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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Avanço no neopentecostalismo da IURD na África gera polêmicas

EM MOÇAMBIQUE, IURD É CHAMADA DE "IGREJA DE LADRÕES"


Riqueza da Universal tem levado alguns
crentes à bancarrota, diz The Revealer
Em nenhum outro lugar a Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) encontrou mais sucesso do que na África lusófona. O sucesso em Angola e Moçambique, onde a Igreja enche estádios com mais de 40 mil pessoas — entre elas vários ministros — deve-se à língua comum e a um império mediático poderoso, afirma o diário de assuntos religiosos The Revealer.

Há cerca de uma década presente em Portugal, Angola e Moçambique, a Iurd tem sido foco das atenções angolanas depois do incidente ocorrido a 31 de dezembro de 2012, em Luanda, onde morreram 16 pessoas por asfixia e esmagamento e perto de 120 ficaram feridas. A “Vigília do Dia do Fim” concentrou dezenas de milhares de pessoas que ultrapassaram, em muito, a lotação autorizada do Estádio da Cidadela.

O governo angolano suspendeu por 60 dias as atividades da Universal, mas esta semana levantou a suspensão da Igreja de origem brasileira, que tem vindo a expandir-se para países em desenvolvimento. Hoje, conta com cerca de 12 milhões de seguidores em 150 países. “Muita da popularidade da Igreja em Moçambique e Angola pode ser atribuída à língua comum, o português, que tornou os missionários muito mais eficazes do que seriam em zonas anglófonas ou francófonas de África”, refere o artigo “Milagres a Pedido”, do jornalista Rowan Moore Gerety.

Além disso, em Moçambique a Iurd tem se beneficiado de uma “mais vasta afinidade cultural em Moçambique, que se estende ao uso dos media e mesmo ao seu posicionamento em relação às religiões tradicionais”, refere o artigo, um dos mais detalhados escritos até hoje sobre a presença da igreja nos países lusófonos. Em Moçambique, a IURD detém a TV Miramar, uma “newsletter” com circulação equivalente à dos principais diários e ainda uma rede de rádios locais. Na Iurd, adianta, a “teologia da prosperidade” vai ao ponto em que “Deus compensa o sacrifício financeiro como medida da fé: quanto mais dinheiro se dá, mais fé se tem; quanto mais fé se tem, mais bênçãos se vai receber. Doe à Igreja Universal, pregam os pastores da Igreja, e tudo é possível: riqueza, felicidade, liberdade das doenças”.

Esta mensagem encontra terreno particularmente fértil em países como Moçambique, com baixos rendimentos, esperança média de vida reduzida (cerca de 50 anos), e prevalência da medicina tradicional. “É um ambiente onde as promessas da Igreja de saúde e riqueza — muitas vezes complementadas com óleos sagrados, amuletos e outros objetos reminiscentes dos curandeiros moçambicanos – têm florescido”. “Mas em Moçambique, tal como noutros lados, o credo da Universal tem levado à bancarrota alguns dos seus crentes. Os fiéis têm deixado chaves de carros, títulos de propriedade e salários completos no altar, na esperança de alcançar um milagre prometido, apenas para abandonar a Igreja meses ou anos depois sentindo-se enganados”, refere o artigo do Revealer.

O fundador da Universal, Edir Macedo, foi detido no Brasil acusado de charlatanismo, investigado por evasão fiscal nos Estados Unidos. Na Bélgica, um relatório parlamentar classificou a Igreja como seita. Em Moçambique, alguns referem-se à Iurd como “Igreja dos Ladrões”. Muitos sectores no partido no poder, FRELIMO, olham para a Igreja com desconfiança. Mas também não faltam apoios à Iurd ao mais alto nível. Num grande evento no final de 2011, que terá juntado mais de meio milhão de pessoas em todo o país, participaram o primeiro-ministro, Aires Ali, o ministro da Justiça e o ministro dos Desportos e Cultura, relata o The Revealer.

Numa entrevista ao site Pambazuka News, o acadêmico angolano Celso Malavoneke acusou a Iurd de ser apenas “uma boa empresa”, que “persegue o lucro”. Por duas vezes, a Iurd apresentou uma queixa contra Malavoneke, e o professor chegou a ser considerado culpado pela justiça angolana.

Fonte: Paulo Lopes

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