam de manhã para cantar louvores a Cristo. (4, pg. 106).
Tertuliano (155-220 d.C.)
Escritor latino. Seus escritos constituem importantes documentos para a compreensão dos primeiros séculos do cristianismo. (6). Ele escreveu: "Portanto, naqueles dias em que o nome cristão começou a se tornar conhecido no mundo, Tibério, tendo ele mesmo recebido informações sobre a verdade da divindade de Cristo, trouxe a questão perante o Senado, tendo já se decidido a favor de Cristo...".
Os Talmudes Judeus
A tradição judaica recolhe também notícias acerca de Jesus. Assim, no Talmude de Jerusalém e no da Babilônia incluem-se dados que, evidentemente, contradizem a visão cristã, mas que confirmam a existência histórica de Jesus de Nazaré. (6)
Os Pais da Igreja
Policarpo, Eusébio, Irineu, Justino, Orígenes, etc...Considerações Sobre a Existência de Jesus Cristo
Para o leitor ter uma idéia do quanto à existência de Cristo é rica em suas fontes, analisemos analogamente a biografia de Alexandre (o Grande) e Jesus. As duas biografias mais antigas sobre a vida de Alexandre foram escritas por Adriano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de Alexandre, ocorrida em 323 a.C. e mesmo assim os historiadores as consideram muito confiáveis. Para a maioria dos historiadores, nos primeiros 500 anos, a história de Alexandre ficou quase intacta. Portanto, comparativamente, é insignificante saber que os evangelhos foram escritos 60 ou 30 anos (isso no máximo) depois da morte de Jesus e esse tempo seria insuficiente para se mitificar um indivíduo.
Por exemplo, embora os Gathas de Zoroastro, que datam de 1000 a.C., sejam consideradas autênticas, a maior parte das escrituras do zoroastrismo só foram postas por escrito no século III d.C. A biografia pársi mais popular de Zoroastro foi escrita em 1278 d.C. Os escritos de Buda, que viveu no século VI a.C., só foram registrados depois da era cristã. A primeira biografia de Buda foi escrita no século I d.C. Embora as palavras de Maomé (570-632 d.C.) estejam registradas no Alcorão, sua biografia só foi escrita em 767 d.C., mais de um século depois de sua morte. Portanto, o caso de Jesus não tem paralelo, e é impressionante o quanto podemos aprender sobre ele fora do Novo Testamento... Ainda que não tivéssemos nenhum dos escritos do Novo Testamento e nenhum outro livro cristão, poderíamos ter um prisma nítido do homem que viveu na Judéia no século I. Saberíamos, em primeiro lugar, que Jesus era um professor judeu; segundo, muitas pessoas acreditavam que ele curava e fazia exorcismos; terceiro, algumas acreditavam que ele era o Messias; quarto, ele foi rejeitado pelos líderes judeus; quinto, foi crucificado por ordem de Pöncio Pilatos durante o reinado de Tibério; sexto, apesar de sua morte infame, seus seguidores, que ainda acreditavam que ele estivesse vivo, deixaram a Palestina e se espalharam, assim é que havia muitos deles em Roma por volta de 64 d.C.; sétimo, todo tipo de gente, da cidade e do campo, homens e mulheres, escravos e livres, o adoravam como se ele fosse Deus. Sem dúvida a quantidade de provas corroborativas extrabíblicas é muito grande. Com elas, podemos não somente reconstruir a vida de Jesus sem termos de recorrer à Bíblia como também ter acesso à informação sobre Cristo por meio de um material mais antigo do que os próprios evangelhos. (Adaptado de 7 pg. 113 e 114). Fonte: CACP.
Um grupo de arqueólogos italianos no ano de 1962 descobriram uma inscrição com o nome de Pôncio Pilatos, enquanto retiravam detritos das ruínas de um teatro em Cesaréia, antigo centro do poder Romano.
Pergunte a qualquer historiador/arqueólogo com um mínimo de conhecimento do assunto, se Pilatos, com base no que se tem sobre ele, foi ou não uma personagem histórica!...
E quanto a Jesus?
Jesus não foi uma autoridade civil, para que mandasse construir coisas e colocasse seu nome nas mesmas. Contudo, encontramos registros (mosaicos) de Cristo datados dos séculos II e III d.C. Isto, por si só, já seria muito significativo (dado ao tempo - mínimo - para o tamanho da influência que Jesus exerceu, através da mensagem apostólica, a pessoas moradoras, inclusive, de Roma! Contudo, recentemente, enquanto faziam obras para ampliação da prisão de megiddo, umas das mais bem protegidas de israel, para receber mais presos do hamas, foram encontrados os vestígios do que se acha ser a mais antiga igreja cristã até agora descoberta.
Mosaico cristão achado em Megido (centro-oeste de Israel). Neste mosaico antiquíssimo, talvez do século I, vê-se uma inscriação aludindo ao "Senhor Jesus Cristo" e, ao lado, um símbolo cristão: dois peixes. O peixe não é um símbolo cristão, mas a palavra "peixe". Isto porque, em grego, "peixe" é um acróstico para "Iesous Christos Teou Uios Sotér" ou "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador". Para este mosaico (que é provavelmente do SÉCULO I), com os símbolos, estarem presentes desta forma, aluda à pessoa de Jesus e fazendo claras referências teológicas a ele como "Filho de Deus", não restam dúvidas: Jesus foi uma pessoa histórica!!!
De informações como estas, Religulous não se valeu, convenientemente, é claro. Portanto, muito menos do que um primor do ateísmo pós-moderno, Religulous é minimalista, tendencioso ao extremo, tenta ser engraçado a maior parte do tempo (o que, bem, simplesmente não consegue...), e, apesar de ser ovacionado como uma "nova arma contra Deus", está mais para um ridículous artifício simplório que denigre a própria imagem daqueles que se valem de informações distoridas, não verificadas e convenientemente manipuladas para "provarem" que Deus não existe e que a religião, por conseguinte, não é necessária.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário