JUVENTUDE SEM ESPERANÇA NA GROENLÂNDIA
Reportagem do ´Le Monde´
Adaptado por Artur Eduardo
Cena de rotina nesta noite de inverno em Ilulissat, uma cidade de 4.500 habitantes cercada de icebergs a algumas centenas de quilômetros além do círculo polar, na costa oeste da Groenlândia. Gideon Quist, um policial da etnia inuit, patrulha no volante de seu carro o bairro de Naleraq, uma das áreas problemáticas da cidade, onde moram essencialmente pescadores e caçadores de focas. Quist intervém com frequência em casos de violência doméstica por causa do álcool, um dos flagelos da Groenlândia. O frio é seco, 25 graus negativos.
A violência faz parte do cotidiano na Groenlândia e afeta profundamente as famílias. Hoje é dia de pagamento. Quist faz a ronda dos dois bares e da discoteca Murphy, que estão tranquilos. A aurora boreal verde que corta o céu o deixa indiferente. Antes de chegar aqui ele passou dois anos em Upernavik, mais ao norte, uma cidadezinha de 1.200 habitantes. "Houve uma epidemia de suicídios, 17 jovens em um ano, entre 15 e 21 anos, principalmente rapazes - uma hecatombe para uma cidade pequena como essa. Jovens que se sentiam presos nesse lugar sem futuro", ele diz. Na Groenlândia, nenhuma estrada liga as poucas dezenas de cidades e aldeias espalhadas por uma costa imensa, de relevo acidentado.
Rasmus, um motorista de táxi de 35 anos que encontramos em Nuuk, a capital de 15 mil habitantes situada mais ao sul, quis se suicidar quando tinha cerca de 15 anos. Ele estava cansado de ver o pai espancar sua mãe. Tédio do impasse. Levado por um de seus irmãos, ele se tornou vendedor de haxixe, negócio lucrativo na Groenlândia, onde o preço é dez vezes maior que na Dinamarca. "Com meu bando destruí muitas famílias", ele confessa. "As pessoas nos pediam dinheiro emprestado e não podiam reembolsar. Então íamos à casa delas, ameaçávamos e pegávamos tudo.". Isso ficou para trás. Ele fala do assunto abertamente, com vergonha e alívio ao mesmo tempo. É o que acontece na Groenlândia, 56 mil habitantes, território autônomo pertencente à Dinamarca, apesar de cada vez mais afastada depois do referendo de 25 de novembro de 2008 sobre a autonomia ampliada, que abre o caminho para a independência.
Na biblioteca no centro cultural de Nuuk, em todo lugar onde os jovens podem passar, há cartazes e folhetos sobre os direitos das crianças ou campanhas de prevenção do suicídio. Um terço dos jovens groenlandeses e 10% dos meninos foram vítimas de abusos sexuais. As proporções são as mesmas quando se trata de tentativas de suicídio. Três vezes mais altas que na Dinamarca. Muitos problemas têm origem nos anos 1950 e 60, época em que a Dinamarca trouxe o Estado assistencialista para a Groenlândia. Essa modernização se traduziu em uma política de concentração dos habitantes das aldeias mais dispersas. Estas foram esvaziadas e as populações, retiradas de seu modo de vida tradicional.
Mas, como constata a socióloga dinamarquesa Lill Rastad Bjørst em "Um outro mundo - Preconceitos e estereótipos sobre a Groenlândia e o Ártico", publicado em 2008, os groenlandeses, vítimas do que foi descrito como um "orientalismo esquimó", enfrentam um dilema: "O passado foi tão romantizado e estereotipado que hoje é quase tão exótico para os groenlandeses quanto para os dinamarqueses". Daí, segundo ela, a dificuldade "para se identificar como inuit e ao mesmo tempo viver no mundo moderno".
A psicóloga Kirsten Ørgaard abriu em março de 2006 o Maelkebøtten (o "Agrião"), um centro de abrigo para crianças e adolescentes, ao lado do pequeno mercado de Nuuk, onde pescadores e caçadores vêm beber e vender suas presas do dia. O centro é a prova de que a Groenlândia começa a enfrentar seus problemas sociais que por muito tempo foram tabus. No térreo, crianças brincam. Vieram buscar refúgio, escapar da solidão ou da rua, aonde os conflitos familiares os atiram. No primeiro andar, quartos abrigam às vezes durante meses jovens que fogem de pais desorientados. "Na Groenlândia os problemas são mais visíveis, porque a sociedade é reduzida", explica Ørgaard. "Houve diversos problemas sociais desde os anos 1950. Muitas pessoas cresceram com traumas, por falta de pessoal formado."
Essa falta de formação é o calcanhar-de-aquiles da Groenlândia, assim como as opções da classe política no poder. A grande ilha ainda recebe 430 milhões de euros por ano em ajuda da Dinamarca. "A única solução é cortar esse laço com a Dinamarca", opina Per Rosing-Petersen, deputado do Siumut, partido social-democrata e nacionalista no poder. "Pois essa ligação nos mantém na idéia de que somos incapazes de sobreviver por nossos próprios meios."
"Temos um governo autônomo desde 1979, portanto é preciso passar para outra coisa em vez de sempre colocar nossos problemas nas costas da colonização", afirma Malik Milfeldt, um jovem groenlandês responsável pelo departamento nacional de turismo, representante da parte da população educada, ainda minoritária, mas que quer progredir. Os groenlandeses estão cansados de escândalos, dos altos salários dos políticos, dos apartamentos financiados pelo governo. "Precisamos de juristas, policiais e engenheiros." A estrada ainda será longa.
Fonte: Uol
NOTA: Sem uma infraestrutura mínima como estes social-democratas querem ´cortar´ os laços com a Dinamarca? Não seriam melhor a canalização dos recursos para a provisão daquilo que a Groenlândia mais precisa em termos de estrutura de Estado? Como um Estado pode funcionar sem as condições para tal? As revoluções e emancipações que assim agiram produziram nações cujos recursos são medíocres, nas quais imperam o assistencialismo totalistarista, uma indústria pífia (mesmo no caso de países com excepcionais recursos naturais) e inflações galopantes. O groenlandenses precisam, e muito, do despertar do Evangelho de Cristo Jesus. As entidades missionárias precisam se voltar a tais regiões da Europa nas quais o descaso cobrou seu preço social: Miséria humana evidenciada nos piores casos. Enquanto não houver esta ´revolução´ necessária a sociedade groenlandense tende a sofrer sem perspectiva real de mudança.
Em Cristo Jesus,
Pr. Artur Eduardo
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