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sábado, 10 de outubro de 2009

O paradoxo institucional assembleiano

EU NÃO ENTENDO A ASSEMBLEIA DE DEUS

Há coisas que escapam a compreensão. Não falo "coisas maravilhosas demais", como diz o salmista no Salmo 131. Não falo de uma ciência que não estudei, ou de algo inacessível, inescrutável... longe de mim querer perscrutar o inalcançável. Diante dos modismos, dos "evangelhos heterodoxos", das "teologias" da prosperidade, da confissão positiva, da "regressão" catártica, etc., agente pensa que já viu de tudo, mas não vimos não. Há algum tempo que me questiono (e a alguns colegas, pastores e obreiros) sobre práticas da maior denominação evangélica pentecostal do Brasil (por alguns, tida como neopentecostal): a Assembleia de Deus. No Nordeste, a AD é conhecida pela "rigidez" de muitos usos e costumes característicos. No Sudeste, os vários ´ministérios´ da AD, parecem ser mais flexíveis (em alguns casos). Há situações pitorescas dentro da própria denominação que deixariam perplexos os mais fervorosos neopentecostais adeptos do evangelho da prosperidade, e em igual proporção, aos mais ferrenhos críticos "tradicionais" de quaisquer formas de pentecostalismo. A AD disciplina e exclui membros que visitem ou se relacionem (namorem, noivem ou casem) com membros - observe - de outras igrejas evangélicas! Isto mesmo! Há vários "campos" (setores geográficos) de ação de alguns ministérios dentro da Convenção Geral das Assembleias de Deus que agem exatamente desta maneira, em várias cidades do país, principalmente (como disse) no Nordeste brasileiro.

Contudo, a AD tem-se mostrado uma denominação "camaleão", isto é, com fortíssimo poder de adaptabilidade mediante circunstâncias sócio-político-econômicas. Há alguns anos, a AD convidou o candidato à reeleição presidencial, Fernando Henrique Cardoso, para ocupar um de seus palanques, por ocasião de um megaevento feito em 1997 - o 2º Congresso Mundial das Assembleias de Deus, no Campo de Marte (São Paulo). Observe o que um site de notícias publicou na época:

"(...) Fernando Henrique Cardoso, que em 1985 perdeu votos por se dizer agnóstico, aderiu à ala dos recém-convertidos. Em setembro de 1997, FHC encerrou o 2º Congresso Mundial das Assembléias de Deus, no Campo de Marte (São Paulo), com a saudação dos crentes: "Aleluia!". Dias depois, levou a família para receber a bênção do papa João Paulo II. Nada mau para um sociólogo da Sorbonne... Instalou-se no Brasil, de fato, uma florescente indústria de apoio de pastores evangélicos a candidatos a cargos eletivos. E quem o afirma não pode ser acusado de antievangelismo: Ronaldo Didini, ex-braço direito de Edir Macedo (chefe da Igreja Universal do Reino de Deus), agora pastor da Assembléia de Deus Nipo-Brasileira e candidato do PPB a deputado estadual. Segundo Didini, o apoio político de um pastor evangélico pode ser comprado por até 100.000 reais na época das eleições (Folha de S. Paulo, 7/6/98, página 1-17).

"Sei que um microcandidato pagou cerca de 100.000 vivos (em dinheiro) a um pastor da Assembléia de Deus, que iria fazer a campanha dele. Não teve um voto naquela região. O candidato perdeu a eleição e o pastor está para perder a igreja dele", disse Didini".(Fonte: http://www.geocities.com/realidadebr/rn/mafia/m180603.htm).

Em relação ao apoio a FHC, na época, havia a desculpa de a AD ser uma igreja conservadora (em termos políticos), o que poderia ser alinhado ao referido candidato. Sempre achei complicadíssimo misturarmos liturgia de cultos públicos com politicagens de quaisquer espécies, mas isto é prática em várias denominações evangélicas e na Igreja Católica Romana... todos sabem disso. O que me espanta, atualmente, é a inexplicável (contudo, conveniente) mudança de paradigmas da AD: no último dia 5, conforme matéria do Yahoo, aconteceu o seguinte episódio:

"O jargão dos pastores neopentecostais está na ponta da língua da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). De olho na fatia do eleitorado formada pelos evangélicos, que chega a 15% da população brasileira (aqui a reportagem mostra números equivocados: pelas últimas estatísticas populacionais e religiosas, os evangélicos somam mais de 20% da população brasileiras - grifo nosso), Dilma esforçou-se ontem, em São Paulo, para mostrar afinação com o grupo. Ela cobriu de elogios a Igreja Evangélica Assembleia de Deus e seu presidente, José Wellington Costa, num culto em comemoração ao aniversário do líder religioso, diante de uma plateia de 4 mil fiéis, num templo da capital paulista.

Dilma abriu o discurso de dez minutos saudando os "queridos irmãos e irmãs". "Que a paz do Senhor esteja com vocês", disse, para receber em resposta um uníssono "Amém". O fecho da fala deu-se com uma citação do Evangelho de João: "Vim para que todos tenham vida em abundância." Sem timidez, pediu que os fiéis orassem para que a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva possa "seguir adiante".

Dilma, discursando na IAD. Como uma boa política preparada, não precisou fazer muito esforço para convencer um público de 4.000 pessoas, firmes seguidores de seus líderes. O problema aqui não é a obediência aos líderes... mas o que alguns destes líderes estão fazendo com a obediência do povo a si! Como sinal da boa e conveniente aclamação das palavras da pseudo-cristã Dilma Roussef, o povo brada "amém". É curioso, quando em vários ministérios da AD o mínimo contato com CRENTES de outras igrejas pode ser o motivo de, inclusive, expulsão da instituição!

A ministra aproveitou o altar para fazer propaganda dos símbolos do governo Lula, como o Programa Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família. "No governo Lula, a santa energia flui mais forte. Faz parte do nosso governo a luta pela dignidade. Tiramos mais de 30 milhões de brasileiros da pobreza", disse. "O governo Lula defende os valores cristãos e as crenças morais dos brasileiros".

Piadas de Dilma à parte ("o governo Lula defende os valores cristãos e as crenças morais dos brasileiros"... ora, ora...), esta adaptabilidade interessereira da AD - que, na ocasião do aniversário de seu presidente, houve uma ovação pública de um de seus principais orquestrantes e estrategistas, o Pastor Hidekazu Takayama (PSC-PR) -, é um reflexo dos rumos que estão tomando as vertentes evangelicalistas de nossa nação, inclusive esta que se denomina pentecostal histórica. Como é que boa parte de seus "campos" sequer aceitam quaisquer interações com membros de outras igrejas genuinamente evangélicas, enquanto seus principais líderes estão emprestando O PÚLPITO desta mesma igreja para uma desmoralizada como Dilma... que ainda comete o engodo de afirmar que "o governo Lula defende os valores cristãos"? Dilma, como toda boa política preparada, "canta e dança de acordo com a música", e com uma simples saudação evangelical ("Quero saudar aos irmãos e irmãs com a Paz do Senhor"), ouve um uníssono "Amém" e cai nas graças da liderança da maior igreja pentecostal do Brasil, conhecida por sua rigidez, inflexibilidade quanto aos ´usos e costumes´ em vários de seus campos no Brasil, chegando ao ponto de disciplinar e excluir de seu rol de membros aqueles que tiverem um mínimo contato com crentes de outras denominações.

Parecendo querer tomar para si os (pífios e irrelevantes) auspícios de uma "religião separada", a AD desonra sua história, desonra a memória de seus fundadores, desonra o seu próprio discurso exclusivista, já criticado por boa parte da cristandade evangélica brasileira. Esfacelando-se em meio às tramas e seduções políticas - que até contrariam frontalmente seus principais e públicos interesses -, a AD protagoniza um dos maiores engodos na história do cristianismo no Brasil, e por que não dizer, da América do Sul inteira. Dilma foi guerrilheira, participou de inúmeros crimes contra a Nação, faz parte de um governo que até tem seus méritos no campo social, mas que expurga de sua agenda quaisquer - isso mesmo, quaisquer - indícios de jamais ter sido amigo ou de ter lutado pelos valores familiares e cristãos. Trocando em miúdos: comunhão com cristãos de outras denominações? De forma alguma! Abrir espaço em cultos que são, na verdade megaeventos de demonstração de "força" política, afim de barganharem "um lugar ao sol" na próxima gestão federal? Pode, sem problemas!

Os fundadores da AD no Brasil: o que pensariam dos estranhos rumos institucionais que a AD tem admitido para si?

A partir do momento que permitimos que a nossa prática desonre nossos discursos, é necessário que paremos, reflitamos, contemplemos e ouçamos a voz de Deus nas suas Escrituras, através de palavras que estão lá para fazerem com que pessoas (cristãs), em todas as épocas, não sejam engodadas, enganadas e se surpreendam quando olharem ao redor e raciocinarem que "não há mais verdade ou justiça entre os homens". A Assembleia de Deus do Brasil, infelizmente, é uma das principais protagonistas dos fenômenos que estão levando à extinção do conceito de ética bíblico-cristã, em meio à pós-modernidade. Ambígua, injusta (não institucionalmente, mas em grande parte de seu modus operandi), promotora de discórdias entre as denominações cristãs evangélicas e com ares de uma adaptabilidade política digna de uma cameleão, a AD protagoniza um desses engodos que, com certeza absoluta, pderão "passar" e até permanecerem esquecidos.... mas a "cicatriz", reveladora de mazelas que atitudes paradoxais como esta promovem, permanece.

Todas essas ambiguidades, estas disparidades pragmáticas intrainstitucionais revelam um fato inegável: a AD precisa das orações dos santos... por mais que algumas de seus membros e campos se julguem "mais santos" do que outros.

Em Cristo Jesus,

Pr. Artur Eduardo

PS.: Amo, não somente os assembleianos, mas todos os cristãos, genuinamente comprometidos com Cristo Jesus e com sua Igreja. E isto traduz-se, principalmente, no velho conceito do koinós, da comunhão, conforme nos ensina o livro de Atos (cap. 2), por exemplo. O exemplo de a Igreja ter tudo em comum. A Igreja verdadeira de Deus ultrapassa quaisquer ´barreiras´ denominacionais, e o faz sem perder quaisquer tipos de identificação institucional, isto é, humano-temporal. Esta é uma liçãos que vários e "experientes" líderes da AD precisam aprender, urgentemente.

7 comentários:

Judson Canto disse...

Caro pastor Artur,

Os assembleianos estão indignados com a crescente politização (nunca dissociada da politicagem) que cada vez mais caracteriza a nossa liderança, refletindo, é claro, na denominação. Acho que o que escrevi em meu blog expressa a indignação geral, a julgar pelos comentários:

http://judsoncanto.wordpress.com/2009/10/08/sobre-ovelhas-e-lobos

Abraço.

Unknown disse...

meu caro, infelizmente tenho assistido com muito desgosto esse casamento AD x POLITICOS, sou membro da AD de Alagoas e nossos pulpitos tem sido colocados a favor de assassinos crueis, corruptos, homens mentirosos e amantes do dinheiro,nossa ministra nos "agraciará" com sua visita estes dias... temos candidatos oficiais... e todo rebanho segue atraz, votando naqueles que o clero indica como "iluminados ", estou decpcionada.. enquanto isso: as almas morrem, pastores passam fome nos campos e por outro lado nossos "homens de Deus" assaliarados pela igreja desfilam nos seus vários carros importados,,, é mole ?!?!?

elielgaby disse...

Prezado Pastor.
Como assembleiano concordo com suas colocações.Penso que nossa denominação perdeu seus objetivos há muito tempo.
Vejo porém, que esta prática não ocorre somente na AD. Acompanho bem de perto o movimento tradicional vivendo os mesmos absurdos. O pentecostalismo contemporâneo, disassociado do fenômeno bíblico tem protagonizado cenas pitorescas e absurdas. Não vejo a culpa destas mazelas publicadas aqui como só da AD.
Igrejas de todas as denominações evangélicas de nosso país vivem uma crise de identidade, uma crise ética e uma crise espiritual.

Eliel Gaby

Adonias Soares disse...

Olá pastor, amei esse texto. Posso publicar no meu blog?
Deus o abençoe

Unknown disse...

Olá, Adonias. Pode sim. Peço-lhe, apenas, que cite a fonte. []´s

José Carlos disse...

Vivemos o ocaso do cristianismo bíblico, portanto, ais situações não devem causar espanto.

ailton.linares@hotmail.com disse...

Esta politicagem "evangélica" se alastrou no arraial do povo de Deus. As lideranças escancararam as portas de seus ministérios para os políticos curruptos subirem em seus púlpitos e saldarem os "irmãos" com a "paz do senhor". E o pior de tudo isso, é que o povo ainda diz amém. Será que essa gente não consegue entender que seus líderes estão somente querendo tirar proveito próprio com estas atitudes reprováveis? - Para quem assiste o programa aos Sábados da Assembléia de Deus ministério do Braz, que tem por líder o "engomado" pr. Samuel Ferreira, pode presenciar umas dessas aberrações. Durante o programa (que é pago com o dinheiro dos membros) o dito cujo faz propaganda acintosa de um candidato seu., Inclusive, até gravou um jingle pedindo votos ao seu mui amado companheiro de luta !!! - E os membros ainda dizem amém !!! - Até quando o povo evangélico vai ser levado como gado ao matadouro? - Que Deus nos livre dessa liderança que se instalou, não somente nas Assembléias de Deus, mas em todas as denominações evangélicas. Entretanto, o que nos causa maior indignação é o fato das AD tratarem certos assuntos, como bem disse o pr. Atur, com tanta regidez, e abrirem as portas para que políticos da estirpe de uma Dilma Rousseff, com uma vasta ficha criminal, subirem em seus púlpitos e fazer de conta que amam os evangélicos. Vamos acordar minha gente, estão nos vendendo por trinta moedas.

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