Por Michelson Borges
Adaptado por Artur Eduardo
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Você acha que o big bang é uma teoria plausível?
Antes de responder, me parece importante mencionar um aspecto importante da divulgação de informações sobre ciência.
É importante ter em mente que a intuição humana (incluindo a Filosofia) é extremamente inadequada para lidar propriamente com as leis físicas. Felizmente, isso não se aplica a métodos matemáticos, cuja origem não é humana, embora os símbolos sejam inventados. Assim, várias coisas que eu digo sobre ciência podem parecer inconsistentes ou até absurdas, à primeira vista, (incluindo o que acabei de falar sobre Matemática) pois procuro ajustar a visão filosófica às evidências físicas e suas conseqüências matemáticas, e não ao que parece “razoável” à intuição humana.
Muitas pessoas, ao saber que a probabilidade de determinada hipótese é de “apenas” 99%, optam por uma hipótese concorrente que lhes parece mais razoável. Muito freqüentemente, porém, essa tal “hipótese mais razoável” possui uma probabilidade muito baixa (digamos, 1%), só que sua medida não é amplamente conhecida.
Quando utilizamos o método científico genuíno (não aquela versão descaracterizada que vemos nos livros didáticos), podemos descobrir e corrigir esses equívocos. Um dos aspectos mais fundamentais e menos reconhecidos do método científico é sua base matemática. Teorias científicas são estruturas matemáticas que satisfazem a certos critérios. Muitos, ao ouvirem explicações, motivações ou resultados de uma teoria, confundem essas coisas com a teoria em si.
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Vou tentar dar uma idéia do que se trata. Existe um teorema da geometria conhecido pelo nome de “identidades de Bianchi”. Esse teorema, quando combinado com a lei da conservação de energia (primeira lei da Termodinâmica) gera uma equação que constitui a pedra angular da Relatividade Geral.
Como qualquer equação que representa leis físicas, essa descreve uma infinidade de comportamentos possíveis (um para cada situação possível), chamados de soluções da equação. Basicamente, podemos “perguntar” à equação o que acontece em uma dada situação, e ela “responde” com uma de suas soluções. Ao aplicarmos essa equação ao Universo como um todo, podemos ver quais tipos de cosmologias são viáveis e quais tipos são inviáveis, em termos de compatibilidade com a equação.
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A própria equação que gera essas soluções só é válida até muito próxima ao instante inicial, mas não pode tocar nele e dizer exatamente como o Universo foi criado. Então, a resposta à sua pergunta, do ponto de vista físico, é: “Sim, o big bang é razoável, mas com uma ressalva quanto ao uso da palavra ‘teoria’, que é questionável nesse caso.”
Como relacionar tudo isso com a doutrina da Criação como exposta na Bíblia?
Primeiramente, é interessante notar que a Relatividade Geral é bem aceita entre criacionistas que têm algum conhecimento dessa área.
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Como Deus criou o Universo? A Bíblia não diz. Apenas comenta que foi pela Sua Palavra (por meio do Logos) que Ele ordenou e logo tudo apareceu. Isso significa que houve apenas uma fase da criação, que absolutamente tudo foi criado instantaneamente? Obviamente não. Isso seria incompatível até mesmo com Gênesis 1 sozinho, mesmo sem o auxílio de outras passagens. Significa que Deus criou o Universo já grande, plenamente expandido? De forma nenhuma.
Por outro lado, Cristo é chamado de Pai da Eternidade ou Pai Eterno (Isaías 9:6) . Comparando com outras afirmações bíblicas associadas, vemos indicações de Deus existindo além do espaço-tempo. Quando falamos em início do Universo, no contexto físico, estamos falando em início do espaço e do tempo, não só da matéria (até porque matéria e espaço-tempo são interdependentes). A passagem da não-existência do espaço-tempo para a existência dessa estrutura parece ter sua forma mais simples se essa origem ocorrer em algo parecido com uma singularidade (concentração que parece “infinita”), com posterior expansão. As leis físicas mostram que o Universo funciona de maneira otimizada (princípio de Hamilton). Teologicamente, isso significa que Deus sempre age da forma mais eficiente possível, adotando a solução mais simples para cada objetivo.
Então, do ponto de vista teológico, levando em conta Bíblia e as evidências físicas, o cenário do big bang é uma possibilidade mais do que razoável.
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Respondo com outra pergunta: O que isso tem a ver com o big bang? Intrinsecamente, nada. Indiretamente, isso afeta hipóteses sobre mecanismos de formação de galáxias que pretendem estar em harmonia com o cenário do big bang, porém, não lhe servem de fundamento. Mas existem confusões ainda maiores: há quem chegue a misturar idéias sobre a origem da vida com a do big bang. Lamentável!
Outro detalhe: as estimativas sobre a idade do Universo são muito mais frágeis do que muitos pensam. Existem modelos com altíssima probabilidade de serem adequados, mas também existem modelos frágeis ou até bastante limitados em termos de consistência. Infelizmente, o público leigo dificilmente recebe informações para poder perceber a diferença.
O que você acha da teoria dos multiversos ou universos paralelos? Não seria uma tentativa de escapar à conclusão aparentemente lógica de que o Universo teve um começo?
Realmente, existem muitas tentativas de fugir de cenários nos quais o Universo teve uma origem. Quanto a idéias de multiversos, existem vários indícios no mundo físico que apontam para a existência de “universos paralelos”. Eles aparecem em vários contextos, na verdade. Alguns desses contextos são bastante atraentes para o estudioso da Bíblia.
Existem também os casos de mera especulação, sem qualquer apoio de evidências, aparentemente motivados somente pela aversão à idéia de o Universo ter tido um início, como é o caso do ponto de origem no big bang.
De que forma os universos paralelos podem ser atraentes para o estudioso da Bíblia?
Primeiramente, a Bíblia não se preocupa em explicar fenômenos físicos, embora ela ensine que devemos estudar o mundo físico até para entender melhor temas teológicos. A título de exemplo, notemos a discussão de Jó e seus amigos sobre a justiça de Deus e a forma como Deus aparece no capítulo 38, comentando que eles falavam sem conhecimento de causa, e que deveriam observar o mundo físico para aprender mais sobre o Criador. Voltando ao foco: a Bíblia concentra-se em informações de mais alto nível, do tipo, “Por que Deus permite o sofrimento, em que contexto maior isso se encaixa e qual a solução?”. Ela fornece detalhes históricos passados, presentes e futuros, indicando sua relevância no contexto geral e qual deve ser nosso papel nesses eventos. Isso, por si só, já deveria despertar a curiosidade para que se fizessem pesquisas científicas a respeito.
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Outro conceito interessante é o de “regiões celestes”. Muitas pessoas, que crêem na Bíblia e acreditam em anjos e demônios, pensam nessas entidades como seres etéreos, feitos de “energia pura” (isso não existe, diga-se de passagem). Essas entidades seriam invisíveis e intangíveis, podendo atravessar paredes, por exemplo. Porém, observando com mais atenção os textos bíblicos, não bem é isso o que encontramos.
Para encurtar a história, o contexto geral sugere que este universo teria diferentes camadas capazes de comunicar-se entre si em condições adequadas. Essas camadas funcionariam como se fossem universos paralelos, mas na verdade seriam parte deste universo. Objetos e pessoas poderiam, em princípio, passar de uma camada para outra, mas não espontaneamente. Alguém com acesso a uma tecnologia para mover-se de uma camada para outra poderia entrar e sair de lugares “fechados” (pareceria ter atravessado paredes) e ficar invisível.
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Podemos usar essas leis ao estudar as evidências. Conforme mencionei, um dos dois princípios que geram a equação que aponta para o início e expansão do Universo (big bang, representação ao lado) é justamente a primeira lei da Termodinâmica. Esse cenário de Universo em expansão é extremamente favorável a que a segunda lei da Termodinâmica permita a existência de um Universo habitável.
É bastante estranho ver criacionistas combatendo essas idéias e às vezes até tentando propor modelos alternativos que acabariam implicando em um universo eterno.
Algumas reportagens sobre experimentos com o acelerador de partículas LHC (foto, abaixo) afirmaram que se a tal “partícula de Deus” (bóson de Higgs) não for descoberta terão que reformular a física. Isso é verdade?
A imprensa tem feito um péssimo trabalho ao divulgar informações sobre esses assuntos. Suspeito que isso possa até ter sido estimulado por alguns físicos que queriam fazer propaganda de seu trabalho, mas as distorções que se observam são impressionantes: nenhum físico, por mais sensacionalista que seja, deve ter dito a maioria do que se alardeia por aí. Há muitos erros grosseiros. Falta revisão. Você já alertou seus leitores para as aberrações que aparecem em reportagens sobre a Bíblia, Cristo e assuntos correlatos em certos meios de comunicação, como a revista Veja, Superinteressante, Isto É, etc. O mesmo tipo de coisa que eles fazem com a Bíblia, fazem também com a ciência. Distorção total.
A própria expressão “partícula Deus” é totalmente descabida e desconectada de qualquer sentido.
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A partícula que muitos estão esperando encontrar no LHC é um bóson em particular chamado de bóson de Higgs. De acordo com um os modelos mas aceitos para classificar partículas e prever seu comportamento (especialmente no contexto do chamado Modelo Padrão da Física de Partículas), esse tipo de partícula seria responsável pelo fato de que as demais partículas têm massa.
Além disso, segundo algumas estimativas, essa partícula tem uma boa chance de ser detectada em experimentos envolvendo energias em uma faixa acessível ao LHC. E essa partícula, prevista teoricamente, é uma espécie de última peça do quebra-cabeça de uma área bastante importante. Por isso os físicos estão excitados.
Infelizmente, para justificar os investimentos, vários físicos adotam a postura de anunciar que essa ou aquela descoberta vai revolucionar completamente tudo o que se sabe sobre X ou Y. Isso é conversa para os órgãos financiadores, para a imprensa e para os pobres filósofos da ciência seguidores de Kuhn(*). As coisas nunca funcionaram assim e não vão começar a funcionar assim agora. Os modelos em questão já funcionam bem para seus propósitos e nada pode tirar isso deles.
Teoremas e teorias testados e funcionais não perdem validade. A teoria da Mecânica de Newton sempre permanecerá válida, pois foi devidamente testada. Isso não significa que os postulados newtonianos sejam verdades absolutas, mas significa que o modelo matemático correspondentes fornece resultados adequados em seu domínio de validade.
Novas teorias apenas ampliam as fronteiras, não podem invalidar as anteriores. Se você tem lido algo diferente disso, precisa reavaliar suas fontes sobre o funcionamento da ciência. Provavelmente essas fontes estão misturando ciência verdadeira com falsa e muito provavelmente confundindo filosofia da ciência com ciência. A última é confiável. Já a filosofia da ciência tem sido um poderoso instrumento de desinformação e, ainda assim, é a principal fonte de informação sobre ciência para não-cientistas.
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Por uma questão de romantismo ou propaganda, muitos físicos parecem gostar de pensar nesses eventos como surpresas que jogam por terra o que se pensava saber sobre Física, mas o fato é que essas “surpresas” geralmente são esperadas. Por exemplo, o caso das dimensões extras fazendo “desaparecer” alguns fenômenos esperados e fazendo “aparecer” outros foi previsto teoricamente (ex.: http://www.arxiv.org/abs/hep-ph/0605062v3). O que acontece é que esses experimentos servem para tirar dúvidas (ex.: quantas dimensões extras existem?), testar os limites das teorias atuais e obter informações para a elaboração de teorias com domínio de validade ainda maior.
Fonte: Criacionismo
NOTA: (*) Thomas Khun foi um físico americano que escreveu e teorizou sobre a história da ciência. Seu trabalho mais conhecido é "A Estrutura das Revoluções Científicas", no qual ele populariza os conceitos, em ciência, de paradigmas e novos paradigmas. Seu livro tornou-se um marco literário no estudo do processo do desenvolvimento científico.
Algumas fotos são do telescópio espacial Hubble.
Bem, a entrevista do físico Eduardo, ao meu ve, é bastante elucidativa e pertinente. Esta questão de mais dimensões do que as 4 conhecidas (as 3 do espaço mais o tempo) é especulação hipotética, e nada mais. Na verdade, apesar de serem conhecidos e até ´previsíveis´, o mundo sub-atômico é, ainda, um grande mistério para os cientistas. Teorizar no campo do insólito, com alguma coerência, não é tarefa fácil, e todas as evidências devem ser consideradas. Discordo, um pouco, da forma como o acadêmico aborda a filosofia da ciência. Estabelecer padrões é algo inato ao homem. Mesmo que, em última análise, isto não faça muito sentido, sempre tentamos estabalecer padrões para a História (não tem muito sentido pois a História não terminou... assim, estabelecer padrões para a História é impossível). Khun observou bem, em se tratando de história da ciência, que observamos sempre um processo de surgimento e estabelecimento de paradigmas, contestação, quebra destes paradigmas e surgimento de outros novos. Não podemos dizer que será assim, sempre, mas que sempre tem sido desta maneira. Logo, a filosofia da ciência é algo importantíssimo, pois questões metacientíficas precisam ser levadas em consideração, pois a própria História testifica de eventuais momentos em que motivações fora do parâmetro puramente científico interferiram na condução correta do estabelecimento de paradigmas (vide o conceito de ´Eugenia´, presente em boa parte da Europa, no fim do século XIX). Uma análise filosófica das motivações presentes em todos os ´avanços´ científicos é sempre bem vinda, desde que esta análise não seja uma forma de validação ou refutação deste modelo, usando-se o próprio modelo, ou uma petição de princípio filosófica.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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